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Política

PRB de Russomanno tem 66% dos dirigentes ligados à Universal

20 set 2012 - 17h12
(atualizado em 21/9/2012 às 10h58)
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TIAGO DIAS

Na sabatina realizado pelo canal Record News, no último dia 13, o candidato à prefeitura de São Paulo pelo PRB, Celso Russomanno, foi indagado pelo jornalista Heródoto Barbeiro se ele era candidato da igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e da Rede Record. Russomanno, como já vinha enfatizando publicamente, respondeu: "Sou candidato de todas as igrejas". Sobre a Record, afirmou: "não existe isso. Se sou, não estou sabendo". Na prática, porém, o que pode ser percebido são laços estreitos que unem a emissora, a igreja e o partido. Um número significativo de lideranças do PRB, que participam do núcleo que determina os caminhos da legenda, são ou foram pastores, bispos e dono de afiliada da Record.

Segundo levantamento feito pelo Terra, por meio das informações disponíveis no site do partido, pelo menos 66% das lideranças do PRB têm ou já tiveram ligações com a igreja universal. Quando é levado em conta o envolvimento com o grupo Record, o número sobe para 73%, embora existam membros com ligação tanto na emissora quanto na igreja.

O levantamento levou em consideração os 18 membros da executiva nacional (55% deles têm ou tiveram participação na Universal e na Record) e os 26 presidentes estaduais do partido (onde a relação é mais abrangente: 85% dos membros já tiveram ou têm relação com a igreja, com a emissora ou com ambas) - o presidente do PRB no Pará, pastor Raul Batista de Souza, já foi contabilizado na lista da executiva, onde acumula a função de suplente. O Terra não conseguiu informações sobre sete dos membros da executiva nacional, por não terem, aparentemente, vida pública. Eles não foram contabilizados na pesquisa.

Tal ligação é chamada pelo cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) Claudio Gonçalves Couto de "empreendimento". "Igreja, Record e PRB fazem parte do mesmo conglomerado, um empreendimento. E os laços são estreitos", opina. Couto realizou o mesmo levantamento e divulgou os resultados em um artigo publicado no jornal O Estado de S.Paulo no último dia 18.

O PRB afirma que não dispõe do número oficial de participantes (ou ex-integrantes) das duas organizações na executiva nacional e nas direções estaduais. O presidente nacional do PRB, Marcos Pereira, que já foi vice-presidente da Record e é bispo licenciado da Universal, rechaça qualquer vínculo entre o partido, a igreja e a emissora. Para ele, a grande participação de bispos e pastores entre os dirigentes não é motivo para ilações entre as três partes, muito menos para um conflito ético: "Não há nenhum conflito. Se fosse um partido religioso, até seria. Mas a gente não tem ligação com a Universal. Não discutimos religião (no PRB), discutimos política", minimizou.

Em entrevista ao Terra, Pereira diz fazer um desabafo. "Estou cansado de responder sobre isso", avisou. "Pedi licença para a igreja em 1994. Há 18 anos eu venho exercendo atividades acadêmicas e como advogado. Daqui a pouco vão dizer que a Universal interfere nas minhas aulas", reclama. Pereira ainda afirma que há muitos integrantes da Universal que são candidatos por outros partidos, assim como no PRB, e dá exemplos de dirigentes que fogem do levantamento, como o suplente e presidente do PRB do Ceará, Miguel Dias de Souza. "Ele é um católico fervoroso. Encontro com ele e ele já chega beijando a santinha", conta. Miguel Dias é dono da TV Cidade, afiliada da Record no Estado e, segundo Pereira, é o único dirigente do partido a ter uma ligação atual com a Record. "O restante são pessoas que já tiveram ligação com a emissora. O tempo verbal faz toda a diferença", opina.

Ex-apresentador da Record, Celso Russomanno afirma categoricamente que seu partido é misto e que, assim como ele, 80% dos integrantes são católicos. Evangélicos somariam 20% e apenas 6% dessa faixa seriam da Universal - a informação também é reproduzida por Pereira. O candidato tem procurado dizer que defende o Estado laico, ao ser questionado sobre os apoios de igrejas em torno de sua candidatura, e sempre que possível afirma haver uma distância entre ele e a opinião de dirigentes.

Para o cientista político, a relação entre partido e candidato é intrínseca. "É claro que um prefeito tem até certa autonomia, mas não dá pra afirmar que ele (Celso Russomanno) fará uso dessa autonomia. Há um grau de lealdade do partido com suas lideranças, pode ser que uma gestão não contrarie algum tipo de interesse", explica. O especialista ainda questiona: "E sobre os ruídos dos templos, como será que a prefeitura do Celso Russomanno vai lidar com essas questões?"

Comissões Provisórias
Além de ser maioria na Executiva Nacional do partido, lideranças do partido ligadas à Record e, em sua maior parte, à Universal, aparecem em maior número nos Estados. Dos 27 presidentes, apenas 4 (15%) não têm ou não tiveram vínculo com a igreja Universal ou o grupo Record. O número dos dirigentes que são ou foram pastores é grande: 18. Bispos somam 4.

Há ainda lideranças locais que trazem a ligação com a igreja e com a Record, ao mesmo tempo. É o caso de Jeronimo Alves Ferreira, presidente do PRB de Santa Catarina, que é bispo licenciado e, segundo Pereira, ex-presidente da Record no Rio Grande do Sul.

