PUBLICIDADE

Lava Jato

Prisão de Bumlai reforça tese de que alvo de Moro é Lula

25 nov 2015 - 19h19
Compartilhar
Exibir comentários

A prisão do pecuarista José Carlos Bumlai nesta terça-feira (24) é o sinal mais eloquente, até agora, de que a Operação Lava Jato, conduzida pelo juiz Sérgio Moro, mira o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Amigo de Lula e com livre acesso ao Palácio do Planalto, durante os anos em que o ex-sindicalista o ocupou, Bumlai é acusado de participar de fraude envolvendo o contrato de um navio-sonda. “É uma pancada muito forte no governo e no Lula”, afirma o cientista político Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice.

“Isso mostra que a Polícia Federal e Moro caminham com muita certeza rumo a Lula”, acrescenta. “Há tempos, eles tentam chegar ao círculo íntimo do ex-presidente.” O próprio nome da 21ª fase da Lava Jato, “Passe Livre”, é visto como uma referência irônica às portas abertas de Bumlai no centro do poder, em Brasília, na era Lula.

É verdade que Moro adotou a postura mais cautelosa possível, ao declarar que “não há nenhuma prova de que o ex-presidente da República estivesse de fato envolvido nesses ilícitos”, e colocou na conta de Bumlai o fato de invocar o nome de Lula “indevidamente” para “obstruir ou para interferir na investigação ou na instrução”.

Ainda é cedo para saber se Bumlai, de fato, dirá algo capaz de envolver o ex-presidente, que vive, cada vez mais, uma situação de gato-e-rato com Moro. Segundo Aragão, o juiz paranaense tem sido muito cuidadoso em seus movimentos, justamente porque sabe que lida com fatos capazes de envolver um dos líderes mais carismáticos da história brasileira, que conta com uma base própria de seguidores, entre as camadas mais pobres da população, e tem o apoio do PT, um partido que sangra em praça pública, mas que não está morto.

“É preciso ter o dobro de certeza para se prender alguém como Lula”, diz Aragão. “O que basta para prender um Dirceu [José Dirceu, ex-chefe da Casa Civil de Lula] ou um Bumlai não é suficiente para alcançá-lo”, completa. Isto porque não pode haver margem de dúvida em relação às provas de um eventual envolvimento do ex-presidente no esquema de corrupção investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, com a coordenação de Moro.

Decisão solitária

Além disso, há um fator imponderável: não se sabe se Bumlai aceitará um acordo de delação premiada. Há quem aposte que, se permanecer detido por tempo suficiente, o empresário concorde em contar o que sabe, em troca de benefícios judiciais. Isto porque o pecuarista é considerado, muito mais, um amigo pessoal de Lula, do que um “soldado do PT”, ou seja, um militante tão comprometido com o partido que seria capaz de sofrer calado, como Dirceu e o ex-tesoureiro João Vaccari Neto, também preso pela Polícia Federal.

Por outro lado, não se conhecem os eventuais acordos de bastidores entre Bumlai e outros citados pela Lava Jato. Em suma: a política brasileira está, cada vez mais, descolada de uma agenda racional, baseada em programas partidários ou no comportamento eleitoral de camadas sociais, para ser ditada por decisões subjetivas de indivíduos pressionados pelo maior escândalo de corrupção da história nacional.

“Estamos à mercê de personagens que farão de tudo para sobreviver”, observa Aragão. Para apimentar ainda mais o enredo, os envolvidos não contam mais com a certeza de que gozarão da proteção de seus supostos cúmplices no poder público. Para corruptos e corruptores, essa foi a maior e mais traumatizante lição do escândalo anterior de corrupção, o mensalão. A ex-presidente do Banco Rural, Kátia Rabello, e o publicitário Marcos Valério são exemplos daquela época. A lição é repassada agora, com a prisão de empresários considerados, antes, intocáveis, como Marcelo Odebrecht, do Grupo Odebrecht, e Otávio de Azevedo, da Andrade Gutierrez.

O Financista Todos os direitos reservados
Compartilhar
Publicidade
Publicidade