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Política

Foragido, ex-assessor da Casa Civil escapou três vezes de prisão em 2010

Gaeco havia 'grampeado' telefones que Gaievski utilizava para marcar encontros com meninas

28 ago 2013 - 21h09
(atualizado em 1/9/2013 às 03h23)
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Eduardo André Gaievski foi prefeito de Realeza (PR), onde responde a processo por estupro de adolescentes
Eduardo André Gaievski foi prefeito de Realeza (PR), onde responde a processo por estupro de adolescentes
Foto: Prefeitura de Realeza / Divulgação

O ex-assessor da Casa Civil do governo federal, Eduardo André Gaievski, que está foragido após ter um mandado de prisão expedido contra ele na sexta-feira (23) sob acusação de estupro de menores de 18 anos, escapou de ser preso em flagrante em três ocasiões no ano de 2010, quando era ainda prefeito pelo PT da cidade de Realeza (PR), a 540 quilômetros de Curitiba, e estava sob investigação. Os telefones utilizados pelo ex-assessor da ministra Gleisi Hoffmann, que o exonerou após a divulgação do caso pela revista Veja na última semana, estavam "grampeados" pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Foz do Iguaçu. Na pasta, Gaievski coordenava as relações entre a ministra e prefeitos e coordenava temas relacionados à  políticas de combate ao crack e a construção de creches. 

Na época em que era alvo de averiguação, Gaievski havia combinado encontros com adolescentes em troca de dinheiro, de acordo com interceptações realizadas pelo núcleo de investigação. 

O ex-assessor de Gleisi, no entanto, contou com a sorte para evitar a prisão. Nas três oportunidades em que os policiais do Gaeco se dirigiram de Foz do Iguaçu para Realeza, distante 215 quilômetros, para prendê-lo, surgiram outros compromissos para o então prefeito, que acabou desmarcando os encontros marcados para ocorrer em um motel na cidade. Os policiais já haviam inclusive planejado a estratégia para a prisão: esperariam a entrada de Gaievski no motel e, após 20 minutos, entrariam no local, filmando e fotografando a cena.

De acordo com uma fonte ouvida pelo Terra, que preferiu não ser identificada, com o insucesso da prisão em flagrante e com o recolhimento de fartas evidências do crime de estupro de vulnerável, incluindo gravações e depoimentos de vítimas, o núcleo de investigações decidiu encaminhar as provas do crime para a Procuradoria do Ministério Público em Curitiba em abril de 2011, após quase sete meses do trabalho, iniciado em outubro de 2010, após solicitação do Ministério Público de Realeza. 

Por ocupar o cargo de prefeito, Gaievski na época tinha direito a foro privilegiado e não poderia ser detido, exceto em flagrante de crime, sem autorização do Tribunal de Justiça. 

Durante o período de acompanhamento do caso, as gravações interceptadas pelo Gaeco revelaram conversas em que o ex-prefeito marcava encontros com garotas de 14 anos, oferecendo dinheiro. Para meninas entre 14 a 18 anos, o ex-assessor ofertava empregos para elas ou familiares na prefeitura da cidade. Segundo a fonte ouvida pelo Terra, dezenas de gravações e depoimentos foram anexadas à denúncia.

Jornalista

A suposta técnica de sedução em troca de oferta de trabalho teria sido utilizada por Gaievisk com uma jornalista da cidade. A jornalista Caroline Brand, 24 anos, contou ao Terra que sofreu intenso assédio do ex-assessor da Casa Civil para se relacionar com ele. "Em janeiro de 2009, eu estava no terceiro ano da faculdade de jornalismo em Curitiba e atuava num blog. Como estava pautada para fazer uma matéria sobre transporte inteligente e como ele era referenciado como exemplo de administrador no Estado, resolvi entrevistá-lo. Fui no gabinete e ele no mesmo dia me convidou para ir com ele em uma viagem para Brasília, para ser assessora especial dele", conta Caroline.

Ao contar a novidade para uma amiga, Caroline conta que foi aconselhada por ela a não ir novamente à prefeitura. "Não vai na prefeitura que ele vai te convidar para sair. Ele faz isso com todo mundo aqui", teria dito a amiga.

A jornalista não quis acreditar e chegou a defender o então prefeito. No entanto, segundo ela, o prefeito abriu um perfil em uma rede de relacionamento e passou a assediá-la, escrevendo que já estava com saudades e que faria de tudo para ela acompanhá-lo na viagem à Brasília. Nas mensagens, que a jornalista arquivou, Gaievski recomendava que ela apagasse o conteúdo após ler, "porque é mais seguro". 

Desconfiada, Caroline disse que foi viajar para a praia com os pais. Utilizando o e-mail, o prefeito então passou a enviar mensagens afirmando que estava apaixonado pela jornalista. 

Parentes da jornalista resolveram então procurar Gaievski na prefeitura para que ele explicasse o que estaria ocorrendo. "Ele fez um escândalo lá e até chamou a Polícia Civil, dizendo que estavam armando contra ele e que aquele e-mail não fora escrito por ele", conta Caroline.

 A jornalista, porém, diz ter certeza que o e-mail foi enviado pelo ex-assessor. "Eu enviei o número de meu celular para este e-mail quando estava na praia e ele me ligou em seguida", diz ela. Caroline disse que ainda hoje tem a cópia de todas as mensagens. 

"A partir daí, ele passou a me perseguir, dizendo que eu queria aparecer. Na Assembleia Legislativa onde trabalhei ele aparecia por lá e dizia que era para minha família calar a boca, que eu era ‘pseudojornalista’ e poderia me complicar", afirma Caroline.

A jornalista revela que em 2010, durante a campanha eleitoral, foi trabalhar no comitê de campanha da então candidata ao Senado, Gleisi Hoffmann, em Curitiba. "Quando ele soube, ele ficou com medo que eu abrisse minha boca. No início, me tratava como ‘amiguinho’ e me mandava parabéns. Depois ele passou a dizer que se eu tentasse fazer qualquer coisa, seria minha palavra contra a dele e que ninguém iria acreditar em mim", disse. 

Caroline afirmou que o assédio ocorreu durante três anos seguidos e só parou quando ela ameaçou entregar os e-mails para o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Ela disse ter comentado o assunto com outra jornalista que atuava no comitê de campanha da atual ministra.

Outro casos

Além dos casos já denunciados pelo Ministério Público, outras pessoas estariam procurando a promotoria de Realeza para apresentar novas denúncias após a divulgação do pedido de prisão preventiva de Gaievski. Ouvido pelo Terra, o promotor da cidade disse que não poderia confirmar a informação. 

Segundo um morador da cidade, que não quis ter seu nome identificado, várias famílias deixaram de apresentar denúncia contra o ex-prefeito porque ele "mandava na cidade e tinha as costas quentes em Brasília".

O ex-assessor está sendo procurado pela polícia em cidades paranaenses e na capital federal. O delegado Rafael Vianna, que atua na assessoria da Secretaria de Segurança do Paraná, está em Brasília nesta quarta-feira na companhia de outros policiais, na tentativa de cumprir o mandado de prisão. Na casa onde Gaievski residia, o irmão dele foi localizado retirando roupas do acusado. 

Advogados

Os advogados Rafael Seben e Rodrigo Biezus, que atuam na defesa de Gaievski, informaram que protocolaram no fórum de Realeza, de onde foi emitido o mandato de prisão preventiva, um pedido de revogação da decisão. "Apresentamos contraprovas e creio que nas próximas horas seremos atendidos", disse Seben. Ele não quis comentar as acusações e nem revelar se o ex-assessor de Gleisi será apresentado à Justiça. 

Eduardo Gaievski era cotado para ser candidato a deputado estadual pelo PT nas eleições de 2014. No Paraná, ele é apontado como um dos principais nomes do partido. Na segunda-feira (26), a executiva estadual do PT, determinou a suspensão dele, "para que sejam devidamente esclarecidas as circunstâncias e veracidade das acusações contra o ex-prefeito", segundo texto da nota emitida pelo partido.

Fonte: Especial para Terra
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