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Política

Pesquisas: 'azarões' em 2008, prefeitos de SP, RJ e BH se elegeram

1 jul 2012 - 08h29
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Demétrio Rocha Pereira

Há quatro anos, Gilberto Kassab (então DEM, hoje PSD) aparecia em terceiro em pesquisa de intenção de voto para a prefeitura de São Paulo, seus 11% muito distantes dos mais de 30% de Marta Suplicy (PT) e de Geraldo Alckmin (PSDB). A mesma posição era amargada por Eduardo Paes (PMDB) no Rio de Janeiro, Marcio Lacerda (PSB) em Belo Horizonte, João da Costa (PT) no Recife e João Henrique (então PMDB, hoje PP) em Salvador. Iguais nos maus agouros a inícios de campanha, esses políticos coincidem ainda hoje: são, todos eles, prefeitos.

Antes de ser qualquer indício de inconfiabilidade das pesquisas, a consagração de azarões pelas urnas demonstra que a virada de mesa no período de campanha é mais frequente do que se poderia supor. O cientista político Gaudêncio Torquato encontra explicação, entre outros fatores, na força da propaganda eleitoral.

"Quem está muito na frente tende a cair. Quem esta atrás e conta com estrutura de TV e rádio densa, apoio partidário forte, máquinas governamentais, apoio de governos de município, da União, do governo federal, evidentemente tende a crescer. Particularmente, levando em consideração a exposição na mídia. O programa eleitoral é fundamental para levar o candidato até as margens da sociedade, torná-lo conhecido e visível. A tendência do eleitor é apreciar devagar os candidatos menos conhecidos", afirma Torquato.

O analista chega a considerar que um candidato que larga na frente não se encontra em posição das mais confortáveis. "Nem sempre é interessante estar muito na frente. Sempre achei muito mais cômodo e interessante trabalhar com quem tem 10% (de intenções de voto) do que quem tem 45%, 50%, porque a tendência desse é cair, e a tendência daquele é de aumentar."

Diante desse movimento, a resposta do eleitor seria a de favorecer a candidatura que aparente ascensão. "Há uma ideia de crescimento, uma propensão do eleitorado de se mostrar favorável a quem está subindo. É um fenômeno da opinião pública que se cria em torno dos candidatos", afirma Torquato.

Para o cientista político, entretanto, cultivar a simpatia do eleitor também demanda bom currículo. "Particularmente, são favorecidos candidatos com ficha limpa, sem fumaça em torno de seu perfil", avalia.

No último dia 18, o PT garantiu mais tempo de TV ao receber o apoio de um tradicional adversário, o deputado Paulo Maluf (PP-SP). O minuto e meio a mais, apesar de ter afastado a deputada Luiza Erundina (PSB), que concorreria a vice, teria a capacidade de catapultar a candidatura de Fernando Haddad. "São parcerias feitas para se ganhar um dos maiores ativos da campanha, que é o tempo eleitoral. Isso é fundamental, é um ganho imensurável na campanha", sustenta o analista.

Na última pesquisa Datafolha, o afilhado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva divide a terceira colocação com Gabriel Chalita (PMDB), Soninha Francine (PPS) e Netinho de Paula (PCdoB), que retirou sua candidatura. "Evidentemente, um candidato com 10%, 11% tem grandes possibilidades de crescer quando tem tempo de TV de cinco ou seis minutos", afirma Torquato, apontando que Chalita tem "grandes condições" de crescimento e que o tempo de propaganda conquistado pelo PT é muito significativo.

Com aval do Supremo Tribunal Federal (STF), o PSD terá direito a propaganda eleitoral e proporcional à bancada de 48 deputados federais, o que beneficia a candidatura de José Serra (PSDB), que tem liderado as pesquisas de intenção de votos entre os paulistanos.

O pódio dos azarões

Em 25 de julho de 2008, faltava 25 dias para o início da propaganda eleitoral na TV e no rádio, e o Datafolha apontava Marta e Alckmin liderando a corrida pelo Executivo paulistano. Kassab atribuía o cenário polarizado e a previsão de trajetória descendente para a sua candidatura à sua estreia em eleições majoritárias - o mesmo que vem dizendo Haddad.

No Rio de Janeiro, Paes subia quatro pontos e chegava a 13%, empate técnico com os 16% de Jandira Feghali (PCdoB), que aparecia atrás de Marcelo Crivella (PRB) na pesquisa do Datafolha. Eram contados 20 dias de campanha, e o peemedebista era o único candidato em trajetória ascendente nos infográficos dos jornais.

Na capital baiana, dois Antonios acotovelavam-se na primeira posição: ACM Neto (DEM) e o ex-prefeito Imbassahy (PSDB), que havia rompido com a família Magalhães. Nenhum deles chegaria ao segundo turno. O prefeito João Henrique, a quem era atribuído considerável índice de rejeição, acabou reeleito com quase 60% dos votos na disputa contra Walter Pinheiro (PT).

A candidatura de Jô Moraes (PCdoB) liderava com folga em Belo Horizonte - ele vinha 11 pontos percentuais à frente de Leonardo Quintão (PMDB). Cinco candidatos apareciam empatados na terceira colocação, entre eles aquele que, no segundo turno, seria eleito. Apoiado pelo governador Aécio Neves (PSDB) e pelo então prefeito, Fernando Pimentel (PT), Marcio Lacerda (PSB) recebeu 59,12% dos votos, contra 40,88% de Quintão.

Segundo o Datafolha, João da Costa (PT) dividia a segunda colocação no Recife com Cadoca (PSC), ambos 8 pontos atrás de José Mendonça Filho (PSDB). Praticamente desconhecido pela popuilação no início da campanha, Costa recebeu o apoio de Lula e do governador Eduardo Campos (PSB), vencendo as eleições ainda no primeiro turno, com 51% dos votos.

Gilberto Kassab (PSD), Eduardo Paes (PMDB) e Marcio Lacerda (PSB) contrariaram pesquisas e venceram nas urnas
Gilberto Kassab (PSD), Eduardo Paes (PMDB) e Marcio Lacerda (PSB) contrariaram pesquisas e venceram nas urnas
Foto: João Luiz - Secom-SP/Beth Santos/Divulgação / Divulgação
Fonte: Terra
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