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Julgamento do Mensalão

"O chefe mandou, ele foi lá e sacou", diz defesa de Jacinto Lamas

26 jul 2012 - 12h35
(atualizado em 27/7/2012 às 08h56)
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LUCAS ROHÃN

O ex-tesoureiro do PL, atual Partido da República (PR), Jacinto Lamas afirma que agiu a mando do chefe, o deputado federal Valdemar Costa Neto, ao receber o que o Ministério Público classificou como "propina encaminhada pelo núcleo do publicitário Marcos Valério por ordem do PT" dentro do suposto esquema do mensalão. "Era o chefe deles. O chefe mandou ele ir lá sacar e ele foi lá e sacou", diz o advogado Délio Lins e Silva Júnior. O partido teria recebido "no mínimo" R$ 10,8 milhões para apoiar o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em votações importantes, segundo o MP.

Jacinto Lamas é funcionário da Câmara e afirma que só agiu a mando do chefe
Jacinto Lamas é funcionário da Câmara e afirma que só agiu a mando do chefe
Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

Saiba quem são os 38 réus do mensalão

Ainda de acordo com o advogado, Lamas "queria ser julgado há mais tempo" para, "finalmente, dar sua versão" sobre o mensalão. Ele responderá no Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha a partir de 2 de agosto.

Jacinto Lamas é funcionário da Câmara dos Deputados e, atualmente, acumula a função de chefe de gabinete do PR. Como tesoureiro do extinto PL, é apontado pelo MP como um dos responsáveis pela indicação da empresa Garanhuns Empreendimentos a Marcos Valério como mecanismo para viabilizar o pagamento seguro de propina. "Os donos da Garanhuns disseram que nunca viram o Jacinto", conta Lins e Silva Júnior.

Lamas também teria feito vários saques de dinheiro ilícito. A defesa nega as acusações e afirma que seu cargo de tesoureiro era "muito mais figurativo". Costa Neto, por sua vez, afirma que o dinheiro era "produto de um acordo financeiro" entre o PT e o partido dele pelas eleições de 2002. "Procurou a pessoa que o chefe mandou, assinou recibo... Quem é que recebe propina e faz isso tudo?", questiona.

O advogado, que defende ainda o irmão de Jacinto, Antônio Lamas, ex-assessor da liderança do PL na Câmara e também réu no processo, afirma que a expectativa para o julgamento no STF "é a melhor possível, pois não existe nada que leve a crer na participação de nenhum dos dois". Em 2011, o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, pediu a absolvição de Antônio por falta de provas dos crimes de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Segundo a denúncia, ele ajudava a buscar o dinheiro da suposta mesada dos deputados em Minas Gerais.

Mansão no Lago Sul

Em junho passado, a revista IstoÉ encontrou Lamas em sua mansão no Lago Sul, zona nobre de Brasília, às 17h de uma segunda-feira. O MP diz que ele seria uma pessoa de alta influência no partido e que tem patrimônio incompatível com seus vencimentos. "Essa casa, padrão no Lago Sul, é uma herança do deputado Álvaro Valle, que tinha uma relação muito próxima com ele, foi padrinho de casamento, era solteiro e quando morreu deixou a casa para o Jacinto", conta o advogado.

"Eles estão há anos sendo chamados de mensaleiros, sendo colocados no mesmo balaio de todos os outros peixes grandes e, na verdade, são meros funcionários da Câmara que nunca tiveram poder politico nem dentro da Casa nem dentro do PL", afirma Lins e Silva Júnior. "Não mandam nada dentro do partido e caíram de gaiatos para se atingir os 40 ladrões...", diz.

O mensalão do PT

Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.

No relatório da denúncia, o ministro Joaquim Barbosa apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.

Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.

O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

A então presidente do Banco Rural Kátia Rabello e os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson.

Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e do irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.

Fonte: Terra
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