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Política

Santo André deve repetir polarização e lembrar de caso Celso Daniel

16 jul 2012 - 16h24
(atualizado às 16h49)
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Murilo Matias

Duas questões históricas devem nortear a disputa pela prefeitura de Santo André, uma das mais importantes cidades da região metropolitana de São Paulo. A tradicional polarização da eleição municipal entre PT e PTB se repete mais uma vez em 2012. Os dois partidos se alternam no comando da cidade desde 1983. O outro fato que permanece vivo no município é a presença do sobrenome Daniel nas disputas eleitorais, representado por Rafael Daniel (PMN), sobrinho do ex-prefeito Celso Daniel, assassinado em 2002. O bloco, encabeçado pelo PMDB e do qual Rafael faz parte, também faz referência ao ex-chefe do executivo local no nome da coligação: "Viva Celso Daniel".

Em 2008, Aidan Ravin (PTB) conseguiu romper um ciclo de três vitórias petistas nas últimas eleições de Santo André. O petebista conquistou a prefeitura derrotando, no segundo turno, o candidato Vanderlei Siraque (PT), obtendo 55% dos votos e tentará repetir o desempenho neste ano. Candidato à reeleição, Aidan deve ter novamente no PT seu principal adversário na tentativa de se manter à frente da administração municipal. Na única pesquisa de intenção de voto realizada na cidade, divulgada no início de junho, o Instituto Opinião apontou a liderança do atual prefeito com 35% das intenções de voto, enquanto o deputado estadual Carlos Grana (PT) apresenta 19,6% da preferência do eleitorado local.

Apesar da boa vantagem do petebista, cuja assessoria não retornou aos pedidos de contato da reportagem, o PT acredita em uma vitória em Santo André. Segundo o presidente municipal da legenda e coordenador da campanha de Grana, Luiz Turco, a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a falta de investimentos da atual gestão são dois pontos que farão diferença na campanha.

"Governamos a cidade por 16 anos, perdemos a ultima eleição por um descuido e entramos na campanha para voltar a governar Santo André. Temos uma candidatura que é uma novidade, um candidato jovem, que unificou o partido. Nosso mote é fazer com que o governo volte a dialogar com a cidade. Temos uma avaliação de que o atual governo deixou de fazer muitos investimentos para Santo André. Além disso, tivemos dois diálogos com Lula e ele já anunciou publicamente que a partir do mês de agosto deve fazer eventos na região do ABC. Estamos confiando que a partir do mês que vem ele possa participar", relatou Turco.

Longe da polarização
Apesar de os candidatos de PTB e PT credenciarem-se como favoritos, o ex-deputado federal, Raimundo Salles (PDT), aparece como ameaça às duas principais candidaturas. Contando com o apoio do PSDB e de outros sete partidos, o candidato acredita que conquistará mais votos do que em 2008, quando ainda pelo Democratas conquistou 19% dos votos no primeiro turno das eleições.

"Tudo melhorou pra mim. O meu amadurecimento pessoal, a maior experiência, me sinto mais preparado. Além disso, tenho o PSDB como meu vice, o apoio do Alkcmin (governador de São Paulo), da executiva estadual do PSDB e a força sindical com o PDT. Consegui unir o trabalhismo com a social democracia. Estamos em um bom caminho e temos condições de apresentar um projeto alternativo. Existe uma dicotomia entre PTB e PT e me apresento como uma alternativa a isso", declarou Salles.

Outras três candidaturas, com menor projeção, também se colocam em Santo André: Flaquer (PRTB), Marcelo Reina (Psol) e Nilson Bonome (PMDB), cujo nome da coligação cita o ex-prefeito Celso Daniel. "A escolha do nome da nossa coligação não se deu por minha conta. Ela foi baseada na realidade de Santo André, que sente falta do Celso, da administração e da pessoa dele. Sabemos o que o Celso fez e oque que poderia fazer ainda pela cidade. É uma homenagem e uma motivação para o nosso trabalho", afirmou o candidato a vice, Rafael Daniel (PMN).

Com relação à influência do caso Celso Daniel, o presidente municipal do PT avalia que o fato será mencionado durante a campanha, mas não teme que haja um prejuízo à candidatura petista por conta do episódio. "Toda eleição desde a morte do Celso Daniel a mídia e a oposição tem colocado essa questão na pauta, mas isso não refletiu nas urnas aqui na cidade. Lula e Dilma ganharam aqui, logo depois da morte do Celso elegemos o prefeito. É uma questão superada, evidentemente chegará o momento em que a oposição vai querer falar sobre isso, mas o efeito é muito pouco".

A morte de Celso Daniel
Então prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel (PT) foi sequestrado em 18 de janeiro de 2002, quando saía de um jantar. O empresário e amigo Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, estava no carro com ele quando foi rendido. O político foi levado para um cativeiro na favela Pantanal, em Diadema (Grande ABC), e, depois, para uma chácara em Juquitiba, a 78 km de São Paulo, sendo assassinado a tiros dois dias depois. Na época, o inquérito policial concluiu que Celso Daniel teria sido sequestrado por engano e acabou morto por uma confusão nas ordens do chefe da quadrilha. Mas a família solicitou a reabertura das investigações ao Ministério Público.

As novas averiguações apontaram que a morte de Celso Daniel foi premeditada. As contradições entre as declarações de Sombra e as perícias feitas pela polícia lançaram suspeitas sobre o amigo do então prefeito. Ele havia dito que houve problemas nas travas elétricas do carro em que os dois estavam, que houve tiroteio com os bandidos e que o carro morreu. Mas a perícia da polícia desmentiu todas as alegações.

O MP denunciou sete pessoas como executoras do crime, sendo que Sombra foi apontado como o mandante do assassinato. Ele foi denunciado por homicídio triplamente qualificado - por ter contratado os assassinos, pela abordagem ter impedido a defesa da vítima e porque o crime garantiria a execução de outros. De acordo com o MP, o empresário fazia parte de um esquema de corrupção na prefeitura de Santo André que recebia propina de empresas de transporte, mas Celso Daniel teria tomado providências para acabar com a fraude, o que motivou a morte. Ele nega a acusação.

A Justiça decidiu levar todos os acusados a júri popular. Além de Sombra, José Edson da Silva, Elcy Oliveira Brito, Ivan Rodrigues da Silva, Itamar Messias Silva dos Santos e Rodolfo Rodrigo dos Santos Oliveira serão julgados pela prática de homicídio qualificado (por motivo torpe, mediante paga ou promessa de recompensa e por impossibilitar a defesa da vítima), cuja pena máxima é de 30 anos de reclusão. Em novembro de 2010 aconteceu a primeira condenação do caso: Marcos Roberto Bispo dos Santos pegou 18 anos de prisão em regime fechado.

Fonte: Terra
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