Há 70% de chance do impeachment ser barrado, diz líder do PT
Para o deputado Afonso Florence, líder do PT na Câmara dos Deputados, há 70% de chance, neste momento, de o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff ser arquivado pelo plenário da Casa. “Existe uma conscientização democrática, muito além do PT e do governo Dilma. E acho que isso está influenciando gradativamente os indecisos”, afirma Florence.
Em entrevista exclusiva a O Financista, o petista destacou que o governo conquistou uma importante vitória política após a oposição não alcançar os 44 votos - que representariam 2/3 da Comissão Especial da Câmara. “No dia da votação, eles precisam de dois terços na Câmara e hoje [ontem] eles não tiveram”, diz.
Nesta segunda-feira (11), a Comissão aprovou, por 38 votos a 27, um relatório favorável ao processo de impedimento da presidente Dilma. Caso a oposição conquiste 342 votos favoráveis à proposta de impeachment na votação deste fim de semana, a decisão da Câmara será enviada para o Senado. Contudo, Florence não conta com a hipótese.
O deputado aposta as suas fichas na demonstração de que não há crime de responsabilidade - "e que, portanto, impeachment é golpe" - para convencer os parlamentares indecisos. “Há pessoas indecisas. E a maioria é da base do governo, então acho que as decisões estão sendo tomadas contra o impeachment”, avalia.
Veja, abaixo, os melhores momentos da entrevista:
O Financista: Após a comissão especial do impeachment aprovar um relatório a favor do processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff, quais são as expectativas do PT em relação à votação deste fim de semana? O senhor está mais otimista ou pessimista?
Afonso Florence: Estou realista. Essa votação na comissão mediu a correlação de forças na câmara. Quando entramos, diziam que só tínhamos 16 votos. Nós chegamos a 27 votos. Eles precisam de 2/3 na Câmara e hoje não tiveram esses 2/3.
Foi uma vitória política, porque, primeiramente, ficou nítido nos debates ao longo dessa semana que não há crime de responsabilidade e que, portanto, o impeachment é golpe. Além disso, estão ocorrendo mobilizações de rua, nas faculdades, universidades, centros culturais. Existe um movimento nacional que é uma conscientização democrática, muito além do PT e do governo Dilma. E acho que isso está influenciando gradativamente os indecisos.
O Financista: Qual é a estratégia do governo para tentar garantir o número de votos suficientes para barrar o impeachment?
Florence: A nossa estratégia está sendo demonstrar a peça jurídica, que não tem crime de responsabilidade, e denunciar a conspiração. O impeachment transformaria Michel Temer em presidente da República e [Eduardo] Cunha em vice-presidente. Os dois jogaram para a desestabilização política do país. E, quando as agências de rating rebaixaram a nota do país, reconheceram que a crise política foi preponderante para a tomada de decisão. A desestabilização política com o objetivo de se proteger e, agora, esse áudio, em que Michel Temer se dirige à nação brasileira como se já tivesse ganho só tem paralelo com FHC sentando na cadeira de prefeito. E, depois, perdendo para Jânio Quadros. É uma demonstração de quanto eles estão despreparados para esses cargos. Uma atuação conspiratória, ardilosa e sem conteúdo. Por outro lado, Cunha tenta impedir investigações em relação a ele. Aécio Neves, por exemplo, também tem quatro delações premiadas. Quando ele e Alckmin foram para a manifestação do dia 13, foram postos para correr. Estamos trabalhando para mostrar a natureza política golpista e a ausência de crime de responsabilidade. E temos um réu guiando um golpe.
O Financista: Em sua opinião, há algum partido ou algum deputado que esteja inclinado a mudar seu voto para favorecer o governo?
Florence: Existem pessoas indecisas. A maioria da base do governo, então acho que as decisões estão sendo tomadas a favor do governo - contra o impeachment.
O Financista: Em uma escala de 0% a 100%, qual é a chance do governo barrar esse processo de impedimento na Câmara neste fim de semana?
Florence: Acho que, hoje, é de 70%. Nesta segunda-feira, eles saíram politicamente derrotados, porque tinham que ter 43 votos e não tiveram.
O Financista: Caso a proposta do impeachment seja aprovada na Câmara, há chance de frear o processo no Senado?
Florence: Não estou contando com essa hipótese.
O Financista: Mas e se passasse?
Florence: Veja, o Senado vai votar o mérito. E não tem crime de responsabilidade.
O Financista: De acordo com Jaques Wagner, o governo trabalha para ter entre 208 e 212 votos contra o impeachment no plenário da Câmara. Onde estão esses votos?
Florence: Esses votos estão no plenário: em alguns partidos, inclusive de oposição ao governo (como a Rede, o PSOL). E a gente consegue [conquistar esses votos] demonstrando que não há crime de responsabilidade, que existe uma consciência democrática, dizendo que impeachment sem crime de responsabilidade é golpe. Quem tem o mínimo de bom senso não vai querer entrar para a história pela lata do lixo.
(Colaborou Marcelo Ribeiro)