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Política

Derrota seria fim político de Serra, apontam especialistas

23 mar 2012 - 08h40
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Marcelo Miranda Becker

Às vésperas das primeiras prévias da história do PSDB, a militância tucana se prepara para decidir o nome que representará o partido nas eleições municipais de São Paulo deste ano, em uma disputa que poderá definir os rumos da legenda na campanha presidencial de 2014. Segundo especialistas consultados pelo Terra, a disputa deste domingo pode adiar a pretensão de José Serra de conquistar o Palácio do Planalto, mas também representar o fim de seu ciclo dentro do partido, podendo até mesmo obrigar o seu afastamento da política.

Conheça prévias históricas que abalaram partidos

No domingo, Serra disputará com Ricardo Trípoli e José Aníbal a indicação do partido à prefeitura de São Paulo. Na avaliação da cientista política Maria do Socorro Souza Braga, professora da Univesidade Federal de São Carlos (Ufscar), as eleições prévias do PSDB são o mais novo capítulo de um processo de enfraquecimento de Serra, ocasionado principalmente por disputas internas e pela imposição de seu nome como candidato à Presidência da República em 2010, quando acabou derrotado por Dilma Rousseff (PT). "Se ele perde, por exemplo, essa disputa inicial, ele não tem como se sustentar dentro do PSDB. E a tendência é ou ele se aposentar ou é tentar ser candidato a presidente - que é uma ambição que ele ainda tem - por outro partido. Quem sabe até pelo PSD", projeta Maria do Socorro, referindo-se à sigla criada pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, tradicional aliado de Serra.

Apesar desse suposto enfraquecimento, a professora acredita que Serra seja o nome mais viável do PSDB, o que possivelmente motivará a união do partido em torno de sua candidatura para resistir à investida do PT na arena paulistana. "A única coisa que pode levar a essa união é o Serra vencer essa eleição. Diante da possibilidade de perder São Paulo, que é a única trincheira do PSDB há anos, é óbvio que eles vão se unir", afirma. "Lula e o PT querem eliminar o PSDB para que não ganhe a eleição para prefeito (de São Paulo). Privar o PSDB de ter a prefeitura enfraquece muito o partido para as eleições de 2014, tanto para governador quanto para presidente", analisa o professor David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB).

De acordo com Fleischer, o PSDB vive hoje um processo inverso ao enfrentado pelo PT, que tradicionalmente realizava prévias em eleições majoritárias, mas que, atualmente, tem o poder de decisão centralizado nas mãos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O PT simplesmente operou a imposição de Lula para calar e encerrar todas as outras pré-candidaturas (em São Paulo), principalmente a da Marta Suplicy. Ele impôs (o ex-ministro da Educação Fernando) Haddad e fim de papo", afirma.

Apesar de inicialmente patinar nas pesquisas de opinião, devido ao fato de que ainda é pouco conhecido junto ao eleitorado, a candidatura de Fernando Haddad tem potencial para crescer e representar uma séria ameaça ao domínio tucano em São Paulo, na opinião dos especialistas, em um fenômeno semelhante ao ocorrido com a presidente Dilma. "O temor de Lula em deixar a Marta ganhar na prévia ou na convenção municipal do PT era de que todas as pesquisas mostravam que a Marta iria perder de novo. A conclusão de Lula é de que ela não era viável, e que ele precisaria buscar um 'Dilma' - um candidato para o PT que não tivesse concorrido a nenhuma eleição antes", aponta Fleischer. "As lideranças paulistanas (do PT) têm alta rejeição e são criticadas por uma série de motivos. Diante desse quadro, só uma liderança nova para ser colocada, e o Lula foi muito esperto nisso", opina Maria do Socorro.

Democratização e rixas internas

Na avaliação dos cientistas políticos, o PSDB pode se beneficiar das eleições prévias para democratizar as decisões e angariar novos filiados. De acordo com a professora Maria do Socorro, o partido viu a necessidade de formar novos militantes após oito anos ocupando a Presidência da República. "O PSDB se organiza por dentro da máquina do Estado. E, nesse período, a formação dessa militância foi mínima. Quando ele sai da máquina é que ele vai ter que se voltar mais para o eleitorado", afirma.

Para Fleischer, tão importante quanto a participação da militância é a exposição que os tucanos podem ganhar na mídia durante o processo. "As prévias, teoricamente, dão mais respaldo ao candidato escolhido e dão uma pré-exposição na mídia aos candidatos do partido. Desde que o Serra decidiu entrar, a imprensa dá muito destaque para isso, e o Serra ganhou muito espaço na mídia. Funciona como uma pré-campanha, ou uma pré-mobilização", avalia.

