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Política

Marina critica PSDB por divulgar falso apoio a Serra na web

29 out 2010 - 14h19
(atualizado às 14h27)
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Altino Machado
Direto de Rio Branco

A candidata derrotada à presidência da República, Marina Silva (PV-AC), criticou, nesta sexta-feira (29), setores do PSDB que, segundo o PV, promoveram uma fraude na internet ao envolvê-la em ações de apoio à candidatura tucana de José Serra. Em entrevista ao Terra, Marina disse: "O que quero é que fique bem claro que minha posição é a minha posição de independência. Eu não tenho duas caras nem duas palavras".

Um endereço de e-mail falso (marina@pv.gov.br) direcionava aos eleitores de Marina um "pedido" da senadora verde para que houvesse união uma em torno da candidatura tucana.

Além disso, um post no blog "Eu Vou de Serra 45" chegou a manipular declarações dadas por ela durante a campanha no primeiro turno. O post foi removido do blog após a reação da senadora.

A senadora assinalou que "a internet é um ambiente onde a acessibilidade para receber e emitir conteúdo é quase ilimitada". Ela defende que haja vigilância porque alguém pode fazer coisas no ambiente virtual em nome de outras pessoas.

"A vigilância a que me refiro não é de controle ou censura, mas a vigilância individual para saber distinguir o que é verdade ou mentira", acrescentou.

Marina Silva viaja na noite desta sexta para Rio Branco (AC), onde nasceu e votará no segundo turno eleitoral. No Acre, além da urna para votar em Dilma ou Serra, o eleitor terá uma segunda urna, de um referendo para decidir sobre a hora legal do Estado, cuja diferença de duas horas foi reduzida para uma hora em relação à hora de Brasília.

No dia da votação, quem for a favor da mudança, terá que digitar o número 55. Quem for contra, terá que votar no 77. A mudança decorreu de uma lei de autoria do senador Tião Viana (PT-AC), sem consulta à população, sancionada pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O referendo resulta de um decreto legislativo de autoria do deputado Flaviano Melo (PMDB-AC). Marina votará no número 77 do referendo - contra a mudança.

"Compreendo os que querem a mudança do fuso horário por uma série de razões práticas. Não faço demonização disso, pois existem argumentos sérios. Mas sou pela volta do nosso horário antigo, de duas horas de diferença em relação ao horário de Brasília, por uma série de razões", diz ela.

Leia a entrevista:

Terra: Uma mensagem fraudulenta atribuindo seu apoio à candidatura de José Serra ainda circula na web, embora a senhora tenha negado e a mesma sido retirada pelo PSDB do site do partido. Como é lidar com isso?

Marina Silva: Eu já pedi para que não usem meu nome no vale-tudo eleitoral. É lamentável que muitos não aprenderam nada com os resultados das urnas e continuem a promover a política de mais baixo nível e recorram a expedientes como esse em buscar de votos. Reafirmo que minha posição e do PV é de independência no segundo turno eleitoral. Qualquer palavra tirada do contexto é uso indevido por parte de quem quer que seja. O fato de a mensagem ter sido retirada do site do candidato (José Serra) cumpriu o efeito que eu almejava numa nota de esclarecimento. Cada candidatura deve vigiar para evitar que seus militantes ou simpatizantes façam uso de expedientes que não estejam de acordo com as regras democráticas. Cada um tem o direito de preservar suas posições da forma como elas verdadeiramente são. A minha posição está expressa na nota de esclarecimento. Reafirmo que os brasileiros já tiveram acesso a muitas informações sobre os candidatos à Presidência. Realmente não há mais desconhecidos. O eleitor vai às urnas consciente da sua escolha e não sujeitará a formação de sua opinião àqueles que usam artifícios ingênuos para distorcer a realidade.

Terra: No primeiro turno, sua campanha foi muito marcante na internet. Como é se tornar alvo no ambiente virtual no segundo turno?

