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Impeachment

Comissão especial tem leve tendência pró-Dilma

17 mar 2016 - 18h41
(atualizado às 18h50)
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Em uma leitura preliminar, a comissão especial eleita pela Câmara nesta quinta-feira (17) para analisar o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff tem um leve "sotaque" pró-governo. Foram indicados 65 deputados e 65 suplentes, com uma distribuição entre os partidos proporcional ao tamanho de suas bancadas. “Não se trata de uma maioria expressiva em favor de Dilma, mas isso já era esperado”, diz o cientista político Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice.

O problema é que o impeachment não é defendido apenas pelos partidos da oposição que compõem a comissão. O impedimento é pregado também por filiados a legendas que, em tese, pertencem à base aliada. É o caso, por exemplo, de alguns peemedebistas, como baiano Lúcio Vieira Lima, irmão de Geddel Vieira Lima, e o gaúcho Osmar Terra. Para o consultor político Paulo Kramer, os próprios indicados pelo PMDB mostram que o líder do partido, Leonardo Picciani (RJ), dá sinais de se afastar do governo.

“Picciani foi salomônico na alocação das cadeiras na comissão”, explica Kramer. Trata-se de um movimento relevante, já que o governo comprou uma briga e tanto com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e com parte dos peemedebistas para bancar a eleição de Picciani como líder da bancada na Casa.

Por isso, o perfil da comissão não dá garantia nenhuma a Dilma de que o pedido seja rejeitado. “A comissão votará com um olho na política e outro na rua”, diz Aragão, da Arko. Para o cientista político, se as manifestações pró-impeachment recrudescerem, a estreita maioria governista na comissão pode evaporar.

Rogério Rosso (PSD-DF) está cotado para presidir a comissão
Rogério Rosso (PSD-DF) está cotado para presidir a comissão
Foto: Fotos Públicas

Personagens centrais

Dois personagens serão centrais nesse caso. O primeiro é o presidente da comissão. O nome ainda deve ser definido. A expectativa é que a comissão seja instalada ainda na noite desta quinta-feira (16) e, com isso, seus membros elejam o presidente. O mais cotado, por ora, é Rogério Rosso.

Filiado ao partido do ministro das Cidades, Gilberto Kassab, que já declarou que o PSD não é nem de esquerda, nem de direita, Rosso é um dos deputados que ainda não se decidiram sobre o caso. Mas, mais importante do que sua posição pessoal, é o poder que deterá na comissão. Cabe ao presidente acatar ou não manobras regimentais solicitadas por governistas e oposicionistas. Assim, suas decisões podem atravancar um ou outro lado.

O outro é o relator. Até aqui, o mais cotado é Jovair Arantes (PDT-GO). O parlamentar é um caso raro de equilíbrio político: é, ao mesmo tempo, aliado de Eduardo Cunha e alinhado a Dilma. Como se sabe, Cunha é um inimigo declarado do governo, a quem acusa de fomentar uma perseguição política contra ele, tendo como carro-chefe a Lava Jato. “Esta será a prova dos nove para Jovair Arantes”, diz Kramer. Caberá ao relator dar o tom da peça que será votada pela comissão e, posteriormente, pelo plenário da Câmara.

Partida final

Por isso, a bola não está totalmente com a comissão. Mesmo que lhe caiba o pontapé inicial da partida, o jogo mesmo será decidido pelo plenário da Câmara, que pode endossar ou não sua decisão. Ali, Dilma precisará o apoio de pelo menos 172 deputados para impedir que o processo seja aprovado pela Câmara e siga para o Senado. É por isso que, para Aragão, da Arko, é preciso “tirar um pouco de peso da comissão”.

Por isso, as manifestações populares pró e contra o impeachment e as eventuais revelações da Lava Jato pesarão, e muito, sobre o humor da Câmara. “A maior parte dos deputados não votará por ideologia, mas sim de olho nas ruas”, afirma Aragão. Se isso é verdade, outro fator vai pesar bastante na decisão dos parlamentares: o fato de vivermos um ano de eleição municipal.

É preciso lembrar que as regras de financiamento das campanhas mudaram, reforçando o peso das pessoas físicas e dos eleitores. “Muitos políticos não poderão se dar ao luxo de enfrentar a ira popular”, diz Kramer.

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