Partidos buscam famosos para "puxar votos" nas eleições
15 jun2012 - 11h05
(atualizado às 11h31)
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Thaís Sabino
A cena se repete a cada dois anos: famosos decoram um número e um punhado de promessas e vão à TV pedir votos. Apenas na campanha de 2010, participaram da disputa os ex-jogadores de futebol Vampeta e Marcelinho Carioca; o cantor Netinho de Paula; o lutador Maguila e o palhaço Tiririca, que acabou eleito com 1,3 milhão de votos. As eleições deste ano não devem ser exceção, com as prováveis candidaturas de Charles Henriquepedia (PTdoB); do filho de Tiririca, Tirulipa (PSB); de João Kléber (PTB) e de Léo Áquila (PV). A intenção dos partidos seria a de usar a celebridade como "puxador" de votos para eleger o maior número possível de candidatos.
"Nas eleições proporcionais (vereadores e deputados), se o Tiririca faz mais de 1 milhão de votos, ele não apenas se elege, como leva mais três ou quatro no cangote", diz o porta-voz do PDT, Oswaldo Maneschy.
Para o deputado estadual e pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro Marcelo Freixo (Psol), colocar um famoso como candidato já "virou estratégia eleitoral". "Elege um famoso, esse arrasta uma bancada inteira. Dependendo do famoso, consegue colocar mais dois ou três candidatos não eleitos na Câmara." O sistema de eleição proporcional destinam os votos de um vereador ou deputado ao partido, cujos demais candidatos acabam beneficiados. "Por exemplo, se o Neymar é candidato, certamente vai explodir de votos, que serão somados aos das pessoas com pouquíssimos", explicou Freixo.
Em um cenário em que Neymar recebesse 800 mil votos, o número seria dividido pelo total de cadeiras para vereadores e, supondo que o resultado (coeficiente eleitoral) obtido fosse 70 mil, o partido elegeria um novo vereador a cada 70 mil votos. "Nesse exemplo, ele poderia fazer mais de 10 (vereadores). Mas, na realidade, é muito difícil ultrapassar quatro ou cinco. Na última eleição, eu tive 177 mil votos e levei comigo uma deputada com apenas 6 mil", lembrou Freixo.
A consultora política Gil Castillo afirma que a primeira análise feita para confirmar a viabilidade da candidatura é aferir o quanto o respectivo famoso é, de fato, conhecida. "Se a pessoa tem (re)conhecimento alto e, de certa forma, agrada o eleitor, é uma chance de o partido se dar bem. Alguns candidatos do Legislativo jamais teriam votos suficientes se os votos fossem diretos", disse.
O especialista em marketing político Carlos Manhanelli vê eficácia na estratégia. "Mesmo que ele (o famoso) só fizer tchauzinho na TV, vai ter um bom número de votos. Soma votos de legenda, leva mais vereadores ou deputados." Para ilustrar sua tese, Manhanelli lembra o caso de Enéas Carneiro (Prona, PR), que ganhou fama com o bordão "meu nome é Enéas". "Quando ele aparecia, começou a falar para as pessoas que esquecessem o número dele - votassem no 56, que estaria votando nele", lembrou. Em 2002, Enéas foi o deputado mais votado do País, com mais de 1,5 milhão de votos.
O presidente do PTdoB, Vinícius Cordeiro, admite que o partido adota o expediente de dedicar mais tempo na televisão para candidatos famosos. "O Tiririca foi amplamente ajudado pelo partido que o colocou nas inserções. Foi colocado como puxador de voto. A gestão de um partido acha que o candidato terá mais votos e destina mais tempo de propaganda a ele", diz Cordeiro.
Famoso ou anônimo
"Nós temos alguns princípios de marketing político: só se vota em quem se conhece. Quando você tem uma pessoa muito famosa, o primeiro trabalho que você faz numa campanha, que é tornar o candidato conhecido, já está feito", afirma Manhanelli. Um candidato famoso, segundo o especialista, tem "de 30% a 35% mais chances de ser eleito do que um anônimo" e ainda pode fazer uma campanha mais barata. O mesmo vale para candidatos de reeleição.
Mas, para ser eleito, não basta ter fama. "Eu fiz um estudo de todos os famosos que tentaram entrar na política. Poucos foram os que conseguiram", observa Manhanelli.
De acordo com Gil Castillo, existem outros componentes para o sucesso nas eleições. "O candidato tem que representar alguma ideia, ser líder de algum seguimento. Nas eleições passadas, as candidaturas do Romário e do Tiririca se consolidaram porque eles representavam algo. Romário, o esporte; o Tiririca, o voto de protesto", explicou. Para a consultora, as propostas do candidato precisam atender aos anseios da população.