Marina Silva: Como tudo, depende da forma como se usa as ferramentas. A internet é um ambiente onde a acessibilidade para receber e emitir conteúdo é quase ilimitada. A vigilância deve ser muito grande porque alguém pode fazer coisas em seu nome e devemos estar atentos para não assimilar como se fosse um fato. A vigilância a que me refiro não é de controle ou censura, mas a vigilância individual para saber distinguir o que é verdade ou mentira. Eu mesmo sou muito cautelosa em relação a tudo o que leio e procuro verificar se o que leio está de fato ligado às pessoas mencionadas. Esse critério é necessário porque alguém pode usar o nome de outro para emitir boatos ou inverdades, como foi feito no Rio de Janeiro. Um grupo enviava torpedos via celular, em nome do Marcelo Crivela, pedindo para que ajudasse o Crivela e o Edir Macedo a tomar o Brasil. Tratava-se de uma mensagem de um adversário do Crivela, que até o vice-presidente do PV, Alfredo Sirkis, reagiu a isso. Para emitir e receber, no contexto virtual, é muito fácil e, por isso, é necessário vigilância permanente. Portanto, a internet para mim é muito positiva e foi uma ferramenta fundamental de campanha. O desafio é evitar extrapolações e uso anti-ético da internet contra quem quer que seja.

Terra: Atitudes como a fraude que envolveu seu nome podem interferir no resultado do segundo turno?

Marina Silva:Não quero ficar exacerbando isso. A respeito disso, vale a nota de esclarecimento que divulguei ao País. O que de fato aconteceu foi aquela citação de meu nome fora de contexto, mas o conteúdo já foi retirado do blog do PSDB. Outras coisas eu não sei, pois a gente nunca sabe se é alguém fazendo pelo candidato ou, em nome do candidato, querendo criar situações. Sei lá. O que quero é que fique bem claro que minha posição é a minha posição de independência. . A internet é boa e depende do uso que se faz dela. Obviamente, como em tudo, não existe sacralização nem demonização absoluta da web, que é tão importante para comunicar. Temos que ter uma visão crítica permanente em relação ao que está sendo dito e capacidade para comparar com a trajetória das pessoas. Uma boa parte dos alertas que recebo são de pessoas que dão conta de coisas que são ditas e que elas mesmas percebem que não são compatíveis com a minha forma de ser ou de me expressar. Existe uma opinião crítica que lê o que está sendo dito, da forma como está sendo dito, e olha para a sua trajetória e tem um estranhamento. Essa mesma opinião crítica vai criando um sistema de alerta, o que é muito bom. Quando se tem uma atitude correta, as pessoas não compram grato por lebre.

Terra: Vem votar no Acre?

Marina Silva: Sim.

Terra: Talvez nunca saibamos se vai votar nulo, branco ou em Dilma ou Serra.

Marina Silva:O voto é secreto.

Terra: Mas no Acre, além da urna para votar em Dilma ou Serra, o eleitor terá outra urna, do referendo, para decidir sobre a hora legal, cuja diferença de duas horas foi reduzida para uma hora em relação à Brasília. Vai votar "sim", pela manutenção da mudança, ou "não", para que volte a hora antiga?

Marina Silva: Compreendo os que querem a mudança do fuso horário por uma série de razões práticas. Não faço demonização disso, pois existem argumentos sérios. Mas sou pela volta do nosso horário antigo, de duas horas de diferença em relação ao horário de Brasília, por uma série de razões.

Terra: Quais?

Marina Silva: Na realidade do Acre, tem um momento em que a comunidade é afetada pela mudança da hora. Imaginem as crianças que moram longe, na zona rural ou nos seringais, que necessitam acordar no escuro, se deslocar em canoas para chegar nas escolas. Existem muitas situações em que, de fato, a vida das pessoas é prejudicada. Mas existem aspectos de ordem cultural que considero simbolicamente muito importantes para o nosso Estado. A diferença de duas horas em relação ao horário oficial brasileiro tem realmente a ver com a posição que o Acre historicamente ocupa. Essa diferença é constitutiva do nosso diferencial cultural. Existem razões práticas de ambos os lados, isto é, daqueles que querem manter a mudança e daqueles que querem desfazer a mudança. Mas estou me referindo às razões culturais, históricas e simbólicas. Isso para mim é muito forte. Vou votar no 77.

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Foto: Altino Machado / Terra Magazine
Fonte: Terra Magazine
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