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Política

Etnia brasileira recupera sua língua e agora reinvidica suas terras

27 abr 2013 - 06h04
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Um projeto para impedir o desaparecimento de uma língua indígena contribuiu para reunir os membros de uma etnia brasileira que se achava extinta há várias décadas e agora respalda seus esforços para recuperar as terras ancestrais das quais foram expulsos.

Trata-se dos puruborá, uma etnia da Amazônia da qual só restam cerca de 800 integrantes espalhados por vários municípios vizinhos a suas terras ancestrais, localizadas no estado de Rondônia e próximas à fronteira entre Brasil e Bolívia.

Entre os sobreviventes de uma etnia que o próprio Governo considerava como desaparecida desde a década de 1940 só restam quatro anciãos que ainda lembram a língua puruborá.

O projeto para preservar a ameaçada língua, liderado pelo Museu Paraense Emílio Goeldi, não só conseguiu deixar registradas, em gravações de áudio e vídeo, conversas destes anciãos, mas também editar um vocabulário básico e montar uma escola para alfabetizar os demais membros do grupo.

"Há um grande interesse dos puruborá em recuperar sua língua, e este interesse de reafirmação como entidade étnica reforçou o desejo de recuperar as terras", disse à Agência Efe a linguista Ana Vilacy Galucio, pesquisadora do Museu Goeldi e que coordenou o projeto.

De acordo com Galucio, na escola que foi montada em 2005 na aldeia Aperoi estão inscritos atualmente 14 membros do grupo entre crianças, jovens e adultos.

O professor da escola, Mário Oliveira Neto, de 34 anos, aprendeu a língua com a ajuda do trabalho do Museu Goeldi e hoje tenta difundi-la entre os demais membros da etnia.

"Para mim, que não falava a língua, aprendê-la foi como reviver um povo. Eu peço aos alunos que façamos nossa parte para manter viva a cultura", assegura Mário.

Segundo Ana, o projeto para preservar o idioma começou no ano de 2000 quando membros do Conselho Missionário Indigenista (Cimi, entidade da Igreja Católica) relataram que tinham entrado em contato com vários puruborá que ainda lembravam a língua.

"Pensamos no projeto quando soubemos que a língua ainda estava viva, que era falada por algumas pessoas. Reunimos eles e os incentivamos a conversar em sua língua e a lembrar o vocabulário. Gravamos tudo em áudio e vídeo para ter um registro", disse a linguista, que admitiu que os anciãos nunca tinham conversado entre si por viver distantes e que por isso já tinham esquecido parte do vocabulário.

De acordo com um estudo do historiador José Joaci Barboza, pesquisador da Universidade Federal de Rondônia, os puruborá foram contatados pela primeira vez em 1909 em uma expedição do marechal Cândido Rondon, militar de origem indígena que defendia uma política de proteção aos povos da Amazônia.

Rondon instalou nas terras dos puruborá um posto do Serviço de Proteção aos Índios (SPI) e delimitou a reserva.

Mas na região também foram instaladas empresas de exploração da borracha que incentivaram os seringueiros a ocupar as terras dos puruborá e que transformaram os índios em mão de obra barata e até escrava.

Segundo Barboza, com a morte de centenas de índios por epidemias transmitidas pelos colonos ou pelas péssimas condições de trabalho, o próprio SPI ofereceu as órfãs como mulheres para os seringueiros, o que deu início a um intenso processo de mestiçagem.

Os poucos puruborá que ainda permaneciam em suas terras terminaram de ser expulsos nos anos 80, quando o Governo criou um parque florestal na região e uma reserva de outra etnia.

Para os puruborá que alegavam ser donos das terras o Estado os desconheceu como índios pelo alto grau de mestiçagem, por isso que os sobreviventes se dispersaram em vários municípios vizinhos, segundo o estudo da Universidade de Rondônia.

De acordo com o Cimi, os puruborá ressurgiram como etnia no ano de 2000, quando Emilia Puruborá adquiriu um terreno nas terras ancestrais e ofereceu sua propriedade para que os sobreviventes se reunissem periodicamente.

Na terra desta líder indígena, que morreu no dia 4 de abril passado aos 80 anos, foi criada a Aldea Aperoi, na qual a cada ano os puruborá se reúnem para discutir sobre seu passado e seu futuro, e na qual o Museu Goeldi montou sua escola.

Junto com as assembleias convocadas por Emilia Puruborá começou o processo de reivindicação da delimitação da reserva, que atualmente é estudado pela Fundação Nacional do Índio (Funai), assim como o processo de resgate da língua.

EFE   
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