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Política

Empresas participaram de esquema por medo, diz delator a CPI

Presidente da Toyo Engenharia, Augusto Mendonça Neto, disse que diretorias da Petrobras criavam dificuldades para empreiteiras

23 abr 2015 - 13h02
(atualizado em 24/4/2015 às 11h44)
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Presidente da Toyo Engenharia, Augusto Mendonça Neto, depõe na CPI da Petrobrás
Presidente da Toyo Engenharia, Augusto Mendonça Neto, depõe na CPI da Petrobrás
Foto: Lucio Bernardo Jr / Agência Câmara

O presidente da Toyo Engenharia, Augusto Mendonça Neto, disse nesta quinta-feira à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras que as empresas participaram do esquema de corrupção na estatal mais por medo do que por vantagem. Segundo ele, os ex-diretores Paulo Roberto Costa e Renato Duque ofereciam mais dificuldades do que ajuda às empresas do cartel.

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“O poder do diretor da Petrobras de atrapalhar é enorme. Eles, na minha opinião, vendiam muito mais dificuldade que facilidade. De ajudar era pequeno. As companhias participavam muito mais por medo que por vontade”, disse Mendonça Neto, que também firmou um acordo de delação premiada na Operação Lava Jato.

Aos deputados, o empresário detalhou como se formou o clube de empreiteiras entre 1996 e 1997. Segundo ele, a ideia inicial do grupo era uma cooperação entre nove empresas para se proteger no mercado. O cartel se fortaleceu entre 2003 e 2004, quando a Petrobras passou a investir mais na área de refino. O clube chegou a um número de 16 empresas, que eram convidadas para participar de licitações da estatal.

Apesar de relatar a corrupção dentro da Petrobras, Mendonça Neto fez questão de defender a estatal, ao afirmar que a corrupção não era institucionalizada em toda a companhia, mas na diretoria de Serviços, ligada ao Partido dos Trabalhadores (PT).

“Quando o Pedro Barusco (ex-gerente de Serviços) fala que era generalizado, ele tem razão em um sentido. De fato, dentro da diretoria de Serviços era generalizado, porque eles queriam aplicar sobre todos os contratos da Petrobras”, disse.

Assim como fez em sua delação, Mendonça Neto disse que sofria pressões do ex-deputado José Janene (PP), morto em 2010, para pagar “contribuições” à Diretoria de Abastecimento, ligada ao PP. “Ele colocou que ele havia sido responsável pela indicação do Paulo Roberto Costa e se nós não contribuíssemos teríamos sérios problemas na execução dos contratos”, disse.

Doações ao PT

O presidente da Setal Engenharia, Augusto Mendonça Neto, disse na quinta-feira à CPI da Petrobras que procurou o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, em 2008, no Diretório Nacional do partido, para oferecer contribuição. O repasse foi feito a pedido do então diretor de Serviços da estatal, Renato Duque, ligado à legenda. Vaccari Neto assumiu a Secretaria Nacional de Finanças da legenda em 2010.

Em um acordo de delação premiada, Mendonça Neto disse que parte da propina paga a Duque era em “doações oficiais” ao PT. Na CPI, o empresário evitou dizer que o dinheiro era de corrupção, mas considerou “evidente” que o dinheiro era para que o grupo Toyo Setal não tivesse problemas nos contratos firmados com a Petrobras.

“Vaccari não me procurou, fui eu quem o procurei. Pelo lado da diretoria de Serviços, ele nunca verbalizou que ia me atrapalhar. Mas era uma coisa muito visível, muito evidente. A contribuição era para nunca ser atrapalhado”, disse.

O ano em que Mendonça disse ter procurado Vaccari pela primeira vez, 2008, foi alvo de questionamentos da oposição. Na CPI, o tesoureiro disse só ter assumido as finanças em 2010.

“João Vaccari se esqueceu que a reunião foi em 2008 e aí ele destruiu sua própria defesa. Porque a defesa estava centrada em doações legais, como tesoureiro formalmente constituído. Em 2008 ele era agente de propina”, disse o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS).

Questionado, Mendonça disse ter se encontrado entre 10 e 12 vezes com Vaccari, preso na Operação Lava Jato, para quem pagou contribuições parceladas. Ele afirmou ter se apresentado ao tesoureiro como sendo um empresário interessado em contribuir para o partido.

O delator também confirmou ter repassado R$ 2,5 milhões ao partido por meio de supostos anúncios publicitários na Gráfica Atitude, que edita a Revista do Brasil.

Ao todo, o empresário disse que os consórcios integrados pela Toyo Setal pagaram cerca de R$ 70 a R$ 80 milhões para a Diretoria de Serviços, que era controlada por Renato Duque, e R$ 30 milhões para a de Abastecimento, de Paulo Roberto Costa.

Pressionado por deputados, Mendonça Neto disse ter feito doações oficiais a outros partidos, como PSDB e PR, mas ponderou que eram repasses legais.

Dirceu

Questionado por deputados, Mendonça confirmou ter encontrado o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, mas negou qualquer relação das conversas com o esquema da Petrobras. Segundo ele, as conversas com o petista condenado no mensalão eram para tratar de assuntos do mercado offshore.

CPI da Petrobrás: ratos tumultuam depoimento de Vaccari:
Fonte: Terra
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