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Julgamento do Mensalão

Delegado da PF diz que mensalão era para lavagem de dinheiro

13 ago 2012 - 09h24
(atualizado às 09h36)
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O delegado da Polícia Federal (PF) Luís Flávio Zampronha, que investigou de 2005 a 2011 a existência do mensalão, afirmou que o esquema deveria ser tratado como um grande sistema de lavagem de dinheiro, e não só como canal para a compra de apoio político no Congresso. O delegado apontou ainda algumas divergências entre o indicado em sua investigação e a denúncia da Procuradoria-geral da República, que começou a ser julgada pelos ministros do Supremo Tribunal Federal em 2 de agosto. Zampronha afirmou que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares poderiam ter sido denunciados também por lavagem de dinheiro, acusação que, segundo ele, tem as provas mais robustas e, no entanto, não foi feita pelo Ministério Público. "Há vários elementos que indicam que ele sabia dos empréstimos e dos repasses para os políticos", disse o delegado sobre Dirceu. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.

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"O dinheiro não viria apenas de empréstimos ou desvios de recursos públicos, mas também poderia vir da venda de informações, extorsões, superfaturamentos em contratos de publicidade, da intermediação de interesses privados e doações ilegais", disse o advogado que ainda afirmou que o dinheiro não era voltado só para compra de votos, mas também para o "custeio da máquina partidária e de campanhas eleitorais e para benefício pessoal dos integrantes". Zampronha considera haver "injustiças" na denúncia a réus que eram subordinados dos operadores e beneficiários do mensalão. "Os funcionários não sabiam o que estava acontecendo", afirmou o delegado, citando Anita Leocádia (assessora parlamentar) e Geiza Dias (gerente da SMP&B, agência do publicitário Marcos Valério). Outra discordância é sobre os empréstimos obtidos nos bancos Rural e BMG, que, segundo o MP, eram de fachada. Para Zampronha, os empréstimos eram verdadeiros e seriam quitados com dinheiro a ser arrecadado pelo esquema - a exemplo do que teria ocorrido no chamado "mensalão mineiro" (suposto esquema de Valério com tucanos em Minas em 1998). Ele ainda considerou um erro a denúncia contra quatro dirigentes do Banco Rural, pois não teria ficado configurada a ligação pessoal deles com as operações. Zampronha afirmou ainda que os recursos desviados do fundo Visanet (apontado como fonte do mensalão) e repassados à agência de Marcos Valério eram públicos, pois pertenciam ao Banco do Brasil. "O dinheiro era do Visanet, mas repassado ao Banco do Brasil. A partir daí, o dinheiro passava a ser do banco e o Visanet não tinha mais ingerência nas decisões sobre a destinação dos recursos."

O mensalão do PT
Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.

No relatório da denúncia, a Procuradoria-Geral da República apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.

Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.

O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

A então presidente do Banco Rural Kátia Rabello e os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson.

Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e do irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.

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Foto: STF / Divulgação
Fonte: Terra
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