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Política

"Há muito mais ódio agora", diz ex-cara-pintada na Paulista

Advogado que participou do Fora Collor, em 1992, foi ao ato desse domingo em São Paulo P contra a presidente Dilma Rousseff. Para ele, clima de "guerra" teria sido acirrado pelo próprio PT

16 mar 2015 - 10h29
(atualizado às 11h26)
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Rua Peixoto Gomide – travessa da Avenida Paulista, proximidades do Museu de Artes de São Paulo (Masp), lado Jardins. Dois rapazes conversam encostados à grade do Parque Trianon, um deles, com uma lata de cerveja nas mãos. Blusa roxa, um, blusa verde e amarelo que foi o uniforme oficial patriótico-anti-PT-e-anti-Dilma, o outro.

Em algum momento da conversa, o de roxo comenta: “Tinha muito mais gente do que em 1992”. É a deixa para a pergunta sobre o movimento Fora Collor, é a deixa para o relato que segue - concedido ao Terra pelo advogado Sérgio Ramos Yoshino, de 40 anos.

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O advogado Sérgio Ramos Yoshino, 40 anos, foi um dos caras-pintadas no "Fora Collor", em 1992
O advogado Sérgio Ramos Yoshino, 40 anos, foi um dos caras-pintadas no "Fora Collor", em 1992
Foto: Janaina Garcia / Terra
“Participei dos protestos pela derrubada do [então presidente] Fernando Collor de Mello, aqui em São Paulo, em 1992. Posso garantir que hoje [domingo] tinha muito mais gente – eu sequer consegui chegar à Paulista, por exemplo, porque ela está muito cheia. Tenho até hoje as fotos em que eu e uns amigos parecemos em triângulo humano que fazíamos nos atos lá no Parque do Ibirapuera. Eu era muito moleque, fazia cursinho, ainda.

Acredito que o que acontece hoje é resultado do que o próprio PT fez. O partido conseguiu jogar negros contra brancos, ricos contra pobres, conseguiu, em suma, dividir o País. Isso que o [filósofo ideólogo do socialismo] Karl Marx falava, né? Primeiro você divide, depois você conquista. O PT fez isso. Fez na campanha eleitoral e fez agora, em relação ao que prometeu na campanha eleitoral da presidente Dilma. Falar que não sabia o que estava acontecendo [em relação ao escândalo de corrupção na Petrobras] não vale; não cola.

Eu voto no PSDB desde sempre, sou tucano de carteirinha e assumo. Mas quem não concordaria com a bandeira do PT nos anos 80, ou mesmo quando o Collor sofreu o impeachment?

Acho que agora o impeachment da Dilma seria mais uma consequência de todo esse cansaço que outras pessoas também têm do partido dela. Se a presidente não tiver nada a ver com esse escândalo na Petrobras, ótimo, mas pelo menos houve uma manifestação de descontentamento.

Não penso que a intervenção militar seja o caminho [um dos grupos que protestavam na Paulista, neste domingo, defendeu a intervenção]; o caminho ainda precisa ser o da democracia. Qualquer tipo de intervenção no regime democrático é condenável. Não apoio. Mas alguma consequência precisa acontecer.

[O entrevistado é então lembrado da lista de partidos e das dezenas de congressistas que apareceram, ao contrário da presidente Dilma Rousseff, na lista de denunciados da operação Lava Jato apresentada pela Procuradoria Geral da República. Haverá protestos também no Congresso?]

Esse é um bom ponto e algo em que a gente precisa trabalhar. Porque hoje, ainda que tenha dado tanta gente na Paulista, o que eu vi foi muito mais ódio e muito mais clima de guerra que em 1992. A divisão do País hoje é muito maior, e isso precisa ser resolvido."

Fonte: Terra
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