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Política

Ser prefeito de SP não está no "contrato", diz vice de Serra

25 out 2012 - 10h48
(atualizado às 11h42)
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Marina Novaes
Direto de São Paulo

Após ter comandado uma das principais secretarias da prefeitura de São Paulo durante seis anos - a de Educação (2006-2012) - e ter trabalhado em outras três secretarias estaduais de governo, Alexandre Schneider (PSD) só estreou em uma disputa eleitoral neste ano, quando foi convidado para ser vice na chapa que tenta eleger como prefeito o ex-governador José Serra (PSDB). Aos 43 anos, ele diz se sentir "preparado para o que vier", e atribui a confiança à versatilidade que exibe em seu currículo, embora reitere não contar com a hipótese de ter de assumir a prefeitura, já que "desde o começo esse é o contrato" firmado com o tucano.

Alexandre Schneider (PSD), 43 anos, concorre a vice-prefeito do candidato José Serra (PSDB) em São Paulo
Alexandre Schneider (PSD), 43 anos, concorre a vice-prefeito do candidato José Serra (PSDB) em São Paulo
Foto: Léo Pinheiro / Terra

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"O Serra claramente mostrou que quer ficar os quatro anos na prefeitura e, eventualmente, até se candidatar novamente (à reeleição). Então desde o começo esse é o contrato", explicou, em entrevista na reta final da campanha.

Schneider conversou com o Terra na última sexta-feira (19) à noite, após um encontro com cerca de 150 professores da rede municipal de ensino, na região do Tatuapé, zona leste da capital paulista. Marcada para as 19h, a reunião atrasou e começou por volta das 20h15, invadindo o início do esperado capítulo final da novela Avenida Brasil. Após ouvir as manifestações de apoio dos professores aliados, e as críticas ao adversário Fernando Haddad (PT) - que no dia anterior o citou durante um debate - , o ex-secretário iniciou sua fala se desculpando por ter atrapalhado o fim do folhetim televisivo.

"Em primeiro lugar, gostaria de agradecer muito a presença de todos aqui. Uma sexta-feira, depois de uma semana inteira de trabalho, pertinho de a gente descobrir quem foi que matou o Max. Eu estou achando que não foi o 'Gepeto' que matou o Max", afirmou, arrancando risos da plateia.

Em seguida, mudou o semblante para esclarecer a inserção eleitoral divulgada na TV e no rádio pelo PT, que o acusava de responder a um processo na Justiça por uma suposta irregularidade em sua gestão.

"Eu como homem público tenho obrigação de dizer a vocês: eu tenho um processo sim. (...) Em 2006, nós contratamos um curso com uma fundação para fazer a formação de gestores, um curso que tinha sido contratado pelo MEC em 2005. (...) Em nenhum momento fomos questionados se o preço era adequado, se o dinheiro foi bem gasto, ou se o curso foi ou não feito. A discussão é: se deveria ou não deveria ter feito licitação. Estou muito tranquilo em relação a isso, porque, ao contrário do que pode parecer lá, eu não estou sendo acusado de desviar dinheiro", justificou.

Família

Nascido no Rio de Janeiro em 1969, Schneider morou na capital fluminense e no Recife (PE) por pouco tempo, mas foi em São Paulo onde passou a maior parte de sua vida, para onde se mudou com os pais e três irmãos ainda criança. Casado, pai de três meninos de 13, 10 e 4 anos - dois do primeiro casamento e um da união atual -, ele contou que foi avisado pelo filho mais velho da inserção do PT, e afirmou que, desde o início, sua maior preocupação ao ingressar na disputa era como sua família reagiria à exposição pública.

"Para mim foi uma preocupação muito grande, não só quando surgiram essas propagandas, mas mesmo durante o processo de eleição, porque a gente precisa ensinar que é um processo como qualquer outro, que não pode ficar bravo, que não é bom ficar com raiva das pessoas que falam mal dos seus pais", revelou. "Mas esse mesmo filho foi quem me tranquilizou, ele me ligou dois dias depois e falou: 'pai, fica tranquilo porque a gente sabe que nem fila você fura, então pode deixar que vou te defender'."

Educação em foco

Indicado pelo prefeito Gilberto Kassab (PSD) para ser vice da chapa tucana, Schneider tinha como "missão" eleitoral equilibrar uma eventual vantagem que Haddad, ex-ministro da Educação, e Gabriel Chalita (PMDB), ex-secretário estadual, na área, que pela primeira vez ficou, de fato, no centro da discussão.

Como secretário municipal, orgulha-se de ter "estreitado o diálogo" com os professores da rede pública, e de ter elevado de 60 mil para pouco mais de 200 mil o número de crianças nas creches, embora não tenha conseguido zerar o déficit de vagas, uma das promessas de Kassab na campanha de 2008. "Fico orgulhoso quando vejo que o nosso adversário não conseguiu, e sei que tentaram muito, encontrar um professor da rede municipal para falar mal da gente em seu programa", disse.

