PUBLICIDADE

Julgamento do Mensalão

Cunha seguiu padrões da gestão Aécio na Câmara, diz advogado

8 ago 2012 - 18h15
(atualizado às 20h44)
Compartilhar
Fernando Diniz
Direto de Brasília

Em uma fala com referências à gestão do tucano Aécio Neves na presidência da Câmara dos Deputados, o advogado Alberto Toron, que representa o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), negou irregularidades na contratação de uma empresa de assessoria e da agência SMP&B. Segundo Toron, no contrato firmado durante a gestão do Tucano eram permitidas as subcontratações colocadas sob suspeita pela Procuradoria Geral da República.

Defesa de João Paulo Cunha diz que acusação é fantasmagórica:

Conheça quem são os 38 réus do mensalão

Defensores de Cachoeira e de Carolina Dieckmans atuam no mensalão; veja advogados do caso

Saiba quem são os ministros e como costumam votar

Saiba como será o julgamento do mensalão dia a dia

De lanche gigante a calcinha antifurto: veja o que o mensalão inspirou

"A própria denúncia estabelece que, àquela época, era uma prática geral a subcontratação em se tratando de publicidade. O contrato firmado entre a Câmara e a SMP&B admitia a subcontratação sem qualquer limite. O contrato firmado na gestão anterior à de João Paulo Cunha, gestão de Aécio Neves, nem previa remuneração por serviços diretos. Tudo poderia ser subcontratado", disse o advogado em sua sustentação oral no Supremo Tribunal Federal (STF). "Cunha não inovou nesta matéria. Ele seguiu os padrões da gestão anterior. E ainda melhor. A Câmara recebeu prêmios quando a SMP&B atuou na Casa", completou o advogado de Cunha, réu por formação de quadrilha, corrupção passiva e peculato.

Toron disse ainda que não houve comprovação sobre a forma com que Cunha beneficiaria a empresa de Marcos Valério sob o recebimento de R$ 50 mil. "Estamos em um caso de criação mental", disse o advogado, acusando ainda a denúncia de ser contraditória ao apontar o momento do favorecimento. "Se a denúncia fala que o favorecimento foi no procedimento licitatório, não pode vir agora dizer que o ato de ofício se deu durante a execução do plenário", afirmou.

Segundo a defesa, o dinheiro fora destinado pelo PT a João Paulo Cunha para o pagamento de pesquisas eleitorais do deputado, que tem base partidária em Osasco. "Ele mandou a própria esposa mandar buscar o dinheiro. Marcos Valério encontrou ele (Cunha) um dia antes. Se fosse dinheiro de corrupção, poderia ter pegado direto com ele", argumentou o advogado.

Para rebater o envolvimento do deputado com o crime de lavagem de dinheiro, Toron disse que a própria denúncia fala que o dinheiro era previamente lavado pelo núcleo financeiro da quadrilha. "Se a própria acusação diz que o dinheiro era previamente lavado antes de ser tomado, então o tomador já pegava dinheiro previamente lavado", disse, lembrando que a acusação do crime foi classificada pelo ministro Gilmar Mendes como "fantasmagórica" no julgamento do recebimento da denúncia, em 2007. "Ela é exatamente fantasmagórica. Não há em hipótese alguma o crime de lavagem de dinheiro", sustentou.

Em uma fala com elogios a ministros do STF, Toron citou depoimentos de parlamentares da base governista e da oposição que atestaram, como testemunha, a validade do contrato da empresa Ideias, Fatos e Textos, de propriedade do jornalista Luís Costa Pinto. Um dos crimes pelo qual Cunha é acusado baseia-se na suposta contratação de jornalistas em um contrato da Câmara para interesses pessoais.

"Foram ouvidos vários parlamentares que atestaram com absoluta correção que Luís Costa Pinto prestava serviços à Câmara, e não a João Paulo Cunha", disse o advogado.

O mensalão do PT
Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.

No relatório da denúncia, a Procuradoria-Geral da República apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.

Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.

O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

A então presidente do Banco Rural Kátia Rabello e os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson.

Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e do irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade