Economista americano compara eleições do Brasil e EUA
2 nov2010 - 09h58
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Eduardo Graça
Direto de Nova York
Diretor da Just Foreign Policy, ONG anti-lobista que atua na área de política externa do governo norte-americano, o economista Robert Naiman, da Universidade de Illinois, publicou um texto que deu o que falar comparando as duas principais eleições no continente americano na primeira semana de novembro: a presidencial, no Brasil, e a de meio-termo, nos Estados Unidos, vistas como plebiscitos sobre as administrações, respectivamente, de Luiz Inácio Lula da Silva e Barack Obama.
No artigo publicado no popular site The Huffington Post, Naiman diz que Lula "afirmou acordos com a elite econômica brasileira, gerando oposição na esquerda do PT, mas tomando cuidado para não perder o acesso direto à sua base de eleitores". Obama, ao contrário, diz Naiman, se aproximou de Wall Street e dos republicanos, especialmente através de seus economistas, firmando um acordo que gerou um estímulo - gastos públicos - menor do que o necessário para esquentar a economia e diminuir a taxa de desemprego. Mais: sua principal conquista na área social, a reforma do sistema de Saúde, só terá resultado a longo prazo, o oposto de uma Bolsa Família.
Por isso, acredita Naiman, que antes de comandar a Just Foreign Policy foi analista do Center for Economic and Policy Research (Cepr), cujos conselheiros são os prêmios Nobel Joseph Stiglitz e Robert Solow, Dilma Rousseff venceu com folga as eleições de domingo (31) e os democratas devem sofrer uma derrota histórica nas urnas nesta terça-feira (2), quando poderão perder a maioria na Casa dos Representantes, boa parte dos governos estaduais (fundamentais para o tabuleiro de xadrez da sucessão presidencial em 2012) e, embora a probabilidade seja menor, o domínio do Senado.
Em entrevista exclusiva para o Terra, Naiman fala sobre a vitória do PT nas eleições brasileiras e o cenário político na maior economia latino-americana e na maior potência do planeta.
Confira a entrevista na íntegra:
Terra - O senhor espera mudanças nas relações entre Brasília e Washington em um governo Dilma?
Robert Naiman - Acredito que as mudanças serão mínimas. Dilma deve seguir a mesma política externa do governo Lula, o que significa seguir se opondo à readmissão de Honduras na Organização dos Estados Americanos (OEA) até que todos os problemas relacionados ao desrespeito dos direitos humanos durante o golpe sejam resolvidos. Brasília vai continuar se opondo à possibilidade de conflito armado no Irã e seguirá investindo em uma resolução diplomática dos conflitos entre Teerã e Washington. Dilma vai pressionar pelos direitos da Palestina e vejo uma política agressiva em relação à quebra de patentes de drogas essenciais para os países em desenvolvimento. Seu governo deve bater de frente tanto contra a vontade de Washington de fazer valer os direitos de propriedade intelectual nos mais diversos produtos quanto na da ampliação do poder militar dos EUA na América do Sul.
Terra - A vitória de Dilma é também o fortalecimento de um pensamento mais intervencionista do Estado na economia?
Pense bem: quais são os países hoje, que insistem em mercados desregulados? O governo norte-americano está intervindo massivamente na economia desde o colapso do setor financeiro. Creio que Dilma irá defender o uso efetivo do controle de capitais para defender o real em um cenário de guerra cambial.
Terra - Qual será o papel de Lula nos próximos anos?
Opções, para ele, não faltam. Espero que ele encontre um caminho que o possibilite focar na promoção da integração latino-americana, se tornando uma espécie de grande voz para o desenvolvimento ainda maior de um hemisfério Sul global e parceiro. Acho que seria um desperdício ter Lula em um alto cargo na ONU ou no Banco Mundial, pois os EUA limitariam sua habilidade de tomar decisões de fato conseqüentes. Preferiria que ele assumisse o comando da Unasur ou de outra instituição cara aos países em desenvolvimento, com real poder de ação.
Terra - O senhor se recorda de outra situação histórica em que um líder político teve um papel tão preponderante na eleição de sua sucessora?
