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CPI do Cachoeira

Petistas preferem quebrar sigilos de Perillo a convocá-lo

29 mai 2012 - 14h12
(atualizado às 14h17)
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Jeferson Ribeiro

A estratégia do PT para a sessão da CPI do Cachoeira desta terça-feira vai privilegiar a aprovação de requerimentos que peçam a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), deixando para um segundo momento a convocação do tucano. Para que a estratégia seja colocada em prática, os petistas teriam uma nova reunião nesta terça, pouco antes da sessão da comissão, e buscam ainda uma aproximação de posições com o PMDB.

Ao falar do amigo Carlos Cachoeira, Demóstenes alegou que acreditava que o empresário já tinha abandonado a ilegalidade: "Ele disse que não estava mais na contravenção. E disse isso a várias pessoas. E eu acreditei"
Ao falar do amigo Carlos Cachoeira, Demóstenes alegou que acreditava que o empresário já tinha abandonado a ilegalidade: "Ele disse que não estava mais na contravenção. E disse isso a várias pessoas. E eu acreditei"
Foto: Pedro França / Agência Senado

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Os dois partidos tentam evitar, por ora com estratégias individuais, a convocação do petista Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal, e do peemedebista Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro. Queiroz tem situação mais delicada porque é citado nas investigações policiais Vegas e Monte Carlo, que deram origem à CPI, que investiga a relação de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com agentes públicos e privados.

A aliança com o PMDB neste momento é fundamental porque garantiria apoio para quebrar os sigilos do governador tucano e evitaria a convocação de Queiroz e Cabral.

O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) disse à Reuters que Perillo só deve ser convocado na CPI depois dos sigilos serem quebrados. "Ele já tem aquela história mal contada da venda da casa", argumentou o petista.

O relator da CPI mista, deputado Odair Cunha (PT-MG), também é contra ouvir imediatamente Perillo ou outros governadores. Segundo ele, se fossem à comissão agora, os governantes usariam o depoimento para dar sua versão dos fatos e não poderiam ser contestados pelos parlamentares.

Contudo, colocar essa estratégia em prática não será fácil porque desde o começo dos trabalhos da comissão há muita pressão para que a CPI convoque os governadores, e o PSDB já disse estar disposto a convocar Perillo.

O PT também quer o apoio do PMDB para evitar a aprovação nesta terça de um requerimento que peça a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico da empreiteira Delta em nível nacional. Até agora, apenas os sigilos da unidade Centro-Oeste da empresa foram quebrados. Nesse caso, segundo relato de um petista que pediu para não ter seu nome revelado, o partido prefere esperar o compartilhamento de informações da Operação Saint-Michel da Polícia Civil do Distrito Federal.

O relator e os petistas têm informações de que essa investigação, já nas mãos do Ministério Público do DF, teria conseguido quebrar esse sigilo e esse material deve ser compartilhado com a comissão. Essa posição petista também sofrerá resistências dos demais membros da comissão, já que há semanas há cobrança da maioria dos membros da CPI para que as investigações avancem sobre a atuação nacional da Delta.

A reunião da comissão nesta terça deve ser muito tensa. Além de debater temas como a convocação dos governadores, que atiçam a disputa partidária, há a denúncia da revista Veja de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria se reunido com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e oferecido blindagem na CPI em troca do adiamento do julgamento do mensalão.

A reunião entre Lula e o ministro, ainda segundo a revista, teria ocorrido em 26 de abril, um dia depois da instalação da CPI mista que investiga as ligações de Carlos Cachoeira com políticos e empresários. Apesar de a oposição alegar que não vai apresentar requerimento para convocar Lula à CPI, pois seria rejeitado por falta de votos, petistas acreditam que o episódio pode ser usado para tentar desviar o foco das investigações. A assessoria do ex-presidente confirmou o encontro com Mendes, mas negou o conteúdo da conversa revelado pela revista.

A CPI também deve apontar nesta terça quem será o vice-presidente da comissão. A escolha cabe ao presidente, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). Ele gostaria que o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) assumisse o cargo, mas o PT prefere que o peemedebista escolha um senador do partido ou ainda outro parlamentar da base. Vital do Rêgo disse que só anunciará a decisão durante a sessão desta terça.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

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