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Política

Capitais do Norte têm o maior e o menor nível de filiação partidária

16 jul 2012 - 12h30
(atualizado às 12h37)
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Murilo Matias

Já se tornou senso comum o suposto desinteresse da população brasileira com a política tradicional. No entanto, o afastamento do eleitor dos partidos políticos varia conforme a cidade, e em algumas capitais, por exemplo, o número de pessoas filiadas a legendas impressiona.

Índice de eleitores filiados nas capitais brasileiras

No caso da região norte, encontram-se os dois extremos: o maior e o menor percentual de eleitores com filiação partidária em comparação ao total da população votante nas capitais. Macapá, no Amapá, tem 15,7% do eleitorado vinculado a siglas partidárias, superando cidades como São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte, grandes centros da política nacional. O senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP) aponta características históricas e econômicas para o alto número de filiados.

"No Amapá, por sua tradição de ex-território federal, a política tem um reflexo direto na vida das pessoas. O Estado tem uma presença forte desde a criação do território nacional, o que traz influência direta para induzir e pressionar a pessoa a ter uma escolha na politica. Isso tem uma relação direta no interesse das pessoas de participarem da politica".

O jornalista Rodolfo Juarez, que há 30 anos cobre a política local, concorda com o comentário de Randolfe e critica o fisiologismo ligado aos cargos públicos. "Houve uma concentração de interesses políticos. Somos um Estado pequeno e o poder político acaba sendo decisivo. Houve uma chamada de atenção para a comunidade eleitoral, além do que, os governos se alternam no poder e para ser pertencente a um cargo tem que ser filiado. Isso contribuiu muito, a pessoa para assumir cargo tem que se filiar", registra o experiente profissional.

A relação entre o controle do poder e a filiação partidária é analisada pela professora Silvana Krause, doutora em ciências sociais e que tem no estudo dos partidos políticos um dos temas de sua especialidade.

"Existe uma discussão sobre o perfil dos partidos, dos filiados, da dependência deles em relação ao Estado e não em relação à sociedade civil. Atualmente, os partidos precisam controlar a máquina pública do Estado para conseguir ter uma representação política. Assim o Estado funciona como um instrumento alimentador dos partidos e não da própria sociedade", comenta a professora, que ainda chama a atenção para o fato de o financiamento partidário estar descolado da militância.

As campanhas de filiação promovidas por partidos também são um ponto a ser considerado. Juarez cita as campanhas do PP, PSDB e DEM que ajudaram a engrossar as fileiras desses partidos em Macapá e analisa o cenário partidário da capital e do Estado. "A militância é muito ativa, tem lados bem definidos: um é do PSB (partido do governador) e do PT, que tem organização nacional bem forte. Do outro lado tem o PDT, que tem um forte colégio de filiados".

A organização e ação dessa militância pode ser fator decisivo na disputa eleitoral. "Já se iniciam as eleições com um contingente de envolvidos no processo antecipadamente, embora em muitos casos a filiação é cartorial, não política", pondera o senador Randolfe, acrescentando que a maioria da população pobre não está envolvida na política partidária, sendo a maior parte das filiações ligadas a servidores públicos, à classe média e à elite local.

Em Manaus, população está longe dos partidos políticos
Na ponta inversa, aparece Manaus. Apenas 4,2% do eleitorado da capital do Amazonas está vinculado formalmente a siglas partidárias. Quatro partidos ilustram bem a pouca adesão verificada na cidade. Não chegam nem aos três dígitos no número de filiados: são Psol, PPL, PSD e PCO, esse com apenas seis representantes.

Um caso interessante ocorre com o PSD. Entre os 62 filiados à legenda, estão o governador do estado do Amazonas, Omar Aziz, cinco deputados estaduais e cinco vereadores do município. A situação ilustra o perfil de filiação da sigla, confirmado pelo secretário-geral do PSD em Manaus, Paulo Radin. "Eu coordenei esse trabalho. O primeiro objetivo foi ter um número mínimo de filiações para poder participar dessas eleições e que essas pessoas tivessem interesse em se candidatar, essa foi a prioridade". Além disso, Radin credita o baixo número de adesões ao pouco tempo do partido na cidade e à não realização de uma campanha de filiação em virtude da aproximação do período eleitoral.

"Não fizemos campanhas de filiação para não ter problemas com propaganda antecipada. Optamos esperar passar as eleições e aí vamos trabalhar com a questão das filiações. O partido tem sido procurado. Vamos fazer uma campanha de conscientização, começando a mostrar uma renovação a gente tem condição de trabalhar e atingir 10 mil eleitores ao longo de dois anos", afirmou otimista.

Apesar do baixo número de filiações verificado na capital amazonense não é possível afirmar que o povo da cidade não esteja interessado nas decisões políticas. "É precipitado afirmar que pelo fato de uma capital ter menor índice de filiados ela seja menos politizada", adverte Silvana Krause. A docente ainda comenta que é necessário compreender de que forma as filiações ocorrem e o grau de concentração delas, se são dividas entre vários partidos ou restritas a poucas e dominantes legendas.

O PCdoB da senadora e candidata à prefeitura de Manaus, Vanessa Grazziotin, é o partido que lidera o número de filiações, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tendo 18,6% dos eleitores vinculados a siglas partidárias. De acordo com a parlamentar, esse número foi conquistado devido ao trabalho desenvolvido pelo partido na cidade, o que segundo ela não é feito pelas demais legendas, que, acomodadas não conseguem atrair a população e acabam por perder representatividade e competitividade eleitoral.

"É muito importante ter uma organização forte, um conjunto de militância para qualquer campanha e principalmente para as nossas campanhas. O PCdoB tem grande grau de mobilização e envolvimento com movimentos sociais", destaca a senadora.

Senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP) acredita que o alto percentual de filiações em Macapá está atrelado a forte presença do Estado na economia local
Senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP) acredita que o alto percentual de filiações em Macapá está atrelado a forte presença do Estado na economia local
Foto: Geraldo Magela / Agência Senado
Fonte: Terra
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