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Política

Lula e PMDB vão decidir campanha em SP, dizem analistas

4 mar 2012 - 14h26
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Mauricio Tonetto

A entrada do ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) na disputa à prefeitura da capital deve polarizar a eleição entre tucanos e o PT, que só terá condições de derrotá-lo se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, recuperando-se de um câncer na laringe, puder trabalhar ativamente por Fernando Haddad. Além disso, o ex-ministro da Educação terá de contar com o apoio efetivo do PMDB para vencer Serra em um provável segundo turno. A projeção é de analistas políticos ao Terra, que veem Serra como favorito, apesar da desconfiança de uma possível saída dele da prefeitura em 2014, caso vença, para tentar, pela 3ª vez, a Presidência da República.

"O Lula, em condições, é um grande eleitor do Haddad e decisivo na campanha. O PT precisa assegurar que o PMDB de São Paulo não faça corpo mole na defesa da campanha do Haddad e a militância dos partidos aliados terá de ser ativa. O anúncio do Serra desequilibra o jogo em favor dele e contra o PT", afirmou o cientista político Paulo Kramer.

Na última semana, Serra entregou uma carta ao PSDB para estar nas prévias do partido com José Aníbal, secretário estadual de Energia, e Ricardo Tripoli, deputado federal. A disputa interna estava marcada para este domingo, mas foi adiada para o dia 25 de março a pedido de Serra, que argumentou precisar de mais tempo para mobilizar seus militantes, já que cerca de 20 mil tucanos estão aptos a votar.

A alteração não agradou a Tripoli e a Aníbal, que divulgaram uma carta pedindo para que Serra participe de ao menos dois debates com os militantes antes das prévias. Serra não confirmou se irá atender ao pedido. Ele havia dito que não seria candidato à prefeitura de São Paulo, mas voltou atrás, conforme Bruno Covas (PSDB), por pressão do próprio partido.

"O Serra é favorito, mas o Lula pode conseguir sensibilizar mais as massas em função do carisma que tem e do seu atual estado de saúde. Ele pode ser visto como o 'santo Lula'. Teremos uma campanha nacionalizada e prevemos um segundo turno envolvendo Haddad e Serra", projetou o analista Gaudêncio Torquato Rego.

Além deles, o professor de Ética e Filosofia Política da Unicamp Roberto Romano acredita que o PMDB, ainda indefinido quanto a alianças, vai ser determinante. Ele entende que o partido apoiará Haddad: "O que se está anunciando é que haverá PT, PSDB e PMDB decidindo o futuro institucional do Brasil. Com base no passado e nas eleições anteriores, o favorito é o Serra, mas não é possível descartar a possibilidade do crescimento eleitoral de Haddad."

PMDB não fará campanha agressiva

A estratégia do PMDB para chegar ao 2º turno será o foco em São Paulo e o afastamento da disputa ideológica entre PT e PSDB, segundo a assessoria do pré-candidato Gabriel Chalita. Os peemedebistas garantem que não desistirão da candidatura própria.

A discussão em torno de alianças se dará apenas, conforme a assessoria de Chalita, após o término do 1º turno. Para O PMDB, a entrada de Serra não foi uma surpresa e já era esperada. O partido disse que vai oferecer aos paulistanos um candidato focado na cidade e afastado da polarização entre PT e PSDB.

Caminho livre para Aécio Neves

Os analistas consultados pelo Terra salientaram que a eleição municipal de São Paulo será uma espécie de prévia da disputa presidencial de 2014, com PT e PSDB polarizando a disputa. De acordo com Paulo Kramer, o senador Aécio Neves (PSDB-MG)poderá ser o grande beneficiado.

"O Serra precisa ser bem claro se vai cumprir a promessa de ficar até o fim do mandato, caso seja eleito, pois setores da sociedade e do empresariado ficaram desiludos por ele ter abandonado a prefeitura em 2006 para concorrer ao governo do Estado. Sendo assim, ele dá passagem ao Aécio Neves nacionalmente, e caso perca em São Paulo também, pois ficará evidente que ele não é mais o candidato do PSDB", ressaltou Torquato Rego.