Não acho esta uma situação tão sui-generis assim. Ela acontece em democracias onde há clara limitação de possibilidade de reeleição, como no Brasil. Dilma prometeu continuar as políticas implantadas no governo Lula. Esta é a expectativa dos brasileiros e esta é a razão maior pela qual votaram nela.
Terra - Nesta terça-feira (2), os EUA vão às urnas e espera-se uma derrota brutal do governo Obama. Por que este outro governo de centro-esquerda não consegue a aprovação popular que Lula, que também se apresentou como agente de mudança, alcançou no Brasil?
Olhe para os índices de desemprego dos dois países e você entende a dissemetria entre os dois governos. Nos EUA, 9,6% da população economicamente ativa não encontra trabalho. No Brasil vive-se o recorde de baixo desemprego, com a taxa a 6,2%. Obama simplesmente não consegue convencer sua base de que vivemos melhor do que há dois anos atrás, quando ele foi eleito.
Ao lado da candidata, durante comício no Rio de Janeiro em julho, Lula disse que colocaria a mão no fogo por Dilma
Foto: Roberto Stuckert Filho / Divulgação
Em maio, Dilma Rousseff era pré-candidata do PT à presidência da República
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
A ainda pré-candidata do PT à presidência, Dilma Rousseff, se encontrou em junho com o diretor americano Oliver Stone em Brasília
Foto: Roberto Stuckert Filho / Divulgação
Em junho, Dilma simulou pilotar um dos aviões da Embraer durante visita à empresa em São José dos Campos (SP)
Foto: Roberto Stuckert Filho / Divulgação
No dia 13 de junho, na convenção do PT, Dilma e Michel Temer (PMDB) são oficializados como candidatos à presidência e vice-presidência da República
Foto: Valter Campanato / Agência Brasil
Em comício na cidade de Porto Alegre, em julho, a petista iniciou suas atividades de campanha ao lado de Tarso Genro, governador eleito do Rio Grande do Sul
Foto: Roberto Stuckert Filho / Divulgação
Em julho, Lily Marinho, viúva do ex-presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho, ofereceu um almoço em sua mansão no Rio de Janeiro em homenagem à candidata do PT
Foto: Roberto Stuckert Filho / Divulgação
Dilma visitou Natal no final de julho e fez corpo a corpo com eleitores
Foto: Roberto Stuckert Filho / Divulgação
Em Uberlândia, Dilma toma o clássico cafézinho em padaria após fazer corpo a corpo com eleitores
Foto: Roberto Stuckert Filho / Divulgação
Em Curitiba, Dilma realizou um comício em julho ao lado de Lula, Michel Temer e Osmar Dias, então candidato ao governo do Paraná
Foto: Roberto Stuckert Filho / Divulgação
No primeiro debate entre os candidatos à presidência, na Rede Bandeirantes, Dilma afirmou que ela e o candidato tucano José Serra têm visões diferentes quanto à saúde
Foto: Fernando Borges / Terra
Dilma Rousseff visitou, no início de agosto, a Feira Permanente da Guariroba, em Ceilândia
Foto: Roberto Stuckert Filho / Divulgação
Dilma gravou partes de sua propaganda eleitoral no complexo esportivo da Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro
Foto: Divulgação
Em uma de suas várias visitas a Minas Gerais, a ex-ministra da Casa Civil caminhou ao lado do candidato derrotado ao governo Hélio Costa (PMDB)
Foto: Roberto Stuckert Filho / Divulgação
Acompanhada da candidata ao governo do Estado Ideli Salvatti, Dilma percorreu as ruas de Florianópolis durante campanha em agosto
Foto: Fabrício Escandiuzzi / Especial para Terra
Dilma Rousseff se reuniu com trabalhadoras de seis centrais sindicais de São Paulo e afirmou que "o mulherio" está começando a tomar posição
Foto: Roberto Stuckert Filho / Divulgação
Em discurso durante comício em Osasco, Dilma atacou o DEM por ter entrado com uma ação contra o ProUni no Supremo Tribunal Federal (STF) e defendeu o programa Bolsa Família
