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Política

Índios protestam por guaranis-kaiowá e contra demolição da 'Aldeia Maracanã'

9 nov 2012 - 20h31
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Os índios da "Aldeia Maracanã", uma ocupação em um prédio antigo diante do templo do futebol brasileiro, realizaram nesta sexta-feira um ato em apoio ao povo guarani-kaiowá e contra a demolição de seu espaço, ameaçado pelas obras da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos do Rio-2016.

Apoiados por membros de movimentos sociais e culturais, indígenas de diversas etnias manifestaram apoio à tribo dos guarani-kaiowá, do Mato Grosso do Sul que, acampados à beira de uma estrada desse estado, reivindicam a demarcação de suas terras ancestrais.

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ligado à Igreja Católica, indica que pelo menos doze líderes guarani-kaiowá foram mortos na última década por pistoleiros contratados por proprietários de terras.

Para Suzana Samaiego, índia guarani-kaiowá que veio ao Rio visitar seus filhos e participar do ato, a maior dificuldade é resistir e "lutar por suas terras sem o apoio de ninguém" e em meio à violência. Ela conta que uma de suas sobrinhas foi estuprada e morta por homens armados e nada foi feito em relação aos culpados.

Recentemente, esta comunidade declarou em uma carta, que circulou o mundo inteiro, que estava disposta a ter uma "morte coletiva" para não abandonar suas terras.

Já os índios que ocupam este prédio construído no coração do Rio de Janeiro, que já abrigou o antigo Museu do Índio, defendem o direito de permanecer no local, que foi ocupado há mais de seis anos e transformado desde então em um centro de cultura indígena, já que o governo do estado anunciou sua intenção de demolir o edifício histórico para as obras da Copa de 2014.

Carlos Tucano, cacique da Aldeia Maracanã explicou a situação das tribos que ocupam o local. "Estamos aqui para dizer ao Brasil e ao mundo quem somos nós, trazendo a nossa história que nunca foi respeitada (...), mas com o anúncio da Copa do Mundo de 2014 estamos nos sentindo ameaçados de expulsão. Não somos contra os eventos esportivos, apenas reivindicamos o nosso espaço".

Em declarações concedidas no mês passado, o governador do estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, afirmou que "o Museu do Índio, perto do Maracanã, será demolido. Vai virar uma área de mobilidade e de circulação de pessoas. É uma exigência da Fifa e do Comitê Organizador Local", embora a Federação Internacional de Futebol tenha negado que tivesse solicitado esta demolição.

"Só sabemos do que as autoridades pensam através da imprensa. É uma pressão psicológica. Nunca ouvimos a voz do governo, do prefeito e de nenhuma autoridade sobre o nosso destino, só sabemos que querem demolir", lamenta Tucano.

A esperança do cacique é que "o Governo e a Fifa se sensibilizem com a questão dos povos indígenas". Ele afirmou que os índios estão dispostos a negociar, desde que sejam deslocados para um local digno.

Com cartazes exigindo "respeito à cultura e ao povo indígena", cerca de 200 pessoas participaram do ato.

Os índios conseguiram uma primeira vitória no final de outubro com a determinação do juiz Renato César Pessanha de Souza, que determinou que o estado do Rio e a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) não expulsem os índios, atendendo a um pedido da Defensoria Pública da União.

Além da Aldeia, estão previstas as demolições de duas instalações do complexo esportivo do Maracanã: o estádio de atletismo Célio de Barros e o parque aquático Júlio Delamare.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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