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Política

'Caciques' tentam usar prestígio para influenciar nas eleições

30 jul 2012 - 10h26
(atualizado às 10h30)
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Murilo Matias

"Se o Pitta não for um bom prefeito, nunca mais votem em mim". A frase do então governador de São Paulo, Paulo Maluf, principal responsável pela vitória de seu candidato para a prefeitura da capital paulista, em 1996, ficou imortalizada na política brasileira e expõe um fenômeno que se repete em todas as disputas eleitorais: o potencial de líderes políticos transferirem votos para seus aliados de primeira ordem. Nas eleições municipais, a participação de governadores, senadores e ex-presidentes ganha relevo especial no apoio aos candidatos às prefeituras de todo o país.

Maior cabo eleitoral do país, Lula tentará emplacar Haddad em São Paulo
Maior cabo eleitoral do país, Lula tentará emplacar Haddad em São Paulo
Foto: Edson Lopes Jr / Terra

Veja o cenário eleitoral nas capitais

Veja quanto ganham os prefeitos e vereadores nas capitais brasileiras

"A indicação é um fator que pode ajudar muito o candidato, mas o eleitor, hoje, tem muito mais condições de se informar, diferentemente do que ocorria há vinte anos. Cabos eleitorais elegem, mas o candidato tem que mostrar consistência, propostas realizáveis, estar em sintonia com os desejos da comunidade, capacidade de governar, um passado limpo", pondera o cientista político Cristiano Noronha, da Arko Advice.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se tornou o maior cabo eleitoral do Brasil ao governar por dois mandatos consecutivos e conseguir eleger sua sucessora, Dilma Rousseff, que era pouco conhecida do grande público e jamais havia disputado uma eleição. Neste ano, Lula tentará fazer de seu ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT) o próximo prefeito de São Paulo.

"Lula vai estar presente em algumas atividades como comícios em setembro e principalmente na televisão. Evidente que pelo fato de o Haddad nunca ter disputado uma eleição, ele tem problema de desconhecimento, então o Lula e a Dilma são muito importantes", afirmou o coordenador da campanha petista em São Paulo, vereador Antonio Donato.

Sobre a presença de Maluf nos atos da campanha petista, Donato assegura que o experiente político não participará das principais ações de capanha. "Não vai ter papel, não é o perfil dele", respondeu o coordenador.

Caso parecido acontece com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que não é utilizado na linha de frente da campanha tucana sob o argumento de que a eleição é municipal. "A estratégia da campanha é de uma eleição municipal, não queremos nacionalizar a campanha", considerou o coordenador da campanha tucana na capital paulista, Edson Aparecido.

Em consonância com a estratégia do PSDB está o governador Geraldo Alckmin (PSDB), cuja imagem, de acordo com a coordenação, será utilizada largamente, uma vez que pesquisas internas do partido mostram que a população quer que governo do Estado e prefeitura atuem como parceiros, além de a avaliação de Alckmin ser boa entre os moradores da cidade de São Paulo.

Outra figura que deverá andar nas ruas de São Paulo junto ao candidato de seu partido é o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), principal expressão política da campanha de Gabriel Chalita. "Nossa maior liderança do PMDB é o Michel Temer, que é o vice-presidente da República, que é o grande apoiador da campanha, e isso nos deixa muito felizes pelo seu empenho", assegurou Chalita.

De acordo com Noronha, a conjuntura econômica e social interfere na utilização ou não das lideranças nas campanhas políticas. "Depende da conjuntura do candidato. Aécio conseguiu transferir votos para o Márcio Lacerda (escolhido para prefeito de Belo Horizonte, em 2008) e para o Anastasia (eleito governador de Minas Gerais, em 2010). Já Fernando Henrique Cardoso foi muito escondido na campanha de Serra em 2002 e não conseguiu transferir, porque a conjuntura econômica não era favorável. O Lula conseguiu transferir votos para Dilma porque a situação do momento era boa, mas fez campanhas para candidatos em São Paulo na capital e para o governo do Estado e sofreu derrotas. Depende das características do município, de como a atual gestão está sendo avaliada, outros fatores que pesam para o cabo eleitoral ser efetivo".

Em Minas, segundo colégio eleitoral do país, a principal liderança política do Estado deve influenciar o voto de muitos mineiros da capital. O ex-governador e atual senador Aécio Neves (PSDB) emprestará seu apoio ao atual prefeito e candidato à reeleição Márcio Lacerda. "Ele terá papel de uma liderança regional como todos grandes lideres regionais, como o governador Anastasia, deputados federais, senadores", disse Pier Semesi, coordenador da campanha de Lacerda.

No Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB) deve andar lado a lado com Eduardo Paes (PMDB) para garantir o comando da capital novamente. A candidatura de Rodrigo Maia (DEM) e Clarissa Garotinho (PR), por sua vez, contará com apoio vindo das famílias dos candidatos. Nomes conhecidos em todo o Estado, Anthony Garotinho (PR), pai de Clarissa, e Cesar Maia (DEM), candidato a vereador e pai de Rodrigo, serão presenças constantes na campanha de seus filhos.

Na cidade de Curitiba as principais lideranças estão dividas entre os concorrentes com maior projeção. Rafael Greca (PMDB), em Curitiba, tem no senador e ex-governador Roberto Requião o principal apoio regional a sua tentativa de ganhar a prefeitura da capital. A tentativa de reeleição de Luciano Ducci (PSB) contará com a sustentação de Beto Richa (PSDB), governador do Paraná e ex-prefeito da capital. Outro nome que já atuou no Senado Federal, Osmar Dias (PDT), estará nas fileiras de Gustavo Fruet, pertencente ao mesmo partido. "Ele está atuando mais na organização, na coordenação. O pessoal do marketing tem um cronograma estabelecido para a participação do Osmar, assim como da Gleisi e da Dilma, mas por razão de estratégia não podemos revelar", informou Abraão Benicio, assessor de imprensa da campanha pedetista.

Líderes petistas e ex-governadora atuarão em Porto Alegre
Em Porto Alegre, o ex-prefeito e ex-governador do Estado, Olívio Dutra, figura histórica do PT é tido pelo seu partido como um nome que possui a capacidade de mobilizar a militância e auxiliar o candidato do partido, Adão Vilaverde.

"O Olívio é uma referência muito forte para a militância, para o PT e fora dele. Ele tem sido incansável no apoio à candidatura do Villaverde, já participou de muitos atos e confiamos que a presença dele ajude bastante nossa campanha", comentou o coordenador da campanha petista na capital gaúcha, Gerson Almeida, que ainda citou o atual governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, e o ex-prefeito e atual deputado estadual Raul Pont, como importantes cabos eleitorais do petista.

Outra ex-governadora esperada na campanha é a tucana Yeda Crusius. "Ela é a pessoa mais importante do PSDB no Rio Grande do Sul e vai participar ativamente da campanha, caminhar comigo nas ruas de Porto Alegre. Ainda terei o Aécio, o Sérgio Guerra, figuras nacionais do partido. O Fernando Henrique vai gravar um vídeo e estamos trabalhando para que ele venha a Porto Alegre. Meus cabos eleitorais são de peso", disse Wambert, concorrente do PSDB à prefeitura da capital.

Questionado se a presença de Yeda poderia prejudicar sua campanha devido ao desgaste que a ex-governadora teve quando governou o Estado, Wambert descarta qualquer problema e acredita que ganhará votos por ter o apoio da tucana. "A Yeda, mesmo com a campanha negativa contra ela, conquistou 146 mil votos em Porto Alegre na última eleição. O cara que vota numa governadora com todo tipo de campanha que ela sofreu é um voto fiel. Seguramente esperamos que esses votos sejam depositados na nossa candidatura".

Os novos e velhos caciques do Nordeste
O Nordeste se divide entre a permanência de antigos caciques e a ascendência de novos nomes. Um dos novos líderes da região, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), tenta projetar seu nome nacionalmente e pode ser decisivo na eleição de Geraldo Julio (PSB) em Recife. Além de Campos, a candidatura do PSB conta com o apoio de um dos mais tradicionais caciques políticos da região, o ex-governador e atualmente senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE).

"A ideia é envolver o governador. A confiança que a sociedade do Recife tem no Eduardo Campos é grande e vai credenciar nossa candidatura. Ele tem um respeito muito grande da opinião publica e é essa vinculação que queremos fazer. Podemos implementar em Recife o mesmo ritmo que se trabalha no Governo do Estado", disse o coordenador da campanha socialista na cidade, Sileno Guedes.

Fortaleza tem nos irmãos Gomes figuras conhecidas e respeitas pela população local. Cid, governador do Ceará, e Ciro Gomes, que já foi governador, prefeito da capital e deputado federal pelo Estado, atuarão na linha de frente do ainda pouco conhecido Roberto Claudio (PSB).

"Meu papel é de organização e de apresentá-lo à cidade. Ele é um diamante bruto como talento. Tive 23% dos votos pra deputado federal. Com 23% ele vai para o segundo turno, mas essa transferência não existe. O que existe é que as pessoas ouvem a minha apresentação por terem uma relação de confiança comigo, mas ela não vai votar necessariamente no candidato apresentado", relatou Ciro Gomes.

Salvador, cuja cena política foi dominada pelo clã Magalhães durante décadas, tem hoje no governador reeleito do Estado da Bahia, Jacques Wagner (PT), uma das lideranças locais. O candidato Nelson Pelegrino (PT) contará com o apoio de Wagner, que deve ter participação intensa na campanha. Os Magalhães sobrevivem com a candidatura de ACM Neto (DEM), que tentará vencer a eleição majoritária soteropolitana.

A tradicional família Sarney em São Luís acompanhará nesse pleito o candidato petista Washington, vice-governador do Maranhão, governado por Roseana Sarney, filha de José Sarney. O ex-presidente da República e presidente do Senado Federal ainda não tem definida a forma como aparecerá na campanha. Conforme o presidente municipal do PT na capital e coordenador da campanha petista na cidade, não é possível afirmar se a presença do líder ajudará ou não a trazer votos para Washington. "O presidente é líder do grupo dele no Maranhão e tem um peso significativo aqui", limitou-se a dizer.

Em Maceió, tradicionais rivais estão juntos na disputa pela prefeitura da cidade. Os senadores Fernando Collor de Mello (PTB) e Renan Calheiros (PMDB) estão coligados com Ronaldo Lessa (PDT), adversário em eleições anteriores, o que não causa constrangimento na concepção de um dos coordenadores de campanha do pedetista na cidade, Jurandir Bóia.

"Tudo isso é pagina virada. As pedras se encontram, hoje estão todos imbuídos no projeto de Ronaldo e o consideram o melhor candidato para Maceió. Os dois são presidentes dos seus partidos e estão na coligação majoritária e nos darão apoio politico e eleitoral", simplificou.

Provando que as disputas ficaram para trás, Calheiros e Collor são esperados na linha de frente da campanha de Lessa. "Esperamos que participem de caminhas, comícios, carreatas, em toda movimentação necessária de uma campanha política. É muito difícil quando se é candidato ser procurado por quem quer votar em você e rejeitar isso. Qualquer político gosta de ser apoiado porque recebe um segmento da sociedade que vem fortalecer uma candidatura. Mas quem vem sabe a postura política do Ronaldo Lessa", sentenciou o coordenador, reafirmando o peso político dos senadores.

Na região norte do país, o apoio do senador Jader Barbalho é comemorado pelo candidato do seu partido à prefeitura de Belém. "Jader é um líder popular tão forte que a ex-governadora Ana Júlia (PT) e o atual governador Simão Jatene (PSDB) tiveram que contar com o apoio dele para ser eleito. Até o Lula pediu apoio do Jader, portanto eu não só quero o apoio dele como espero que todos os eleitores dele votem em mim¿, disse Priante (PMDB), que espera ainda os ministros do PMDB para incentivarem sua candidatura.

"Alguns cabos eleitorais têm projeção nacional, outros têm uma projeção muito forte nos Estados. Vai depender de como esses líderes são percebidos nessas localidades", avaliou o cientista político Cristiano Noronha.

Fonte: Terra
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