PUBLICIDADE

Política

De 1992 a 2015: conheça os ideais dos "novos caras-pintadas"

Movimento ajudou a derrubar o ex-presidente Fernando Collor, em 1992; uma das participantes que foi considerada "musa" do movimento não vai ao protesto deste 15/03 e acredita que é preciso reforma política e não o impeachment

14 mar 2015 - 11h52
(atualizado em 13/7/2018 às 10h47)
Compartilhar
Exibir comentários
<p>Jovens pintaram seus rostos e foram às ruas contra o ex-presidente Fernando Collor. Movimento resultou em seu impeachment</p>
Jovens pintaram seus rostos e foram às ruas contra o ex-presidente Fernando Collor. Movimento resultou em seu impeachment
Foto: Reprodução

Após perceber que o povo havia tomado às ruas para pedir o impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992, o espanhol e engenheiro mecânico Alfredo Vidal, hoje com 65 anos, pegou as três filhas (uma de 16 e as gêmeas de 13 anos), saiu do Morumbi e pegou um ônibus em direção ao Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, ponto de encontro para uma das maiores manifestações do movimento. Neste domingo, 15 de março, o engenheiro voltará a participar de uma manifestação - desta vez, para pedir a saída da presidente Dilma Rousseff - após quase 23 anos, junto com sua filha mais velha, a farmacêutica Márcia Escamilla Demestres, hoje com 38 anos.

"Eu achei importante mostrar para minhas filhas que era possível lutar pelo país e buscar melhorias. Foi muito importante para nós e ficou marcado em nossas vidas", relata Vidal.

Desta vez, a filha (Márcia) foi quem chamou o pai ir ao protesto. Ela acredita que será outro momento histórico para o país. Márcia participa no Facebook de grupos que se denominam como “novos caras-pintadas” e pedem o impeachment da presidente Dilma Rousseff, reeleita no fim de 2014.

Tais grupos explicam que a diferença entre os caras-pintadas antigos e os atuais é que, em 1992, as pessoas eram contra um político: o ex-presidente Fernando Collor, senador pelo PTB-AL, e suas atitudes, e hoje são contra um partido, no caso o PT e a também a corrupção.

Manifestantes foram à avenida Paulista pedir impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e anulação das eleições presidenciais
Manifestantes foram à avenida Paulista pedir impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e anulação das eleições presidenciais
Foto: Janaina Garcia / Terra

Para o engenheiro, a "decepção" é o que há de comum entre os dois momentos. Ele acredita que, com o governo do PT, o sentimento é ainda maior do que em 1992.

"O Collor foi o primeiro presidente eleito pelo povo e, depois que assumiu, suas atitudes foram erradas e a decepção foi grande", conta. "Pedir o impeachment dele foi uma forma de mostrar que não estávamos satisfeitos. Quando o Lula assumiu, eu tinha esperança que as coisas iriam melhorar, por ele ser do povo, mas durou pouco. Logo percebi que não mudaria, e hoje com a Dilma só piorou. A decepção está bem maior do que com o Collor", acrescenta.

Pai e filha se preparam para ir às ruas pedir outro Impeachment de presidente; os dois participaram dos protestos contra Collor em 1992
Pai e filha se preparam para ir às ruas pedir outro Impeachment de presidente; os dois participaram dos protestos contra Collor em 1992
Foto: Arquivo pessoal

Para a farmacêutica, os protestos deste domingo serão grandiosos e históricos como os da época do Collor. Ela voltou a frequentar manifestações no dia 25 de outubro de 2014, véspera do segundo turno das eleições, em favor do candidato Aécio Neves (PSDB).

"Acho importante participar destes movimentos em qualquer fase da vida, se acreditamos em um ideal. Eu defendo a moralidade na política brasileira. Cansamos desta corrupção desenfreada que está acabando com o nosso país", explica Márcia. A farmacêutica está ansiosa para a manifestação de domingo. "Eu vou faça chuva ou faça sol", diz.

Ela conta que em 1992 os jovens eram mais engajados e atuantes, mesmo sem acesso à internet e redes sociais. "Hoje temos toda essa tecnologia, marcamos tudo pelo computador, mas infelizmente há muitos omissos. Os caras-pintadas atuais são pessoas mais experientes. Eu vejo idosos, cadeirantes, crianças acompanhando seus pais nas ruas."

Caras Pintadas 23 anos depois Caras Pintadas 23 anos depois

A nova geração

O supervisor administrativo Wallace Batalha, 34 anos, não participou das manifestações contra o Collor, mas agora se considera um novo cara-pintada. Tanto que criou uma página no Facebook chamada "A Nova Geração - Caras Pintadas". Ele acredita que a facilidade do acesso a informação e as redes sociais são a diferença entre os dois atos (1992 e 2015). 

"O povo está muito mais informado do que antes e querem um país livre da corrupção. Os caras-pintadas atuais são os que estão fartos de corrupção e os que se preocupam com o futuro das próximas gerações em relação a moral. Queremos um governo justo e que seja aplicada penas duras aos corruptos", diz o supervisor.

"A corrupção está no sistema e não em um partido só"

Cecília foi uma das primeiras pessoas que pintou o rosto no movimento contra o Collor, em 1992 e virou "musa" dos caras-pintadas
Cecília foi uma das primeiras pessoas que pintou o rosto no movimento contra o Collor, em 1992 e virou "musa" dos caras-pintadas
Foto: Arquivo pessoal

A empresária Cecília Lotufo, 40 anos, participou de todos os protestos contra o impeachment de Collor, em 1992. Além disso, virou "musa dos caras-pintadas", após ter escrito com batom em seu rosto a palavra "Fora". Depois desse episódio, os manifestantes começaram a pintar seus rostos e surgiu o movimento dos caras-pintadas.

Neste domingo, ela não vai participar dos protestos contra o governo Dilma por não concordar com o impeachment. Cecília acredita que não adianta só criticar o governo e lembra que muitos não sabem o que significa política. "Esse protesto não vai dar em nada. A corrupção não está em todos os partidos, faz parte do sistema. As pessoas precisam ir às ruas brigar pelas reformas política, tributária e jurídica. Quero saber quantos dos que estarão neste protesto fazem na prática algo para transformar nosso país", diz.

Ela reconhece que as pessoas estão falando e discutindo mais sobre política, mas ainda tem muito que fazer. "Não adianta ir para uma manifestação e achar que já fez sua parte e continuar em sua bolha. As manifestações de 2013 foram um passo positivo. Elas não tinham comando e as pessoas começaram a ir às ruas, cada um com seu cartaz para mostrar sua revolta. Havia jovens, idosos e crianças lutando por algo melhor. Agora era a hora de dar um passo além", acrescenta.

Hoje casada e mãe de dois filhos, Cecília é ativista social no bairro onde mora. Ela é uma das fundadoras do movimento Boa Praça, que realiza diversas atividades e projetos, como ações educativas, cursos, palestras e piqueniques comunitários. Ela também faz parte do conselho participativo da Subprefeitura de Pinheiros. "Eu não parei, sempre estou em algum projeto e tentando transformar com ações, na prática. Agora eu luto em âmbito local."

No domingo, Cecília estará em uma oficina, que ajudou organizar, de captação de água, onde os participantes vão aprender como coletar a água que escorre da laje para usar no banheiro e em outros cantos da casa.

Impeachment? Paulistanos mostram o que sabem sobre o assunto:

Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade