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Política

Dilma deve aumentar cota de "conterrâneos" do RS no governo

28 nov 2010 - 16h49
(atualizado às 16h52)
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Flavia Bemfica
Direto de Porto Alegre

Depois da confirmação do atual diretor de Normas do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, como presidente do Banco Central, e da garantia da permanência do Secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, no cargo no governo da presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), só aumentam as especulações sobre uma boa cota de gaúchos no ministério ou em funções importantes na administração da petista. Entre os nomes estão os dos deputados federais reeleitos Mendes Ribeiro Filho (PMDB), Maria do Rosário (PT), Manuela D¿Ávila (PCdoB) e Beto Albuquerque (PSB).

Alexandre Tombini foi escalado por Dilma para assumir a presidência do Banco Central
Alexandre Tombini foi escalado por Dilma para assumir a presidência do Banco Central
Foto: Arquivo / EFE

As especulações dão conta da permanência nos cargos de outros dois gaúchos: os ministros da Defesa, Nelson Jobim (PMDB) e do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel (PT). E da possibilidade de Alessandro Teixeira, presidente da Associação Brasileira de Promoção das Exportações (Apex) ser indicado para um ministério.

As esperanças de políticos e técnicos do Rio Grande do Sul (a lista inclui outros nomes, como o do atual presidente da Federação das Indústrias do RS, Paulo Tigre) são estimuladas pela conclusão de que Dilma passou a maior parte da vida no Estado e, portanto, conhece bem e confia em alguns 'conterrâneos'. Apesar de a constatação ser correta, o jogo político da formação do novo governo é um pouco mais complexo.

A conjunção de fatores, que leva em conta as cotas partidárias dos aliados, a força de caciques das siglas, o pragmatismo da presidente eleita, o critério técnico, a competência e as afinidades, pode ser bem exemplificada com o hoje principal aliado, o PMDB. No governo, está à frente das pastas da Agricultura, das Comunicações, da Defesa e da Saúde, além do Banco Central. Para o governo de Dilma, sairá do BC, pleiteia pelo menos quatro ministérios e, se for possível, um quinto. Mas não está colocando a Defesa, à frente da qual são grandes as chances de permanecer Jobim, na equação.

"O Jobim é cota do Lula e vai ficar na Defesa porque, apesar de não se acertar com a Dilma, fez o jogo certo. Despediu-se antes que cogitassem mandá-lo embora. Além disso, incorporou o personagem, e os militares o adoram. É difícil encontrar alguém que eles adorem", garante outro peemedebista gaúcho, radicado em Brasília há duas décadas.

Os dois ministérios dados como certos pelo PMDB são Minas e Energia para o senador reeleito Edison Lobão (que havia deixado a pasta justamente para disputar as eleições) e Cidades para Moreira Franco. O partido almeja ainda permanecer na Agricultura e nas Comunicações, abocanhar Transportes e, se possível, a Integração Nacional. Quanto à Defesa, pode ocorrer o que acontece hoje. Jobim segue, o partido diz que ele é cota da presidência e a presidência que ele é cota do partido e o PMDB acaba com uma cadeira extra.

Dilma prefere o atual ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, nas Comunicações e, por isso, na negociação, entram Transportes e Integração. É onde entra o deputado gaúcho Mendes Ribeiro Filho. O PMDB aposta que, se levar o que chama de quinto ministério, ele será para Mendes, e por vários motivos. Mendes não apenas manteve-se leal a Dilma e em campanha para a petista no Rio Grande do Sul enquanto toda a bancada federal gaúcha do partido anunciava a altos brados seu apoio ao tucano José Serra. O deputado tem relação pessoal de muitos anos com a presidente eleita e com o ex-marido de Dilma, o advogado e ex-deputado Carlos Araújo. Dilma, até em público, o chama de "Mendesinho".

De quebra, a indicação do deputado para um ministério ajuda demais ao vice-presidente eleito, Michel Temer, e ao PMDB na Câmara dos Deputados. Porque, com Mendes ministro, quem assume uma vaga na Câmara é o deputado federal Eliseu Padilha, que tentou a reeleição e ficou na primeira suplência. Por isso, Temer tem se empenhado Mendes. Padilha, ex-ministro dos Transportes no governo de Fernando Henrique Cardoso, hoje preside a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Em Brasília, seu estilo quase matemático é famoso. Juntamente com Moreira Franco, Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves, o deputado integra o grupo dos peemedebistas da confiança de Temer. E consegue mapear, com margem de erro quase inexistente, os votos na Câmara: de todas as bancadas.

Mendes, por sua vez, está na expectativa, mas tenta ser discreto. "Se tenho trabalhado há anos e feito o dever de casa? Sim. Se tenho uma relação excelente com a Dilma? Sim. Se converso com o Michel sobre isso? Sim. Se isso vai ser suficiente? Não sei. Se fui sondado pela Dilma? Não. Quando a pessoa começa a ser apontada para muitas cadeiras, é melhor olhar de longe e ficar sentada na sua", resume.

Mais três deputados federais reeleitos voltam os olhos para o Executivo, mesmo que assegurem não haver qualquer sondagem direta: Manuela D'Ávila (PCdoB), Maria do Rosário (PT) e Beto Albuquerque (PSB). Manuela foi, de novo, a recordista de votos para a Câmara no Rio Grande do Sul (482.590). Beto ficou em segundo, Rosário em sexto. Manuela nega que tenha havido qualquer sondagem na conversa mantida com o deputado federal paulista e um dos coordenadores da campanha de Dilma, também cotado para integrar o ministério, José Eduardo Cardozo. "Não fui sondada. Acho que ninguém foi, porque esta não tem sido a prática", resume. Ela está cotada para o Ministério dos Esportes, que já é do PCdoB, mas existem outras possibilidades. O partido tem defendido a manutenção do ministro Orlando Silva no cargo e a ampliação de seu espaço no governo, com secretarias como as da Igualdade Racial, Mulheres, Direitos Humanos e Juventude.

Maria do Rosário vem sendo apontada desde a eleição como com grandes chances para a Secretaria Nacional dos Direitos Humanos. A deputada também desconversa. "O que existe até agora são diversas pessoas conversando sobre a composição do ministério. Isso é natural. Acho muito positivo que várias mulheres sejam citadas e, de minha parte, se for convidada, vou aceitar."

A situação de Beto é um pouco mais complexa. No Rio Grande do Sul a especulação é de que ele está na lista do PSB para Dilma. O deputado faz questão de dizer que se sentiria honrado em ocupar um ministério, mas foi convidado para assumir a poderosa Secretaria da Infraestrutura na gestão do governador eleito, Tarso Genro (PT), e aceitou. O PSB está no Ministério da Ciência e Tecnologia e a Secretaria Especial de Portos, mas o fato de ter crescido nas eleições não é garantia de que terá seu espaço aumentado de forma significativa no primeiro escalão. E os espaços atuais já têm padrinhos dentro do PSB, que não são os de Beto.

Fonte: Redação Terra
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