PUBLICIDADE

Julgamento do Mensalão

PGR foi desleal e fantasiosa ao acusar Henry, diz advogado

9 ago 2012 - 16h59
(atualizado às 18h53)
Compartilhar
Fernando Diniz
Direto de Brasília

Advogado do deputado Pedro Henry (PP-MT), José Antonio Alvares reprisou uma crítica comum entre os advogados dos réus no processo do mensalão. Em sua sustentação oral no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira, Alvares disse que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, foi desleal ao "pinçar" provas da fase de inquérito, antes da aceitação da denúncia, para "criar uma fantasiosa redação".

"Crime de Pedro Henry foi se destacar", diz defesa:

Conheça quem são os 38 réus do mensalão

Defensores de Cachoeira e de Carolina Dieckmann atuam no mensalão; veja advogados do caso

Saiba quem são os ministros e como costumam votar

Saiba como será o julgamento do mensalão dia a dia

De lanche gigante a calcinha antifurto: veja o que o mensalão inspirou

"Mesmo quando fazia esses pinçamentos (de provas da fase do inquérito) de forma equivocada, o procurador os fazia de forma parcial, transcrevia sem a necessária lealdade aquilo que daria suporte a sua fantasiosa redação", disse Alvares. "O procurador criou uma ficção e para dar sustentação pinçou facciosamente trechos recortados dos interrogatórios e depoimentos na fase de inquérito, sem o crivo do contraditório."

Advogados de réus do mensalão afirmam que provas obtidas pela a CPMI dos Correios, que investigou crimes do mensalão, e pela Polícia Federal não são válidas para a condenação de seus clientes, já que o Código de Processo Penal diz que o entendimento do juiz não pode se fundamentar exclusivamente por elementos colhidos na fase da investigação.

Henry era líder do PP na Câmara na época do escândalo. Segundo o Ministério Público, o deputado participou do repasse de R$ 2,9 milhões do valerioduto para o PP. Ele foi inocentado no processo de cassação aberto pelo Conselho de Ética da Casa.

Para o advogado, Henry foi incluído no processo apenas pelo fato de ser líder do PP na época do escândalo, sem ter ficado comprovado ato de ofício ¿ prática cometida pelo deputado após o recebimento do dinheiro. "Não houve qualquer compra de voto, e isso é fácil de reconhecer quando se percebe que as reformas (de interesse do governo em votação no Congresso) só foram realizadas quando a oposição apoiou o governo", disse.

Alvares disse que Henry participou de reuniões com o então presidente do PT, José Genoino, mas que eram encontros para definir o apoio político, sem acordos financeiros. "O ex-deputado José Janene (réu do mensalão morto em 2010), em seu interrogatório judicial, esclarece que houve uma reunião do ex-presidente do PP Pedro Corrêa, do Pedro Henry e Genoino para se fazer um acordo não financeiro, mas um acordo político de apoio ao governo", disse.

Na tentativa de desqualificar a denúncia, o advogado afirmou que as acusações contra o PP partiram do presidente do PTB, o deputado casado Roberto Jefferson, e lembrou que alguns ministros do STF colocaram em dúvida a imputação de crimes contra Henry na época do recebimento da denúncia, em 2007.

O mensalão do PT
Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.

No relatório da denúncia, a Procuradoria-Geral da República apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.

Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.

O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

A então presidente do Banco Rural Kátia Rabello e os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson.

Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e do irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade