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Lava Jato

Conheça João Santana e as acusações que pesam sobre ele

22 fev 2016 - 19h37
(atualizado em 23/2/2016 às 08h24)
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O marqueteiro João Santana e sua mulher tiveram prisão decretada nesta segunda-feira em uma fase da operação Lava Jato
O marqueteiro João Santana e sua mulher tiveram prisão decretada nesta segunda-feira em uma fase da operação Lava Jato
Foto: Agencia Brasil

Responsável pelas campanhas da presidente Dilma Rousseff (2010 e 2014) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2006), o marqueteiro João Santana e sua mulher e sócia, a jornalista Mônica Moura, tiveram prisão decretada nesta segunda-feira dentro da operação Lava Jato, que investiga crimes de corrupção, distribuição de propina e lavagem de dinheiro envolvendo empresas públicas, empresários, políticos e partidos brasileiros.

Santana e Mônica não foram presos porque estão na República Dominicana, onde fazem a campanha à reeleição do presidente Danilo Medina. A Justiça promoveu ainda bloqueio de bens de Santana.

Segundo a Polícia Federal, o marqueteiro é acusado de ter recebido, através de offshores, US$ 7 milhões da Odebrecht e de um suposto operador de propinas, preso pela manhã. O mandado é de prisão temporária, cuja validade é de cinco dias podendo ser renovada por mais cinco dias ou ampliada para prisão temporária ou preventiva caso a Justiça considere necessário.

Denominada “Acarajé”, termo que, segundo a PF, os suspeitos usavam para se referir a dinheiro, a operação expediu mais de 50 mandados entre ordens de prisão, busca e apreensão nos Estados da Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro.

Na Bahia, houve buscas em Salvador, onde o publicitário tem residência na região nobre do Corredor da Vitória, de frente para o mar. Já preso, o dono da construtora, Marcelo Odebrecht, também teve prisão decretada e terá de prestar novo depoimento em Curitiba, onde o juiz Sérgio Moro preside o processo. A operação envolveu 300 policiais federais.

República Dominicana

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o operador financeiro Zwi Skornicki é investigado pela Lava Jato por ser um dos operadores de propinas a diretores e altos funcionários da Petrobras e empresas ligadas ao esquema de corrupção.

Entre 25 de setembro de 2013 a 4 de novembro de 2014, há evidências de que Zwi teria transferido U$ 4,5 milhões a uma conta do publicitário, em nome da offshore panamenha Shellbill Finance SA, que não foi declarada às autoridades brasileiras.

Já a Odebrecht teria transferido U$ 3 milhões por meio de duas offshores controladas pela construtora no Exterior (Klienfeld e Innovation) para a Shellbill. Os pagamentos foram feitos entre abril de 2012 e março de 2013. Para o MPF, os recursos repassados a Santana beneficiaram o Partido dos Trabalhadores.

Os advogados de João Santana e de Mônica Moura ingressaram com um documento junto à 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba informando que o casal retornará ao Brasil nas próximas horas para se apresentar às autoridades.

“Ambos se encontram no exterior a trabalho na República Dominicana, onde prestam serviços de marketing para o candidato à reeleição à Presidência naquele país, Danilo Medina”. Segundo o advogado Fábio Tofic, o documento foi encaminhado ao juiz Sérgio Moro.

“Os peticionários tomaram conhecimento, na manhã de hoje (segunda-feira), pelos meios de comunicação, de que foram alvo de fase ostensiva da operação Lava Jato”, diz a petição, que continua afirmando confiar “que serão tomadas todas as medidas para que sua chegada ao país não se transforme em um odioso espetáculo público”.

João Santana (à esquerda de Lula, em foto de 2014, em Brasília) ajudou a eleger cinco presidentes de esquerda na América Latina
João Santana (à esquerda de Lula, em foto de 2014, em Brasília) ajudou a eleger cinco presidentes de esquerda na América Latina
Foto: Ricardo Stuckert Instituto Lula

A Odebrecht divulgou nota confirmando que houve buscas e apreensão da Polícia Federal em escritórios do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia. “As equipes da polícia obtiveram todo auxílio da Odebrecht para o cumprimento dos mandatos. A organização permanece à disposição das autoridades para colaborar, sempre que necessário”, afirma a construtora.

O PT ainda não se manifestou sobre o assunto.

O baiano João Santana é jornalista mas não gosta de dar entrevistas. No entanto, é vaidoso e não esconde as boas relações com o poder. Com 1,60 m, é considerado um gigante do marketing político. Pela América Latina e África, elegeu seis presidentes. Na República Dominicana, onde ficou sabendo que teve prisão temporária decretada, tenta reeleger Danilo Medina, a quem já garantira a vitória em 2012.

Em 2006, Santana ajudou Lula a garantir a reeleição. Elegeu Dilma em 2010, que até então tinha pouca projeção política. Na campanha de reeleição, em 2014, o marqueteiro foi acusado de maquiar a realidade econômica do país.

As campanhas de João Santana têm como características o uso de muitos cenários, figurantes e atores, o que encarece bastante suas produções. O marqueteiro não costuma destacar o vermelho do partido - para minimizar a rejeição de parte do eleitorado -, o que sempre irrita as alas mais radicais da legenda.

Quando a disputa se acirra, Santana é conhecido por campanhas de tom agressivo. A essa agressividade é creditada a derrota da senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), em 2008, à prefeitura de São Paulo.

Naquela época petista de carteirinha e coração, Marta perdeu votos e aliados ao acusar o prefeito Gilberto Kassab em seu programa de TV lançado dúvidas sobre sua vida pessoal: “É casado? Tem filhos?”. Kassab foi reeleito. Em São Paulo, Santana só se redimiu com o PT local quando elegeu Fernando Haddad em 2012.

Em 2014, a polêmica foi com Marina Silva. A ex-petista não gostou da condução dos ataques da campanha do partido que havia ajudado a criar.

Defesa

Em conversa com jornalistas em Brasília, onde apresentou o programa de TV que vai ao ar nos próximos dias, o presidente do PT, Rui Falcão, voltou a afirmar que todas as doações da campanha da presidente Dilma Rousseff foram legais e declaradas à Justiça Eleitoral. Falcão afirmou ainda que Santana não pode ser considerado “marqueteiro do PT” e que a denúncia “não diz nada” sobre o partido.

“Continuo defendendo direitos fundamentais de que as pessoas são inocentes até que se prove o contrário”, disse Falcão, que emendou: “O PT não tem marqueteiro, contrata as pessoas pessoas para fazerem os programas (de TV)”. João Santana não é mais o publicitário responsável pelo horário político da legenda. Neste ano, o marketing está por conta de outro baiano, o dono da Link Propaganda, Edson Barbosa, que já socorreu o PT durante a crise do mensalão, em 2006.

Em seu balanço das buscas e apreensões, a PF afirmou ter apreendido carros de luxo, uma lancha e R$ 300 mil em reais e moedas estrangeiras.

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