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Ao lado do candidato derrotado ao Senado Netinho de Paula (PCdoB), Dilma vestiu um boné com o logotipo do PT, durante o comício em Mauá, no fim de agosto
Foto: Ivan Pacheco / Terra
Com liderança já folgada nas pesquisas de intenção de voto, Dilma é saudada pela militância no Recife
Foto: Roberto Stuckert Filho / Divulgação
Durante seu discurso em Goiás, na visita da candidata em setembro, Dilma destacou o fato de poder ser a primeira presidenta da história do Brasil
Foto: Divulgação
Em meio a campanha, Gabriel, neto de Dilma Rousseff, nasceu no dia 9 de setembro de 2010
Foto: Roberto Stuckert Filho / Divulgação
O ator portorriquenho Benicio del Toro se encontrou em setembro com Dilma. Ele arrancou suspiros da candidata que admitiu que "sem dúvida, ele é muito bonito"
Foto: Roberto Stuckert Filho / Divulgação
No último debate presidencial do primeiro turno, na TV Globo, Dilma e seu principal opositor, José Serra (PSDB), não se enfrentaram cara a cara
Foto: Ichiro Guerra / Divulgação
A petista votou, no dia 3 de outubro, às 9h17 na Escola Estadual Santos Dumont, na Vila Assunção, zona sul de Porto Alegre (RS)
Foto: AP
No pronunciamento após o primeiro turno, a candidata Dilma disse, em Brasília, que iria encarar o segundo turno com "garra"
Foto: Vinicius Thompson / Futura Press
Os candidatos à presidência se cumprimentaram antes de se enfrentarem no primeiro debate do segundo turno, na TV Bandeirantes
Foto: Fernando Borges / Terra
O tema religião dominou boa parte da campanha do segundo turno presidencial. Na Aparecida, o sacerdote recomendou à candidata "rezar, rezar e rezar", em fase final das eleições
Foto: Lucas Lacaz Ruiz / Futura Press
Dilma Rousseff (PT) visitou o Centro Integrado de Reabilitação (Ceir), em Teresina, no Piauí, na reta final da campanha eleitoral
Foto: Yala Sena / Especial para Terra
A presidenciável petista realizou um comício em Belo Horizonte acompanhada do presidente Lula e do vice-presidente José Alencar
Foto: Roberto Stuckert Filho / Divulgação
No Rio de Janeiro, Dilma recebe apoio de vários artistas e intelectuais, como Alcione, Oscar Niemeyer, Beth Carvalho e Chico Buarque. "Minha função aqui é ser papagaio de pirata, tirar foto com a Dilma", disse o compositor
Foto: Ichiro Guerra / Divulgação
Um dia depois de seu adversário tucano ter sido atingido por objetos no Rio de Janeiro, Dilma foi alvo de bexigas d'água durante campanha no Paraná, mas não se molhou. A candidata foi protegida por um guarda-chuva
Foto: Jonathan Campos / Futura Press
Participação recorrente em suas campanhas, o presidente Lula abraça e parabeniza Dilma Rousseff por liderança nas pesquisas
Foto: Roberto Stuckert Filho / Divulgação
Em comício em Carapicuíba, Dilma Rousseff recebe abraço de militante petista
Foto: Roberto Stuckert Filho / Divulgação
Em Fortaleza, a candidata Dilma Rousseff participa de comício e ganha presente de miltante
Foto: Roberto Stuckert Filho / Divulgação
A dois dias da disputa, Dilma participa de último debate, promovido pela Rede Globo entre os candidatos à presidência da República
Foto: Roberto Stuckert Filho / Divulgação
Em ato de defesa ao meio ambiente, Dilma Rousseff ouve e cumprimenta líder indígena
Foto: Roberto Stuckert Filho / Divulgação
Animados, presidente Lula, candidata Dilma Rousseff e o governador eleito do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral pedem votos nas ruas do Estado
Foto: Roberto Stuckert Filho / Divulgação
Ao lado da companheira de partido e senadora eleita por São Paulo, Marta Suplicy, Dilma Rousseff acena para militância durante comício
Foto: Roberto Stuckert Filho / Divulgação
Em Vitória da Conquista, na Bahia, Dilma Rousseff, recebe com carinho "pequena militante"