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Julgamento do Mensalão

Dirceu deixa reunião do PT sob gritos de 'bandido não!'

10 out 2012 - 18h21
(atualizado às 18h51)
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Thiago Tufano
Direto de São Paulo

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu foi hostilizado por um grupo de pessoas que aguardava sua saída da reunião do diretório nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), em São Paulo, por volta das 18h desta quarta-feira. Em coro, as pessoas gritavam "bandido não!" e cantavam "ô Dirceu, cadê você? Viemos aqui pra te prender". O ex-presidente do PT, José Genoino, também participou da reunião e saiu por volta das 17h30.

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A reunião aconteceu para definir as diretrizes das campanhas pelas prefeituras onde haverá segundo turno. Na chegada de Dirceu ao diretório, por volta das 13h30, seu assessor disse que ele havia sido recebido com palmas pelas cerca de 100 pessoas que estavam no local.

Tanto Dirceu quanto Genoino foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do mensalão.

Mais cedo, Dirceu disse que o partido agora tem que concentrar a sua atenção nas campanhas regionais. Ele afirmou que só estudará uma maneira de contrapor sua condenação por corrupção ativa no Supremo Tribunal Federal (STF) após o fim das eleições, que é a questão prioritária do momento.

Já Jose Genoino informou, antes da reunião, que irá deixar o governo. Ao ler uma carta para os companheiros, ele usou termos como "tirania da hipótese pré-estabelecida" e "acusação escabrosa" e disse estar indignado com a decisão da Corte. "Uma injustiça monumental foi cometida", afirmou ele, alegando que foi condenado sem provas e baseado no fato de ter sido presidente do PT.

O ex-presidente petista também criticou o fato do julgamento ter coincidido com as eleições e a "sistemática campanha de ódio contra o PT". "Como esperar um julgamento sereno, no momento em que juízes são pautados por comentaristas políticos?", questionou. "Retiro-me do governo com a consciência dos inocentes. Não me envergonho de nada. Continuarei a lutar com todas as minhas forças por um Brasil melhor, mais justo e soberano, como sempre fiz".

A condenação do ex-ministro José Dirceu pelo crime de corrupção ativa, nesta terça-feira, pelos ministros do STF, gerou grande repercussão no meio político nacional. Para o senador Alvaro Dias, líder do PSDB no Senado, a decisão da Corte gerou uma marca permanente para o partido de Dirceu. "O julgamento deixa uma marca inapagável na história do PT, com seus principais líderes condenados", disse.

Segundo ele, a condenação do ex-ministro deve forçar uma mudança no sistema político brasileiro. "Esse julgamento é um desafio, mais que um desafio, é uma convocação para que a classe política mude o comportamento, para que combata o sistema que deu origem ao mensalão", afirmou. Para o senador José Agripino (RN), presidente nacional do DEM, a decisão do STF "esclareceu as dúvidas" que o País tinha sobre o mensalão.

O mensalão do PT
Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.

No relatório da denúncia, a Procuradoria-Geral da República apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.

Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.

O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

A então presidente do Banco Rural, Kátia Rabello, e os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson.

Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e o irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.

A ação penal começou a ser julgada em 2 de agosto de 2012. A primeira decisão tomada pelos ministros foi anular o processo contra o ex-empresário argentino Carlos Alberto Quaglia, acusado de utilizar a corretora Natimar para lavar dinheiro do mensalão. Durante três anos, o Supremo notificou os advogados errados de Quaglia e, por isso, o defensor público que representou o réu pediu a nulidade por cerceamento de defesa. Agora, ele vai responder na Justiça Federal de Santa Catarina, Estado onde mora. Assim, restaram 37 réus no processo.

Pessoas hostilizaram José Dirceu na saída da reunião
Pessoas hostilizaram José Dirceu na saída da reunião
Foto: Fernando Borges / Terra
Fonte: Terra
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