SP: Haddad minimiza impacto do mensalão em campanha
- Marina Novaes
- Direto de São Paulo
O pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, minimizou nesta segunda-feira o impacto negativo que o julgamento do caso do mensalão - maior escândalo político do governo Lula - possa ter sobre sua campanha, já que vários petistas são réus do processo. De acordo com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Carlos Ayres Britto, o caso deve ser julgado pela Corte até o final de junho, o que coincide justamente com o início oficial da corrida eleitoral deste ano.
Em entrevista após visitar as obras do futuro estádio do Corinthians em Itaquera, na zona leste da capital paulista, Haddad tentou se distanciar do caso, defendeu a "transparência" do processo e "punição proporcional" aos culpados. O petista também citou escândalos envolvendo partidos de oposição, como o DEM, envolto em nova crise após escutas da Polícia Federal revelarem o envolvimento do senador Demóstenes Torres (sem partido, ex-DEM) com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
"Eu não trabalho com esse cálculo (de que tenha um impacto negativo). A sociedade cobra hoje transparência e o fim da impunidade, seja na questão do DEM, de Goiás, seja do PSDB de Minas Gerais (em referência ao escândalo denominado mensalão mineiro), seja quem for, a sociedade quer solução desse tipo de problema. (...) Os candidatos não podem ter medo de discutir questões éticas, (...) e a minha biografia está aberta para a sociedade", afirmou.
Questionado se o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, um dos réus do mensalão e apontado pelo Ministério Público Federal como mentor do esquema, deverá participar de sua campanha, Haddad desconversou e disse que não fala com o petista "há meses". "Ele não tem participado das campanhas do PT", respondeu, negando ainda que Dirceu tenha ajudado a formar a coordenação de sua campanha.
O pré-candidato afirmou ainda que Dirceu é o "maior interessado" em provar sua inocência durante o julgamento - ele sempre negou a existência do esquema de pagamento de mesadas a parlamentares no Congresso. "Ele, talvez, seja a pessoa mais interessada no desfecho desse caso. Ele quer ser julgado com base nas provas apresentadas, e acho que isso é justo", disse. Entretanto, Haddad evitou opinar sobre o desfecho do caso, ao ser questionado se acredita na absolvição de Dirceu. "Eu não conheço o processo. Realmente não sou especialista."
Por fim, Haddad disse ser favorável à criação de uma comissão mista parlamentar de inquérito (CPMI), no Congresso, para investigar a ligação de políticos com Carlos Cachoeira, e cobrou que a imprensa fiscalize os demais partidos e não só o PT.
"Uma vez que tudo seja passado a limpo, acho muito bom para a democracia(...). O que não considero correto é todo o foco se centrar em um único partido (o PT). A imprensa deveria ser a primeira a lutar para que todos prestem conta de seus atos, e não só alguns", completou o pré-candidato petista.
O mensalão do PT
Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.
No relatório da denúncia, o ministro Joaquim Barbosa apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.
Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.
O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
A então presidente do Banco Rural Kátia Rabello e os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson.
Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e do irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.