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Política

Jornal: Cachoeira queria eleger Demóstenes prefeito de Goiânia

2 mai 2012 - 09h51
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Gravações interceptadas pela Polícia Federal (PF) com autorização da Justiça mostram o bicheiro Carlinhos Cachoeira discutindo com o vereador de Goiânia Santana Gomes (PMDB) a candidatura do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO, ex-DEM) à prefeitura de Goiânia. Na conversa, eles dizem que precisam de alguém com "poder na mão". Até o início deste ano, Demóstenes era um dos pré-candidatos mais cotados à prefeitura da capital goiana, mas desistiu publicamente da disputa após o estouro do escândalo envolvendo Cachoeira. Demóstenes Torres é considerado a ponte do bicheiro com o mundo político em Brasília. "Deixa eu te contar uma coisa: o Demóstenes vai ser nosso prefeito, não vai? Nós temos que ter alguém com o poder na mão, chefe", disse Santana Gomes, em telefonema feito no dia 13 de março do ano passado. "Exatamente, exatamente", responde Cachoeira. As informações são do jornal O Globo.

Segundo a escuta da PF, Santana Gomes ouve os planos de Cachoeira e tenta adivinhá-los. "Eu já sei que cê tá pensando. O Demóstenes vai ser prefeito. É isso que cê tá querendo dizer, né?", indaga. Após ouvir do chefe a estratégia, ele rasga elogios. "Você é certo demais, você é forte demais. Não, você fez perfeito. Com esse trem na mão, nós estamos bem na foto, né, amigo. Nós vamos fazer nosso prefeito, né?" As pretensões políticas iam além. A Juventude do DEM chegou a lançar Demóstenes candidato a presidente para 2014, na sucessão de Dilma Rousseff. Os mesmos jovens, após o surgimento das denúncias e o envolvimento com Cachoeira, defenderam a expulsão do senador do partido. Em um outro diálogo, captado pela Polícia Federal no dia 16 de maio de 2011, o próprio Demóstenes Torres diz ao bicheiro Carlinhos Cachoeira que o governador Marconi Perillo o queria não apenas para prefeito este ano, mas para governador em 2018.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

Fonte: Terra
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