Político, ele evita partir "para cima" dos rivais, e diz que no "calor da campanha" qualquer análise fica comprometida. Ele, porém, considera que Haddad fez pouco com o volume de recursos que teve à disposição. "Poderia ter feito mais do que fez. (..) Em relação ao ensino fundamental e ao ensino médio, especialmente, o ministério ficou devendo. O ensino médio está patinando no país, não houve uma discussão clara de currículo que envolvesse os Estados. Você tem o ProUni, que é um programa de bolsas, que é um programa bom, mas que em si não é um política educacional", avalia.

Trajetória e ingresso no PSD

Apesar de ser novato em disputas eleitorais, o vice de Serra ingressou na política quando cursava a faculdade de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), onde posteriormente cursou o mestrado em gestão pública. Nos anos 1990, participou da elaboração do plano de governo do então candidato ao governo Mário Covas (PSDB), em 1994, dando início a sua trajetória no governo - na época, era filiado ao PSDB. No ano passado, ele aceitou o convite do prefeito Gilberto Kassab para deixar o PSDB e se filiar ao PSD, partido recém-fundado pelo ex-democrata.

"Eu olhei para o quadro e achei que, eventualmente, o PSDB pudesse ter uma candidatura de oposição, naquele momento. E eu achei que não ia ser adequado eu ficar no partido", explicou.

Gestão Kassab

Sobre a má avaliação de Kassab como prefeito - gestão da qual participou -, Schneider diz que, passada a fase eleitoral, a população avaliará mais favoravelmente a administração atual, mas admite que a fundação do PSD, em 2011, contribuiu para prejudicar sua imagem. De acordo com pesquisa de setembro do Datafolha, 48% dos entrevistados consideravam a gestão atual ruim ou péssima, e 29% a avaliavam como regular.

"O tempo ainda vai mostrar que ele foi um excelente prefeito. Hoje quando você pega fotos, relatórios dessa cidade de como ela era há 8 anos e como ela é hoje, embora ainda tenha problemas, ela é insuperavelmente melhor", diz.

Questionado se uma eventual aproximação do PSD com o governo federal e o PT para formar uma aliança de olho em 2014 comprometeria a parceria entre ele, Serra e Kassab, Schneider desconversa. "2014 está muito longe ainda, então não dá para saber o que vai ser esse jogo. (...) Você vê aqui, por exemplo, nossa disputa com o PT é dura, o próprio Kassab já fez críticas ao candidato do PT defendendo a gestão dele. E, por outro lado, o candidato do PT também fez duras críticas à gestão dele."

Papel do vice

Discreto, Schneider costuma acompanhar as agendas de Serra, mas em poucas ocasiões discursa, a não ser quando tem agendas próprias. "Na verdade, eu entendo assim: o vice, em primeiro lugar, precisa não atrapalhar o candidato. Em seguida, se puder ajudar é bom. Óbvio que quando eu estou com o Serra, eu fico bem mais discreto. Não procuro ficar dando cotoveladas para aparecer nas fotos, esse não é meu estilo... Quando eu estou sozinho aí eu vou mais para o contato direto com as pessoas, que é algo que eu gosto muito. Isso que é legal em uma campanha: essa experiência de ter de convencer alguém a votar em você é algo muito interessante", reflete.

Já sobre seu papel na Prefeitura, caso a chapa seja eleita no próximo domingo (28), o ex-secretário afirma estar à disposição para atender ao "desenho de governo" que Serra decidir montar. "Eu não imaginava nem que seria candidato. No fundo quem define isso é o prefeito. Não adianta fazer planos pra você ser alguma coisa que não depende muito de você. Quer dizer, é o prefeito, se eleito, que vai definir a equipe dele, e ao definir a equipe dele ele irá definir o meu papel. Eu não pensei nisso porque eu sei que vai depender do desenho que ele montar do governo."

Opiniões e curiosidades

Alinhado à campanha tucana, Schneider também tem opiniões semelhantes às de Serra em relação aos temas polêmicos que surgiram durante a corrida eleitoral: é a favor da inspeção veicular com a cobrança de taxa; é contra o pedágio urbano e ampliação de rodízio de veículos na cidade; e também é contra o aborto e à legalização da maconha. Já para combater a homofobia dentro das escolas - tema intensamente debatido por conta do famigerado "kit" elaborado pelo MEC -, Schneider evita polemizar, e defende apenas o treinamento de professores para formar "uma cultura de tolerância e respeito às diferenças dentro das escolas."

Vegetariano, ciclista e fã de jazz - ele toca saxofone e chegou a integrar uma banda cover do Tim Maia quando era mais jovem -, faltou alinhar com Serra a preferência na área esportiva: enquanto o tucano é torcedor do Palmeiras, o time do coração de Schneider é o Corinthians.

Fonte: Terra
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