PUBLICIDADE

Julgamento do Mensalão

Defesa de Adauto: dinheiro foi usado para pagar carros de som

31 jul 2012 - 11h25
(atualizado às 16h39)
Compartilhar
LUCAS ROHÃN

A defesa do ex-ministro dos Transportes e atual prefeito de Uberaba, no triângulo mineiro, Anderson Adauto (PMDB), acusado por lavagem de dinheiro e corrupção ativa no escândalo conhecido como mensalão, afirma que a denúncia do Ministério Público (MP) não apresenta provas. O advogado Roberto Pagliuso confirma que Adauto recebeu R$ 410 mil do PT, mas diz que o recurso era lícito até onde ele sabia e foi usado para pagar despesas com carros de som usados na campanha de Adauto em 2002.

Adauto recebeu R$ 410 mil do PT, mas diz que o recurso era lícito até onde ele sabia
Adauto recebeu R$ 410 mil do PT, mas diz que o recurso era lícito até onde ele sabia
Foto: J Freitas / Agência Brasil

Conheça quem são os 38 réus do mensalão

Saiba quem são os ministros e como costumam votar

Segundo a acusação, Anderson Adauto, então filiado ao PL (atual PR), era "profundo conhecedor do esquema de lavagem de dinheiro" e teria usado o seu chefe de gabinete na época, José Luiz Alves, como intermediário para receber os recursos. O MP diz ainda que Adauto agiu como interlocutor para garantir o repasse de propina também ao PTB, presidido pelo delator do mensalão, Roberto Jefferson.

Adauto nega as acusações e diz, via advogado, que não tinha conhecimento sobre o suposto pagamento de mesadas a parlamentares para que votassem com o governo do ex-presidente Lula. "Adauto não era deputado, então não se pode falar que ele recebeu dinheiro para votar de acordo com o governo", contesta o advogado.

A defesa reforça a ausência de provas nas alegações finais do MP apresentadas ao Supremo Tribunal Federal (STF), que começa a julgar neste dia 2 de agosto os 38 réus do mensalão. Pagliuso, que também defende José Luiz Alves, afirma que seus clientes não irão ao julgamento.

Sobre os recursos recebidos do PT, o advogado alega que Anderson Adauto pediu dinheiro ao então tesoureiro do partido, Delúbio Soares, para quitar despesas da campanha dele para deputado federal em 2002. Com sinal verde, mandou José Luiz Alves receber o recurso indicado por Delúbio no Banco Rural. "Ele foi lá, assinou recibo e se identificou", diz Pagliuso.

De acordo com o defensor, os R$ 410 mil foram usados para pagar os serviços de carro de som usados por Adauto na campanha. "A aplicação (do dinheiro) foi demonstrada no curso do processo porque a pessoa do carro de som foi ouvida e reconheceu que recebeu os valores. E a origem desse recurso foi confirmada: do PT, via Delúbio, recebida num banco", afirma.

A defesa do político mineiro está confiante em sua absolvição no STF. "Minha expectativa é positiva uma vez que acredito que o julgamento vai ser técnico e, no aspecto técnico, o processo não tem provas para caracterizar os crimes que foram imputados tanto ao José Luiz quanto ao Anderson Adauto", afirma Roberto Pagliuso.

O mensalão do PT

Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.

No relatório da denúncia, o ministro Joaquim Barbosa apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.

Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.

O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

A então presidente do Banco Rural Kátia Rabello e os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson.

Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e do irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade