PUBLICIDADE

Política

Influência de Mercadante no governo não foi abalada após derrotas no Congresso

18 jul 2013 - 18h58
(atualizado às 20h31)
Compartilhar

Único ministro que entra na sala da presidente Dilma Rousseff sem ser anunciado pelas secretárias, Aloizio Mercadante amplia a cada dia seu prestígio no governo, mesmo depois de reveses em negociações no Congresso, mas seu poder de articulação política é limitado, segundo fontes do Executivo ouvidas pela Reuters.

Mercadante, atualmente à frente do Ministério da Educação, começou o governo como ministro da Ciência e Tecnologia, pasta que durante o governo Lula foi comandada sempre pelo PSB e era vista como um prêmio de consolação para o petista que perdeu a disputa no primeiro turno pelo governo de São Paulo em 2010.

Contudo, contrariando essas avaliações, Mercadante ganhou a confiança de Dilma e transformou a pasta numa das vitrines do governo com o programa Ciência sem Fronteiras, que tem por objetivo levar 101 mil estudantes brasileiros para fazer cursos de graduação e pós-graduação no exterior até 2015.

Quando Fernando Haddad deixou o Ministério da Educação para disputar a eleição à Prefeitura de São Paulo, Mercadante foi rapidamente escolhido para substituí-lo. Desde então, na avaliação de fontes do governo, ocupou um espaço que estava vago desde a saída do ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci no primeiro semestre da gestão Dilma: o de ministro experiente com capacidade para dar conselhos.

Desde que a situação do governo Dilma se agravou, com a piora dos indicadores econômicos e a queda de popularidade no último mês, Mercadante e seu estilo conquistaram ainda mais espaço com a presidente, o que faz muitos apostarem que numa vindoura reforma ministerial poderá ganhar um cargo no Palácio do Planalto.

Segundo uma fonte do Planalto, que falou sob condição de anonimato, Dilma percebeu que podia contar com Mercadante porque ele é articulado politicamente, tem posições claras, colabora com os debates internos, se expressa bem em público e, principalmente, "não vaza informações sem autorização prévia".

Mercadante se sente à vontade no papel de principal conselheiro da presidente, comenta pesquisas de popularidade, fala sobre programas de outras áreas do governo como o Mais Médicos, o que tem lhe rendido o apelido de "primeiro-ministro" do governo. Ele costuma rejeitar a alcunha quando confrontado.

Outra fonte do governo lembra ainda que o estilo pessoal do "primeiro-ministro" também colaborou para a rápida ascensão ao posto de principal conselheiro de Dilma.

"Ele dá opinião sobre tudo, sobre todos os ministérios, sem o menor constrangimento, aponta culpados", relatou essa fonte, que pediu para não ter o nome revelado.

Essa postura gera inclusive ciúmes e irritação entre os demais colegas na Esplanada dos Ministérios e também créditos com a presidente.

Até o começo deste ano, segundo essa fonte, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, amigo da presidente desde a juventude, ainda rivalizava com Mercadante pelo posto de ministro mais próximo, mas perdeu a disputa.

"No governo não pode ter futrica e fofoca. Quem diz isso é para queimar o Mercadante", afirmou à Reuters o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), para quem a atuação do ministro da Educação na articulação no Congresso tem ajudado.

Nem mesmo as negociações comandadas por Mercadante no Legislativo que acabaram naufragando, como a votação do projeto que destinava a aplicação integral dos royalties de petróleo na educação e o plebiscito para reforma política, retiraram-lhe prestígio com a presidente.

"No caso dos royalties não se pode culpar ninguém pela derrota, isso virou uma questão de guerra federativa no Congresso", avaliou o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ).

Para Cunha, considerado pelo Planalto um aliado pouco confiável, a ascensão de Mercadante "é boa, porque o governo precisa de mais pessoas com conhecimento de política para dialogar".

A atuação mais ativa de Mercadante nas negociações com o Congresso, no entanto, é vista com reservas por alguns, porque consideram que ele tem influência limitada entre os deputados e deixou inimigos no Senado quando ocupava uma cadeira na Casa.

O inimigo mais famoso é o senador José Sarney (PMDB-AP), que em 2009 precisou a ajuda do governo para montar uma operação de salvamento e evitar a abertura de um processo de cassação contra ele no Conselho de Ética da Casa.

À época, Mercadante era líder do PT e pressionado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a ajudar o peemedebista a se manter no cargo preferiu anunciar que renunciaria à liderança.

O anúncio de renúncia "em caráter irrevogável" feito pelo Twitter durou menos de 24 horas e, pressionado por Lula, colegas de partido e ministros, Mercadante subiu à tribuna do Senado para dizer que não poderia recusar um pedido de Lula e, portanto, havia desistido da renúncia.

No discurso, disse que a aliança com o PMDB não poderia ser mantida a qualquer custo. "É o custo político que nós estamos pagando por uma aliança, mas é um custo que não pode ser pago dessa forma, muito menos por um partido como o PT", disse no discurso.

(Edição de Maria Pia Palermo e Eduardo Simões)

Reuters Reuters - Esta publicação inclusive informação e dados são de propriedade intelectual de Reuters. Fica expresamente proibido seu uso ou de seu nome sem a prévia autorização de Reuters. Todos os direitos reservados.
Compartilhar
Publicidade