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Política

Serra: suposta pressão de Lula no caso mensalão é 'indevida'

28 mai 2012 - 21h54
(atualizado às 22h04)
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Thiago Tufano
Direto de São Paulo

A notícia de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria pressionado o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para conseguir adiar o julgamento do mensalão também repercutiu na festa dos 24 anos de existência do PSDB, realizada em São Paulo. O pré-candidato à prefeitura da capital paulista José Serra afirmou que qualquer pressão ou interferência é "indevida", mas não acredita que essa possível conversa entre Lula e Mendes surtirá efeito.

"O mensalão é uma coisa muito importante, não estou fazendo nenhum juízo prévio e é importante que seja julgado, como tenho certeza que o STF o fará, de maneira isenta e seguindo os critérios das leis e da constituição. Mas não acho que isso mude alguma coisa", afirmou Serra.

Os partidos de oposição protocolaram uma representação contra Lula na Procuradoria Geral da República (PGR). Além disso, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), líder dos tucanos, disse que é necessário apurar três crimes: coação no curso do processo, tráfico de influência ativo e, ainda, promessa de vantagens indevidas.

Já o governador de São Paulo Geraldo Alckmin preferiu não comentar o assunto durante a festa do PSDB no bairro de Higienópolis, zona central de São Paulo. "Vamos aguardar que as pessoas se manifestem. Os poderes devem ser harmônicos, mas independentes. Temos que defender a autonomia e independência dos poderes", disse.

A representação é assinada, além do PSDB, também pelos partidos PPS, Psol e DEM. Líder do DEM, o senador Agripino Maia (RN) disse que os relatos do ministro Gilmar Mendes são gravíssimos, mas não deverão ser assunto da CPI. "Esse assunto não tem nada que ver com CPI. É gravíssimo, denunciado por ministro do Supremo e tem que ser evidentemente esclarecido. Mas nada a ver com a CPI, e por isso mesmo representamos na PGR", explicou.

Encontro

Segundo reportagem da revista Veja, Lula e Gilmar Mendes teriam se encontrado no escritório do ex-ministro e ex-presidente do STF Nelson Jobim no dia 26 de abril. Lula teria pedido a Mendes o adiamento do julgamento do mensalão pelo STF. Em troca, teria oferecido blindagem na CPI que investiga as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários.

Lula disse ao ministro, segundo a revista, que é "inconveniente" julgar o processo agora e chegou a fazer referências a uma viagem a Berlim, na Alemanha, em que Mendes se encontrou com o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), hoje investigado por suas ligações com Cachoeira.

O mensalão do PT

Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.

No relatório da denúncia, o ministro Joaquim Barbosa apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.

Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.

O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

A então presidente do Banco Rural Kátia Rabello e os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson.

Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e do irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.

José Serra (centro) participou de evento em comemoração ao aniversário do PSDB, ao lado do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (dir.) e o secretário estadual de Cultura, Andrea Matarazzo (esq.)
José Serra (centro) participou de evento em comemoração ao aniversário do PSDB, ao lado do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (dir.) e o secretário estadual de Cultura, Andrea Matarazzo (esq.)
Foto: Terra Britto / Futura Press
Fonte: Terra
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