Serra garantiu, na primeira entrevista como pré-candidato, que irá cumprir o mandato até o fim, caso seja eleito. "Estou sendo candidato para governar a cidade até quando o mandato dura, que é até 2016. Eu vou cumprir os quatro anos, é mais do que promessa. Quanto ao sonho (de ser presidente), ele pode permanecer, mas, pelo menos até 2016, (o sonho) está adormecido. Porque agora a decisão implica em não ser candidato em 2014."

O papel do PSD

Outra peça importante na corrida à prefeitura paulistana é o atual mandatário, Gilberto Kassab (PSD). À frente de um partido que prega a neutralidade ideológica, ele terá de tomar posição, pois ao apoiar Serra o PSD se inclina naturalmente à direita, como salienta Paulo Kramer.

"Embora Kassab tenha dito que não seria de nenhuma vertente, o fato é que o efeito da decisão de José Serra está obrigando o PSD a se posicionar diante dos setores que ele efetivamente representa, da centro-direita. No estilo dele, discreto, Kassab tem se revelado um grande articulador e terá uma importância grande para Serra", afirmou.

Tabuleiro político

Na quarta-feira, a senadora Marta Suplicy (PT-SP), que desistiu de concorrer com Haddad e abandonou o projeto de voltar à prefeitura, publicou em sua página do microblog Twitter que o PT foi "precipitado" na estratégia à capital, criticando principalmente o flerte do partido com o PSD de Kassab.

O atual prefeito, aliado declarado de Serra, ofereceu uma aliança à candidatura de Haddad antes do ex-governador Serra entrar nas prévias. Ele foi bem recebido por Lula e Dilma, contrariando uma boa parte da militância petista, o que motivou as críticas de Marta Suplicy. "Ficamos flertando com adversário enquanto nossos tradicionais aliados migraram para o lado deles. No processo eleitoral de São Paulo é preciso reconhecer que erramos. Fomos precipitados", concluiu ela.

O lamento de Marta se deve ao namoro de Kassab com o PSB, do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. A pressão do PT nacional para que os socialistas apoiem Kassab deverá pesar na hora de escolher o lado.

Outras candidaturas

Além de Haddad, Chalita e Serra, outros candidatos correm por fora e serão importantes, principalmente no 2º turno, para a composição de alianças e transferência de votos. O ex-deputado federal Celso Russomanno (PRB) não quer desistir da candidatura, mesmo que o governo federal tenha ofertado ao senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) o posto de ministro da Secretaria Especial de Pesca e Aquicultura. Ele sofre pressão para apoiar Haddad.

Soninha Francine (PPS), que assumiu a subprefeitura da Lapa em 2009, deve fazer oposição ao PT; Netinho de Paula, do PcdoB, se integrará naturalmente ao PT; Paulinho da Força, presidente da Força Sindical, lançou seu nome pelo PDT, o que desagradou Lula, pois o ex-presidente esperava uma coalizão mais ampla em torno de Haddad; e o presidente da seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), Luiz Flávio Borges D'Urso, vai concorrer pelo PTB, sem definição de apoios.

Datafolha: Serra larga na frente

Uma pesquisa de intenção de votos realizada pelo Datafolha entre quinta e sexta-feira e que ouviu 1.087 eleitores apontou Serra em crescimento. O tucano agora aparece com 30% dos votos, liderando a disputa e seguido por Russomanno, com 19%, enquanto Haddad figura com apenas 3%. A pesquisa tem margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos. O levantamento anterior, em que 21% dos entrevistados afirmou que votaria em Serra, foi divulgado no fim de janeiro.

Em um dos cenários em que aparece - contra Haddad e Chalita (PMDB) -, Serra chega a 49%, o suficiente para vencer a eleição no primeiro turno, superando a soma de votos dos adversários. Os dois tucanos que sustentaram seu nome nas prévias do partido depois de Serra anunciar que concorreria, José Aníbal e Ricardo Tripoli, levam apenas respectivos 4% e 3% dos votos na pesquisa. O Datafolha aponta Serra como o pré-candidato mais conhecido: 99% dos entrevistados o reconhecem, enquanto Chalita é lembrado por 52% dos eleitores e Haddad, por 41%.

Fonte: Terra
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