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Julgamento do Mensalão

Mensalão não apaga o que Dirceu fez pelo País, diz ex-colega de cela

10 out 2012 - 07h23
(atualizado em 12/11/2012 às 17h01)
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Laila Garroni

Além de "amigo" e "líder expressivo" contra ditadura militar, o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, foi, para o sindicalista José Ibrahim, alguém que "fez muito pelo Brasil". Ao ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal pelo crime de corrupção ativa, Dirceu traçou linha declinante em sua biografia, marcada, até o início do ano de 2003, pela ascensão política. Ex-colega de cela do petista, quando ambos foram presos políticos, Ibrahim acredita que não é este último capítulo que manchará o legado de Dirceu. "Ele foi uma das pessoas que, em todo esse processo, na luta de resistência contra a ditadura e no caminho da redemocratização, contribuiu muito. Esse reconhecimento eu tenho. Não é essa questão do mensalão que vai jogar isso por terra."

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Do homem que chegou a viver anos na clandestinidade, sem revelar à própria mulher seu verdadeiro nome, à figura de braço direito do presidente da República, e mais tarde o cabeça de um esquema de compra de votos de parlamentares no Congresso Nacional, Ibrahim acredita que pouco mudou em Dirceu. No entanto, segundo ele, foi a "mudança de situação" que determinou os diferentes rumos tomados pelo petista. "Eu não poderia dizer com mais profundidade se houve uma mudança muito forte no comportamento dele. Eu acho que ele passou de uma situação de militante a alguém que conseguiu que um parceiro chegasse ao poder", opinou. "Nós não tínhamos experiência e ele não tinha experiência de exercício no poder, de estar no poder em um governo. Eu imagino as dificuldades, e o aprendizado bastante duro no exercício do poder. Eu acho que o José Dirceu pessoalmente não mudou, ele continua o mesmo José Dirceu. Só que (antigamente) ele estava em outro patamar de responsabilidade."

Ibrahim e Dirceu se conheceram quando o sindicalista presidia o Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, em 1966, e Dirceu era presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE). Ibrahim contou que teve apoio da UEE durante a primeira grande greve de metalúrgicos durante os anos de repressão. "A solidariedade dos estudantes, organizados pela UEE, foi extremamente positiva e reconfortante para nós. Eles fizeram pedágios nas vias para arrecadar fundos, fizeram uma série de atividades de solidariedade."

Após a greve de 1966, os dois voltaram a se reencontrar na cadeia, em 1969, quando, junto a outros 13 presos políticos, foram soltos e deportados para o México em troca da libertação do embaixador americano Charles Burke Elbrick, sequestrado por movimentos de resistência à ditadura. Ibrahim havia sido preso como um dos dirigentes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), e Dirceu, detido no ano anterior, ao participar do 30° Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Ibiúna. "Eu estava no Dops (Departamento de Ordem Política e Social), e aí trouxeram o Dirceu e o Vladimir (Palmeira, ex-presidente da União Metropolitana dos Estudantes preso com Dirceu), que estavam presos na baixada santista. Nos botaram na mesma cela porque íamos ser trocados pelo embaixador." Segundo o sindicalista, que hoje atua na União Geral dos Trabalhadores, Dirceu era admirado dentro do movimento contra os militares, tanto que ele acreditava que o companheiro se tornaria presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). "Ele era uma das lideranças mais expressivas."

Ibrahim atuou junto com Dirceu na fundação do PT e foi o primeiro secretário-geral do partido. Mesmo após deixar a legenda, seis anos depois, em 1986, ele afirma ter encontrado Dirceu algumas vezes, o que só cessou quando o petista assumiu a Casa Civil. Questionado se poderia elencar algum aspecto negativo na trajetória de Dirceu, o ex-colega de cela se absteve. "O ponto baixo eu não poderia dizer, corro o risco de ser injusto com uma pessoa que hoje está na berlinda."

Imagem mostra Dirceu desembarcando na Cidade do México, onde ficaria exilado durante parte da ditadura militar, junto com outros companheiros, entre eles, José Ibrahim
Imagem mostra Dirceu desembarcando na Cidade do México, onde ficaria exilado durante parte da ditadura militar, junto com outros companheiros, entre eles, José Ibrahim
Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação
Fonte: Terra
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