"A ideia é que quanto mais o eleitor se sinta como parte do processo decisório, nas diferentes decisões dentro de uma organização partidária, mais ele pode atuar no sentido de ver os seus objetivos mais gerais, mais simples, mais imediatos, resolvidos", afirma Maria do Socorro. Fleischer, entretanto, alerta para o risco de que as eleições prévias intensifiquem as rixas dentro do partido. "É uma faca de dois gumes. Você vê que as prévias podem ajudar o partido numa boa pré-mobilização antes da eleição final, e pode ter outro lado, que mostra que a prévia pode dividir mais ainda o que já estava dividido", adverte o professor.

No caso específico do PSDB, a chegada tardia de José Serra à disputa - que motivou a desistência de dois pré-candidatos e levou a cúpula tucana a adiar a realização das prévias - pode ter impacto na participação da militância. Segundo Maria do Socorro, o adiamento em favor de Serra levantou suspeitas quanto à validade do pleito, pondo em risco "todo um trabalho de mobilização" das bases eleitorais. "A demora do Serra abalou bastante, tanto que houve manifestações públicas de alguns setores, principalmente do pessoal mais jovem, que já estava envolvido (no processo). É aquele pessoal que entrou no PSDB depois que o partido saiu do governo (federal)", afirma a especialista.

Fleischer, porém, não acredita que José Serra corra algum risco de não disputar as eleições à prefeitura de São Paulo em 2012. A tendência, segundo o professor, é de que o ex-governador chegue fortalecido ao pleito municipal. "Todas as pesquisas de opinião mostram claramente que o Serra vai ganhar essas prévias com uma margem muito grande. Dá um respaldo popular melhor para a candidatura do Serra, em vez de ser decidido pelo diretório municipal. Embora o Serra, nos bastidores, tenha tentado eliminar a prévias, (tentou) convencer os quatro outros pré-candidatos a renunciar", diz. "O próprio governador (Geraldo Alckmin) já entrou no processo e disse: 'eu vou votar no Serra'", completa.

Reflexos em 2014

Embora concordem em relação à importância das prévias tucanas para o futuro do partido no cenário nacional, os especialistas divergem quanto às possibilidades abertas para José Serra e o senador Aécio Neves (MG), considerados os dois principais postulantes do PSDB à Presidência da República em 2014. Enquanto Maria do Socorro acredita em uma eventual saída de Serra do PSDB, tendo em vista a perda de viabilidade de sua candidatura ao Planalto, David Fleischer não descarta uma terceira investida tucana para levar Serra à Presidência, abrindo caminho para que Aécio forme uma nova legenda, assim como Kassab fez ao deixar o DEM para fundar o PSD.

"Para a Presidência da República, eu vejo que Serra não é mais o nome do partido. Ele vencendo a eleição, provavelmente, eu imagino que ele não vá se candidatar à Presidência. Penso que, do jeito que vem se desenvolvendo, a tendência é realmente ele, em 2014, já estar em outro partido", afirma Maria do Socorro. De acordo com a professora, caso Serra permaneça no PSDB, haveria a possibilidade de ele concorrer ao governo do Estado, em substituição a Alckmin, que desistiria da reeleição para lançar-se candidato à Presidência. Ainda na avaliação da especialista, o diretório paulista do PSDB tende a se sobressair em relação aos apoiadores de Aécio, que abriria mão de sua candidatura em prol da união do partido.

Apesar de Serra garantir que pretende permanecer até o fim o seu mandato na prefeitura caso seja eleito, Fleischer acredita que o tucano dificilmente cumprirá a promessa, já que ele não abre mão de sua "ambição" pela Presidência. "Eu, pessoalmente, não acredito que ele vá ficar na prefeitura", prevê. "Eu acredito que ele vai (se candidatar) ou para presidente ou governador, porque a ambição dele é incontrolável. Ele é um político extremamente obcecado", afirma Fleischer.

"Tinha gente dizendo que a única maneira do Serra convencer o eleitorado paulistano de que ele vai ficar no mandato até o fim é ele, desde já, declarar o seu apoio total à candidatura do Aécio Neves à Presidência. Por enquanto, ele vem ignorando essa sugestão", pontua o professor. De acordo com Fleischer, Aécio se veria diante de um dilema em 2014, caso o PSDB optasse novamente por Serra na disputa pelo Planalto: apoiar Serra e garantir a unidade partidária para lançar-se candidato em 2018, quando termina seu mandato no Senado, ou deixar o PSDB e fundar um novo partido, fragilizando ainda mais a oposição ao governo Dilma.

"Se o Aécio vê, no final de 2013 e início de 2014, que ele vai ter problemas no PSDB e vai ser esnobado pelo partido, ele tem a alternativa de fazer igual a Kassab: mobilizar um novo partido. Aí ele vai dizimar o PSDB, porque mais da metade dos políticos do PSDB vai sair para seguir Aécio", analisa. De acordo com Fleischer, a possibilidade de um racha no PSDB deve ser levada a sério na eventualidade de o partido escolher Serra novamente. "O Serra tem que contemplar essa possibilidade também. O partido praticamente acabaria", afirma.

Fonte: Terra
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