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Julgamento do Mensalão

PR: petistas de Curitiba se reúnem em apoio a José Dirceu

4 dez 2012 - 01h25
(atualizado às 10h16)
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Roger Pereira
Direto de Curitiba

Cerca de 150 petistas paranaense reuniram-se, nesta segunda-feira, na sede do Sindicato dos Bancários de Curitiba, para o que nomearam "Ato em defesa do PT e dos direitos democráticos", que serviu como um desagravo ao ex-ministro da Casa Civil do governo Lula José Dirceu, condenado pelo Supremo Tribunal Federal a 10 anos de prisão por conta do mensalão. Deputados, lideranças partidárias municipais, dirigentes sindicais e representantes dos movimentos sociais receberam o ex-ministro na capital paranaense e condenaram o que chamaram de julgamento político, sem prova e sem direito de defesa.

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Das principais lideranças políticas do PT do Paraná estavam presentes os deputados federais Zeca Dirceu (filho de Zé Dirceu) e André Vargas, além dos deputados estaduais Professor Lemos, Péricles Melo e Elton Welter. Um dos organizadores do movimento, o dirigente nacional do partido, Markus Sokol disse que o evento era um ato em defesa do PT, o maior prejudicado com o julgamento do mensalão. "Estamos aqui para defender uma instituição construída pela luta do povo brasileiro. O STF que não encontrou provas para condenar o Collor, agora dispensou provas para condenar o PT", declarou.

Enquanto a maioria dos discursos da noite negou qualquer irregularidade na conduta de Dirceu e dos demais condenados, Sokol culpou o sistema, admitindo que o partido errou e precisa tirar lições desses erros. "O PT errou ao acreditar que poderia usar métodos de financiamento eleitoral da direita e ser poupado por aliados de ocasião", disse, culpando "o flanco das alianças" pelo consequente desgaste do partido. "Escolheu-se pó caminho da governabilidade, mas isso tem um preço. Alianças desse tipo é só com cargo e dinheiro e cabe, agora, aos filiados do PT avaliar se isso deve ou não ser mantido", declarou. "Mas o STF não considerou que há uma regra, a do presidencialismo de coalisão, usada por todos os governos. E só o PT foi excluído desta regra¿, argumentou, defendendo que o governo Dilma avance na Reforma Política ¿para acabar com esse sistema corrupto".

Secretário Nacional de Comunicação do PT, o deputado federal André Vargas disse que esse momento pós condenação é o mais grave da história do PT, porque, segundo ele, o partido está sofrendo um ataque político. "Querem atacar a esperança do povo brasileiro. O momento que o STF escolheu para o julgamento (durante as eleições municipais) não é coincidência, mas, mesmo assim, não nos mexemos, pois não vimos motivos para desespero já que não havia nenhuma prova. Mas, ao contrário do mensalão mineiro, não separaram os processos, agruparam, para fazer um grande show e condenar", declarou, já atribuindo as novas acusações contra o partido, no caso da ex-chefe do escritório da Presidência em São Paulo Rosemary Noronha, à mesma estratégia dos adversários políticos. "Querem tentar separar a Dilma do Lula, o Lula do PT, o PT dos nossos aliados, para tentar voltar a governar o País", disse.

O mesmo tom de discurso adotou Zeca Dirceu, filho do ex-ministro. "O que estava em jogo era derrubar o PT e abrir caminho para uma elite que sabe que, nas ruas, no voto, nunca mais voltará a governar o País", disse o deputado. Segundo ele, o PT tem o dever de fazer uma "narrativa verdadeira" sobre o que realmente foi o mensalão para fazer o contraponto. "Ao ler o processo percebe-se que, além da ausência de provas para condenar, há muitas provas para absolver", declarou.

Estudantes protestam contra o ato

Mobilizados pela internet, um grupo de 10 estudantes reuniu-se na frente do Sindicato dos Bancários para protestas contra o desagravo promovido por petistas a Zé Dirceu. "É uma palhaçada. Ele é um corrupto condenado pela Justiça. Como pode um ato para defendê-lo", disse Luiz Eduardo de Souza Lellis, 20.

Segundo ele, o argumento de que o julgamento foi político é incabível. "Em uma democracia moderna, não há mais espaços para julgamentos políticos e nem desrespeitos às instituições que sustentam o Estado Democrático de Direito. Além das fortes evidências, ainda houve a confissão de 'caixa dois', como se isso fosse legal, ou, ao menos, não tão grave", disse.

O estudante lamentou o fato de pessoas tentarem desqualificar o que para ele foi um marco histórico da Justiça Brasileira. "Eles acham mesmo que o julgamento não valeu, que foi uma armação da mídia e não um marco histórico pela condenação de políticos poderosos que cometeram ilegalidades. Condenando políticos corruptos, o STF mostrou-se estar à altura do antigo desejo de justiça da população brasileira".

O mensalão do PT
Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.

No relatório da denúncia, a Procuradoria-Geral da República apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.

Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.

O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

A então presidente do Banco Rural, Kátia Rabello, e os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson.

Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e o irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.

A ação penal começou a ser julgada em 2 de agosto de 2012. A primeira decisão tomada pelos ministros foi anular o processo contra o ex-empresário argentino Carlos Alberto Quaglia, acusado de utilizar a corretora Natimar para lavar dinheiro do mensalão. Durante três anos, o Supremo notificou os advogados errados de Quaglia e, por isso, o defensor público que representou o réu pediu a nulidade por cerceamento de defesa. Agora, ele vai responder na Justiça Federal de Santa Catarina, Estado onde mora. Assim, restaram 37 réus no processo.

Mobilizados pela internet, um grupo de 10 estudantes reuniu-se na frente do Sindicato dos Bancários para protestas contra o desagravo promovido por petistas a Zé Dirceu
Mobilizados pela internet, um grupo de 10 estudantes reuniu-se na frente do Sindicato dos Bancários para protestas contra o desagravo promovido por petistas a Zé Dirceu
Foto: Roger Pereira / Especial para Terra
Fonte: Especial para Terra
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