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Julgamento do Mensalão

Romeu Queiroz: nunca recebi dinheiro algum para apoiar governo

31 jul 2012 - 21h35
(atualizado às 21h36)
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LUCAS ROHÃN

O ex-deputado federal Romeu Queiroz (PSD), acusado pelo Ministério Público (MP) pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no escândalo do mensalão, afirmou que está tranquilo às vésperas do julgamento dos 38 réus do processo. "Enquanto eu estive lá (na Câmara dos Deputados), nunca recebi dinheiro algum pra apoiar o governo", disse o empresário mineiro de 63 anos.

O ex-deputado federal Romeu Queiroz responde por corrupção passiva e lavagem de dinheiro
O ex-deputado federal Romeu Queiroz responde por corrupção passiva e lavagem de dinheiro
Foto: Wilson Dias / Agência Brasil

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Em 2007, o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou denúncia contra 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. No relatório da denúncia, o ministro Joaquim Barbosa apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.

Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e do irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.

O MP acusa Romeu Queiroz de intermediar a transferência de recursos sem origem comprovada entre a agência de publicidade SMP&B, de Marcos Valério, e o PTB, seu partido na época. Em entrevista ao Terra, ele admite que intermediou essa transação. Mas, na defesa de 15 páginas entregue ao STF, os advogados de Romeu Queiroz alegam que ele agiu "na condição de 2º Secretário da Executiva Nacional e Presidente Estadual em Minas Gerais da sigla PTB, e não no exercício de atividade parlamentar".

No documento, os advogados Ronaldo Garcia Dias e Flávia Gonçalves de Queiroz afirmam que o dinheiro sacado pelo assessor do ex-deputado foi entregue ao PTB nacional e teve "origem e destino inquestionáveis". Confira a íntegra da entrevista:

Terra - Qual a sua expectativa para o julgamento que começa no dia 2 de agosto?

Romeu Queiroz - Estou ansioso que passe logo esse julgamento porque é uma coisa que pesa muito em cima da minha família e isso vem perdurando desde 2007. Então, minha expectativa é que julgue logo e acabe com essa história. Pelo menos enquanto eu estive lá, nunca recebi dinheiro algum pra apoiar o governo. Eu já era da base e o governo nem tinha porque me dar dinheiro para eu votar a favor.

Como foi esse período entre as denúncias e a expectativa para o julgamento?

Muito desagradável, evidentemente, porque eu sempre ocupei posições que foram importantes e, com um processo desses, você tem um desgaste enorme.

Este ano, o senhor chegou a assumir uma vaga na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, mas ficou por poucos meses devido à mudança de cálculos. O senhor pretende continuar na política?

Apenas não vou disputar mandato, mas não pretendo de forma alguma deixar a política. Eu já tive sete mandatos, então não preciso mais, chega. E esse tipo de coisa aí desgasta muito a gente.

Ao se afastar da política, a que o senhor se dedica atualmente?

Eu tenho concessionárias de carros em Belo Horizonte, trabalho no agronegócio e na área de transportes, que estou desde 1978.

Por que o senhor trocou o PTB pelo PSD?

Porque entendi que, uma vez que eu não recebi recursos (do suposto mensalão), na época quem recebeu foi o presidente do partido, ele deveria ter assumido essa responsabilidade. E o Roberto Jefferson não fez isso.

O senhor tem alguma mágoa com o PTB?

Mágoa nenhuma. Apenas acho que ele, como presidente, deveria ter assumido. Ele só declarou no decorrer do processo que quem recebeu foi ele.

O senhor confia nos argumentos da sua defesa diante do Supremo Tribunal Federal (STF)?

Muito tranquilo. A defesa está bem preparada, até porque eu não tirei vantagem nenhuma disso.

De que forma toda a exposição do seu nome nesse escândalo afetou a sua família e como eles receberam essas denúncias?

Não me criaram qualquer constrangimento. Meus amigos e minha família sabem que eu não ia me sujar por pouca coisa... nem por muito, talvez.

Como o senhor pretende acompanhar o julgamento no STF?

Vou acompanhar o julgamento de casa, do escritório, de onde eu estiver. Não estou muito preocupado, não. A Brasília é que eu não vou! O problema agora não é meu mais, o problema é do Supremo. Quem vai julgar é o Supremo e quem vai me defender é o meu advogado. Minha presença é dispensável.

O senhor é acusado pelo MP de intermediar a transferência de recursos entre a agência de Marcos Valério e o PTB, seu partido na época. Isso de fato aconteceu?

Na verdade, o presidente da Usiminas na época, Rinaldo Campos (que morreu aos 72 anos em abril de 2011), me ligou oferecendo dinheiro para ajudar nas campanhas dos meus candidatos. Ele recomendou que a SMP&B, que era a agência deles, repassasse esse dinheiro para mim. Então, eu mandei que um assessor meu fosse ao banco receber e transferir para os candidatos da época. Eram 20 candidatos. O valor total, determinado pela Usiminas, era de R$ 150 mil, mas aí descontou a taxa da agência, que é 20%, mais os impostos, e deu R$ 102 mil líquido.

O senhor sabe a origem desse dinheiro?

Foi o presidente da Usiminas que me ligou, não foi outra pessoa não.

Esse dinheiro foi declarado?

Não sei. Quem tinha que declarar isso eram os candidatos, não eu. Pelo menos dois comprovaram a declaração.

O senhor pensou em não aceitar?

Lógico que não. Os candidatos precisavam, ele ofereceu pra ajudar.

Esse dinheiro foi usado em qual campanha?

Nas eleições de 2004, para prefeitos e vereadores.

Esses recursos foram para candidatos de quais cidades?

São 20, eu não sei falar de cabeça.

Todos do PTB?

Nem todos do PTB, havia candidatos de outros partidos. Muitas são cinco, seis partidos na coligação.

Por que o presidente da Usiminas ofereceu esse dinheiro para o senhor?

Ele era meu amigo, via e sabia que toda a eleição os candidatos vem assediar o deputado para pedir dinheiro, então ele, como amigo, resolveu oferecer.

Fonte: Terra
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