Segundo o professor Cláudio Gonçalves Couto, a presença massiva de bispos e pastores deve-se à estrutura do partido, que não possui diretórios, mas sim "comissões provisórias". "Em uma comissão, os membros são indicados pela executiva nacional, que possui total controle sobre eles. No caso de PRB, os presidentes estaduais foram indicados pelo centro. Uma esmagadora parcela deles faz parte da Universal, isso reflete uma diretriz do partido. Essa ligação é um fato", explica Couto. O presidente nacional do PRB, Marcos Pereira, afirma a estrutura será revista, mas garante autonomia nos Estados. "Pergunte para cada um dos 27 presidentes. De preferência para aqueles que não são membros da Universal", pede.

Couto, porém, afirma que o modelo diminui até a participação dos filiados e outros integrantes dos partidos. "Os filiados podem ser apenas 6% da Universal, mas isso não importa, eles não conseguem definir os rumos do diretório, do partido"

Um candidato católico
O fato de Celso Russomanno ser católico é um "trunfo" para o PRB, na análise de Couto. Para ele, a escolha é mais palatável aos eleitores paulistas. "Os evangélicos ainda são encarados de forma pejorativa, há um preconceito disseminado. Quando uma pessoa diz que é católica, isso não quer dizer muita coisa, são pessoas que não necessariamente têm pra si os ideias da religião. Ter um candidato que se diz católico é um trunfo pro PRB."

O professor avalia que, se o candidato fosse da própria Universal, dificilmente teria os 35% das intenções de votos que Russomanno tem, segundo as últimas pesquisas. "É provável que ele não estivesse tão bem. Há uma rejeição. É só ver o do (ministro da Pesca, Marcelo) Crivella (PRB), que chegou a disputar o Senado no Rio de Janeiro, mas perdeu", explica.

Para ele, a escolha pelo candidato é encarada como um "negócio", assim como as escolhas na grade da emissora. "O negócio dos partidos é ganhar a eleição e exercer o poder. O maior instrumento que o PRB tinha era lançar o Russomanno. Do ponto de vista da Record, existe o reality show A Fazenda. Não é contraditório uma empresa da Universal ter um programa com apelo erótico? Da lógica empresarial, faz sentido", afirma.

O presidente nacional do PRB volta a rebater e pergunta: "Você acha que o Celso Russomanno e o vice dele, o (Luiz Flávio) D'Urso, um advogado respeitado, iam se submeter à igreja Universal?"

Os 6 mais importantes no PRB:

Marcos Antônio Pereira - Presidente Nacional do PRB
Ligação: Bispo licenciado da igreja Universal e ex-vice-presidente da Record

Candidato à prefeitura de São Paulo pelo PRB, Celso Russomanno, ao lado do presidente nacional de seu partido, o bispo licenciado Marcos Pereira
Candidato à prefeitura de São Paulo pelo PRB, Celso Russomanno, ao lado do presidente nacional de seu partido, o bispo licenciado Marcos Pereira
Foto: Fernando Borges / Terra

É coordenador de campanha de Celso Russomanno e se envolveu recentemente em uma polêmica com a igreja Católica. Em um artigo escrito em seu blog em 2011 - e divulgado nas redes sociais na semana passada -, Pereira criticava a igreja católica por influenciar decisões do governo federal.

George Hilton Cecílio - Presidente do Conselho de Ética
Ligação: Pastor da Universal


O deputado federal concorre à prefeitura de Contagem (MG). Em 2005, foi expulso do PFL após ter sido supostamente flagrado em um aeroporto transportando dinheiro proveniente de doações de fiéis da Universal. Em sua biografia no site oficial, consta que George Hilton é teólogo, mas não informa sua atividade na igreja como pastor. É também cantor e apresentador gospel.

Antônio Bulhões - Presidente do Conselho Político e líder do PRB na Câmara dos Deputados
Ligação: Bispo e ex-apresentador do Fala Que Eu Te Escuto, da Record


Bispo da IURD, apresentou o programa

Fala que eu te escuto

da igreja, transmitido pela Rede Record. Bulhões é deputado reeleito. Segundo sua biografia, dedicou-se à vida de pastor aos 15 anos. Aos 27, já era bispo.

Eduardo Lopes - 1º vice-presidente e líder do PRB no Senado
Ligação: Bispo licenciado da Universal


Suplente do senador e bispo Marcello Crivella, Eduardo Lopes assumiu a cadeira logo após a ida de Crivella ao ministério da Pesca. Se licenciou do cargo de bispo em março.

Heleno Silva - 2º Vice-presidente
Ligação: Pastor da Universal


Deputado federal, o pastor é acusado de formação de quadrilha e corrupção passiva por suposta participação no escândalo dos Sanguessugas. O processo tramita no STF em segredo de Justiça. No Twitter, ele avisa: "sou Pastor e Deputado Federal. Escolhido por Deus e eleito por seu povo"

Evandro Garla - Secretário-Geral
Ligação: Pastor da Universal


O pastor da IURD é o único deputado a fazer parte do bloco

PT

-PRB na bancada. Embora não seja divulgado em seu histórico e biografia, é pastor da IURD.

Fonte: Terra
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