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Política

SP: 1ª prefeita, Erundina diz que sofreu maior preconceito do PT

SP: 1ª prefeita, Erundina diz que sofreu maior preconceito do PT

9 jun 2012 - 08h32
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Angela Chagas

Contrariando todas as projeções, Luiza Erundina conquistou a prefeitura de São Paulo em 1988, e entrou para a história da representação política ao ser a primeira mulher a comandar a maior cidade do País. Militante de esquerda, ela superou nomes conhecidos dos eleitores, como Paulo Maluf (PP) e José Serra (PSDB). Ao conversar com o Terra sobre a participação feminina nas eleições, Erundina disse que precisou enfrentar muito preconceito até chegar ao comando da capital, pelo seu partido na época, o PT.

"Nem o meu partido acreditava em mim. Minha candidatura foi resultado de uma prévia contra o Plínio (de Arruda Sampaio, hoje Psol). Ele era paulistano, tinha história no partido. Eu era uma nordestina, ligada aos movimentos sociais. A direção do PT achava que minha candidatura não teria viabilidade nenhuma. O Lula, o José Dirceu, e outros dirigentes ficaram contrariados quando eu ganhei as prévias. Fui para a disputa sem apoio, tive de superar o preconceito do meu partido e depois de uma elite conservadora. Ninguém achava que eu fosse ganhar, e ganhei, com o apoio do povo", afirma Erundina, que hoje é deputada federal pelo PSB.

Em quarto lugar nas pesquisas, atrás de Maluf, Serra e João Leiva (PMDB), Erundina conta que enfrentou uma campanha "pobre", mas com forte apelo popular nas zonas mais pobres da capital. "Na reta final, fomos ampliando os apoios e conquistamos a prefeitura. A vitória foi uma surpresa para o próprio PT que, embora pela primeira vez conquistava a prefeitura de São Paulo, não apoiou o meu governo". Ela afirma ainda que conseguiu fazer um bom trabalho graças a um primeiro escalão competente, formado por nomes como Paulo Freire, na pasta da Educação.

"O primeiro escalão foi eu que formei, mas as administrações regionais foram indicações do PT. E tive de enfrentar muitos problemas com companheiros que não estavam envolvidos com o nosso projeto", afirma. A deputada conta ainda que, além de ser mulher, sofreu preconceito por ser nordestina, e da ala mais radical do PT. "Uma mulher, nordestina e de esquerda governando uma cidade conservadora como São Paulo foi um grande desafio. Mas a discriminação era da elite política, que nunca procurou conhecer minha trajetória, minha formação".

Segundo Erundina, o preconceito por ser mulher não encontrou eco na população. "Eu não tinha apoio dos políticos, mas tinha apoio da camada mais pobre, que me via como um deles, pobre também e imigrante". "Sempre digo que só faltou ter nascido negra para completar o quadro da discriminação. Mas até queria que fosse assim, porque seria mais um motivo para lutar", afirma a deputada, que governou a capital paulista até 1992. O candidato petista escolhido para sucedê-la, Eduardo Suplicy, perdeu a eleição de 1992 para Paulo Maluf.

Reforma política e Defesa do aborto

Em 1993, Erundina provocou descontentamentos no PT ao assumir o cargo de ministra da Secretaria da Administração Federal, no governo Itamar Franco. Ela acabou deixando a sigla e se filiando ao PSB, partido pelo qual é deputada federal. Na Câmara, a ex-prefeita luta pela ampliação da participação feminina no poder e pela reforma política. "Hoje somos quase 52% de mulheres eleitoras, mas ocupamos menos de 10% das vagas na Câmara dos Deputados. Precisamos de cotas para garantir que as mulheres deixem de ser subrepresentadas nos espaços políticos", defende.

Um das propostas apresentadas por Erundina na Câmara foi criar uma cota de 30% do tempo de propaganda eleitoral e 30% dos recursos do fundo partidário para as mulheres. "Não consegui aprovar esse percentual, mas 10% da propaganda e 5% do fundo. É pouco, mas já é um avanço", afirma ao criticar a ineficiência da lei de cotas - que prevê um mínimo de 30% de mulheres nas vagas dos partidos nas eleições. "Nenhum partido cumpre porque não há punição. Assim, a lei não alcance seu objetivo".

Defensora do aborto, a deputada ainda diz que se houvesse maior participação feminina na política, a discussão sobre temas que envolvem a vida das mulheres seriam debatidos de forma mais fácil. "O Brasil é uma nação extremamente atrasada nessa discussão porque deixa que a religião influencie nas políticas de um Estado laico. Entendo o direito dos religiosos de não permitir práticas como o aborto aos seus membros, mas estender isso a toda população é um erro grave. (...) Se a mulher tivesse um papel maior nas esferas de poder, tenho certeza de que não seria tão difícil discutir temas como esse, que envolvem direitos individuais, civis, e até direitos humanos", completa.

Luiza Erundina é deputada federal pelo PSB de São Paulo
Luiza Erundina é deputada federal pelo PSB de São Paulo
Foto: Gustavo Lima / Agência Câmara
Fonte: Terra
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