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Oriente Médio

Em viagem, Lula busca dar "mais voz" ao Brasil no Oriente

15 mar 2010 - 04h54
(atualizado às 09h21)
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Fabrícia Peixoto

A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Oriente Médio, que chegou a Jerusalém no domingo, tem um "forte cunho político", na avaliação de representantes da diplomacia brasileira e do Palácio do Planalto. O objetivo da viagem, de acordo com o Itamaraty, é o de "coroar" a pretensão do Brasil em se tornar mais presente nos debates sobre os conflitos na região.

Lula cumprimenta o líder israelense Shimon Peres na residência presidencial, em Jerusalém
Lula cumprimenta o líder israelense Shimon Peres na residência presidencial, em Jerusalém
Foto: AFP

Segundo um diplomata, "ainda é cedo" para falar na mediação brasileira no processo de paz do Oriente Médio, mas que o Brasil quer se colocar "disponível". "Sabemos que esse (o conflito) é um assunto complexo e que outros países já participam como mediadores", diz o representante do Itamaraty. "Mas o Brasil tem um histórico de pacifismo, além de já ser mais ouvido em diversas outras instâncias", acrescenta o diplomata.

O roteiro oficial do presidente Lula começa nesta segunda-feira por Israel, passando depois pelos territórios palestinos e pela Jordânia. Nenhuma das três localidades havia recebido oficialmente um presidente brasileiro antes.

Debate 'arejado'

Um dos principais argumentos do governo brasileiro é de que os canais tradicionais nas negociações de paz têm se mostrado "ineficazes" e que a participação do Brasil poderia "arejar" o debate.

Em entrevista ao jornal israelense Haaretz, na quinta-feira, o presidente Lula criticou o papel das Nações Unidas na busca por acordo entre israelenses e palestinos.

"Do jeito que está hoje, a ONU não consegue", disse o presidente, acrescentando que o organismo "não representa a geopolítica do século 21".O assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse na última sexta-feira que o presidente quer ter uma clareza "in loco" sobre a distância que separa os dois lados na negociação.

"Se você quer construir uma ponte, tem que saber a exata largura do rio", comparou o assessor. "Nós não vamos ser a empreiteira dessa paz, mas vamos ser talvez uma subempreiteira que poderá ajudar", acrescentou.

Assentamentos

A viagem do presidente Lula acontece em um momento delicado para a região, com o anúncio feito pelo governo israelense de que 1,6 mil novas casas serão construídas em Jerusalém Oriental.

O chanceler Celso Amorim disse que o governo brasileiro ¿reprova¿ a decisão do governo de Israel, mas o Itamaraty não divulgou um comunicado formal sobre o assunto.

Segundo um assessor do Palácio do Planalto, a posição do Brasil ¿ contrária à expansão dos assentamentos ¿ "já é conhecida" do governo de Israel e que o presidente Lula não deverá fazer nenhuma "condenação enfática" do episódio enquanto estiver visitando o país.

Outro assunto delicado que deverá ser abordado durante a viagem é a aproximação do governo brasileiro com o Irã, fato que vem sendo criticado por lideranças judaicas.

De acordo com o porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach, o presidente Lula "reafirmará" a posição do governo brasileiro de apostar no diálogo com o Teerã na questão nuclear.

'Delicada'

No Itamaraty, a viagem desta semana é vista como uma das "mais delicadas" já realizadas pelo presidente Lula e que o "simples fato" de estar sendo colocada em prática "tem sua importância diplomática".

Um diplomata lembra que a visita de um mandatário brasileiro a Israel, por exemplo, vem sendo discutida desde o governo Fernando Henrique Cardoso, mas que por sua complexidade nunca havia sido realizada.

"Essa é uma viagem delicada e cheia de sutilezas. Cada lugar visitado tem de ser escolhido cuidadosamente, para não causar qualquer mal-estar", diz o funcionário do Itamaraty.

Além de se encontrar com os chefes de Estado, o presidente fará ainda visitas a "pontos simbólicos". Em Jerusalém, Lula visitará o museu do Holocausto, enquanto que, em Ramallah, o presidente brasileiro colocará flores no mausoléu em homenagem ao ex-líder palestino, Yasser Arafat, morto em 2004.

Na Jordânia, última parada da viagem, o objetivo é "valorizar o diálogo político" com o país, que participa da maior parte das iniciativas de paz na região, segundo o Palácio do Planalto.

"A visita é uma ocasião para a troca de impressões com um interlocutor privilegiado sobre os principais temas referentes à realidade política do Oriente Médio", disse o porta-voz da Presidência.

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