Cordeiro ainda observa que o uso de celebridades para puxar votos é mais comum em candidaturas de deputados que de vereadores, já que, nas eleições municipais, há mais contato com os eleitores. "Se a pessoa tem mais atuação na comunidade, já tem votos garantidos, mais até do que um famoso", sustenta.
A Lei enfraquece os fracos
Para o porta-voz do PDT, o controle da propaganda eleitoral deixa os candidatos desconhecidos e com menos condições financeiras em desvantagem. "Hoje em dia, é impossível uma figura sair do zero e ganhar as eleições. O candidato que sai do zero não pode nem ser notícia. Antigamente, podia pintar muros, colocar cartazes e outras coisas. Hoje, as pessoas precisam perder um tempo danado para dizer que não são vigaristas", sugere Maneschy. Carlos Manhanelli concorda. "A Lei 11.300, de 2006, proibiu brindes e showmício. Protege quem já está no poder e barra as novas lideranças", lamenta.
Codeiro aponta o pouco tempo para se fazer campanha como um fator que impulsiona cada vez mais a eleição de famosos. "A campanha mais curta e restrita não consegue debater as ideias ou levar ao eleitorado um pouco da distinção da chapa. Uma campanha mais politizada e longa diminuiria o voto pela visibilidade midiática", concluiu.
Partidos políticos apostam em candidatos famosos (atores, esportistas, músicos), facilmente lembrados pelos eleitores, porque servem como "puxadores de voto". Isso significa que, se bem votados, podem levar para a legenda até três ou quatro cadeiras a mais nas proporcionais, devido ao coeficiente eleitoral. Os candidatos, no entanto, afirmam que querem se eleger para "fazer a diferença", "moralizar a casa", "cobrar dos governantes". Veja alguns dos que se candidatam em 2012
Assim como a Vovó da Fiel, o eleitorado corintiano também não garantiu a eleição do ex-jogador Dinei (PDT), que recebeu 9.243 votos e, novamente, não conseguiu uma vaga no Legislativo municipal
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
A cantora Rosanah Fienngo, famosa pelo hit O Amor e Poder - aquele do refrão de "Como uma Deusa" - quer tentar a carreira política e será candidata a vereadora pelo PCdoB no Rio de Janeiro. Disposta a se empenhar na empreitada, Rosanah afirmou que, caso seja eleita, vai lutar e "cumprir os horários como toda mulher trabalhadora"
Foto: Divulgação
Suéllem Rocha, conhecida como Mulher Pêra, disputou uma cadeira como vereadora em São Paulo pelo partido PTdoB. Ela não foi eleita, mas teve 2.126 votos
Foto: Fernando Borges / Terra
Situação ainda pior foi a do cantor Kiko do KLB (PSD), que teve sua candidatura indeferida pela Justiça Eleitoral e seus votos não foram computados
Foto: Francisco Capeda / AgNews
Jair Gonçalves Prates, conhecido como "Príncipe Jajá" e ex-jogador do Internacional, tentará uma vaga como vereador de Porto Alegre pelo DEM
Foto: Divulgação
Ércio Quaresma, ex-advogado do goleiro Bruno, disputou uma cadeira como vereador de Belo Horizonte pelo PV e obteve 346 votos
Foto: José Guilherme Camargo/ / Especial para Terra
O evangelizador Eros Biondini, que se apresenta na rádio Canção Nova, deve ser candidato à Prefeitura de Belo Horizonte pelo PTB
Foto: Divulgação
Edi Wilson José dos Santos, conhecido como Dinho, ex-jogador do Grêmio, deve ser candidato a vereador em Porto Alegre pelo DEM
Foto: Patrícia Paes / Divulgação
Conhecida por seu rebolado revelado ao som do sucesso musical Liga da Justiça e pela fantasia de Mulher Maravilha usada no Carnaval Salvador 2011, Cissa Chagas, teve a candidatura à Câmara Municipal de Salvador pelo DEM impugnada e, por isso, não teve votos computados
Foto: Reinaldo Marques / Terra
A cantora Ângela Maria saiu candidata a vereadora em São Paulo pelo PTB, obteve 2.291 votos e não se elegeu
Foto: Paduardo / Futura Press
O humorista Marquito (PTB), do programa do Ratinho, conquistou 22.198 votos, mas também não ocupará nenhuma cadeira na Câmara
Foto: Renato S. Cerqueira / Futura Press
Na política desde 1982, o cantor Agnaldo Timóteo tentou a reeleição como vereador de São Paulo pelo PR. Ele teve 12.009 votos
Foto: Marcelo Fonseca / Futura Press
Cantor Frank Aguiar (PTB), atual vice-prefeito de São Bernardo do Campo (SP), conquistou a reeleição como vice de Luiz Marinho, do PT. O prefeito teve 261.339 votos
Foto: Yala Sena / Especial para Terra
O ex-jogador do São Paulo e do Fluminense, Washington Cerqueira, deve ser candidato a vereador em Caxias do Sul (RS) pelo PDT
Foto: Gaspar Nóbrega/Vipcomm / Divulgação
João Jorge, presidente do Olodum, deve ser candidato a vereador em Salvador pelo PSB
Foto: Divulgação
Reinaldo (à dir.), o Príncipe do Pagode, participou da corrida ao posto de vereador de São Paulo pelo PTB, mas teve a candidatura impugnada e ficou sem votos computados
Foto: Divulgação
O baterista e compositor Marcelo Yuka, também fundador do grupo O Rappa, deve ser candidato a vice-prefeito no Rio de Janeiro pelo Psol
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
A funkeira Verônica Costa foi eleita vereadora no Rio de Janeiro pelo PR com 31.515 votos
Foto: Divulgação
Charles Henriquepedia, famoso pelo conhecimento da biografia dos famosos no programa Pânico na TV, concorreu à Câmara Municipal do Rio pelo PTdoB. Ele obteve 4.795 votos, que não foram suficientes para que ele se elegesse
Foto: Fernando Borges / Terra
O comentarista esportivo Chico Lang, do PTB, recebeu 12.340 votos e não conseguiu se eleger vereador em São Paulo
Foto: TV Gazeta / Reprodução
Tatiane Frizzo (centro), ex- Rainha da Festa da Uva, se candidatou ao posto de vereadora de Caxias do Sul (RS) pelo DEM e foi votada por apenas 655 eleitores
Foto: Festa Nacional da Uva / Divulgação
A dançarina Leo Kret do Brasil conseguiu 7.495 votos, mas não se reelegeucomo vereadora em Salvador pelo PR
Foto: Divulgação
A presidente do Flamengo, Patrícia Amorim, tentou se reeleger como vereadora no Rio de Janeiro pelo PMDB, mas os 11.996 votos que recebeu não foram suficientes
Foto: Alexandre Vidal/FotoBR / Divulgação
O ex-jogador de futebol e ex-técnico do Flamengo, José Luis Andrade da Silva, conhecido como Andrade, recebeu 16.609 votos na eleição municipal do Rio de Janeiro. O candidato a vereador pelo PSDB não conseguiu se eleger
Foto: Márcia Feitosa/Vipcomm / Divulgação
Ator Cláudio Cavalcanti tentará ser vereador do Rio de Janeiro pelo PV
Foto: Divulgação
A ex-VJ da MTV Soninha Francine concorreu à Prefeitura de São Paulo pelo PPS e conseguiu 162.384 votos
Foto: Luis Crispino / Playboy / Divulgação
A transformista Léo Áquilla deve ser candidata a vereadora em São Paulo pelo PV
Foto: Divulgação
O treinador esportivo Dadazinho Rosenwaldo, do Atlético-MG, filho de Dadá Maravilha, se candidatou a vereador em Belo Horizonte pelo PTB. O carisma de seu pai não resultou em votos para o filho, que foi o preferido de apenas 545 eleitores
Foto: Divulgação
Sílvio Humberto, coordenador do Instituto Steve Biko, foi eleito vereador em Salvador pelo PSB com 4.123 votos
Foto: Divulgação
O Palhaço Mortadela (Ariel José Brandão dos Santos), também âncora de programa na rádio local, não conseguiu se eleger vereador em São Leopoldo (RS) pelo PR com seus 1.055 votos
Foto: Divulgação
O cartunista Nani (Ernani Glorio), conhecido em Porto Alegre também por oferecer refeições a preços populares em seu restaurante, foi votado por apenas 366 eleitores e não se elegeu pelo PSOL
Foto: Divulgação
O cantor da banda Kiloucura, Gerson Paulo de Melo, conhecido como Gerson Dupand, tentou vaga de vereador no Rio de Janeiro pelo PSDB. Com apenas 103 votos, não chegou nem perto de atingir o objetivo
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Marcelo Arar, promoter e apresentador de rádio, se reelegeu vereador no Rio de Janeiro pelo PT com 16.756 votos
Foto: YouTube / Reprodução
Ator e apresentador de TV Leandro Fóz tentou a eleição como vereador em Maringá (PR) pelo PT. Com 225 votos, ficou longe da Câmara
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O cantor Robsão (Robson Elias), da banda Black Style, deve ser candidato a vereador em Salvador pelo PR
Foto: Divulgação
Edgar Passos, conhecido como Rei Momo (coroa que ostentou no Carnaval soteropolitano de 2011), se candidatou à Câmara Municipal de Salvador pelo PR e foi o escolhido de 120 eleitores
Foto: Divulgação
Leo Brizola, sobrinho-neto de Leonel Brizola, concorreu à vaga de vereador de Porto Alegre pelo Psol e foi votado 464 vezes