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CPI do Cachoeira

Relator admite retirar PGR do relatório da CPMI do Cachoeira

28 nov 2012 - 03h00
(atualizado às 07h25)
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O relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), admitiu nessa terça-feira que poderá retirar o nome do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, da lista de pedidos de investigação do seu relatório.

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Após reunião com diversos parlamentares da base governista que fizeram parte do colegiado, Cunha disse que está negociando o texto final que será apresentado hoje e que deverá fazer as alterações antes da reunião da comissão.

"As questões que são centrais, nós vamos continuar defendendo. O tema da análise da conduta do procurador-geral da República e o tema da conduta de jornalistas não são questões centrais da nossa investigação. A questão central é a organização criminosa, seu modus operandi, seu sistema de financiamento. É isso que nós queremos debater. Temas não centrais do nosso relatório podem ser negociados e é por isso que eu estou me reunindo com os parlamentares", disse o relator.

Odair Cunha foi cobrado por alguns colegas de comissão, inclusive governistas como ele, por ter incluído no relatório um pedido para que o Conselho Nacional do Ministério Público investigue o procurador-geral da República.

Na opinião do relator, a conduta de Gurgel foi questionável porque ele recebeu o inquérito da Polícia Federal, que apontava a relação do ex-senador Demóstenes Torres com o grupo de Cachoeira, mas não deu prosseguimento à denúncia, nem solicitou mais investigações sobre o assunto. Após ver seu nome citado no relatório da CPI, o procurador-geral da República classificou a atitude do deputado petista de "retaliação".

Após admitir retirar nomes do seu relatório, Cunha disse que "dificilmente" irá concordar em incluir pessoas na lista de pedidos de indiciamentos. Questionado sobre a cobrança de alguns parlamentares de oposição para que ele também citasse o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e o dono da construtora Delta, Fernando Cavendish, o relator disse que eles não fizeram parte da investigação da comissão.

"Todas as condutas que foram analisadas por nós estão no nosso relatório. A questão do governador Sérgio Cabral, por exemplo, é uma conduta que nós investigamos na CPI, exatamente por isso, não deve ser analisada sob o ponto de vista de indiciamento", disse Cunha.

Sobre o governador de Goiás, Marconi Perillo, no entanto, Odair Cunha disse que ele teve relações com a organização criminosa e que foi investigado pela comissão, por isso continuará constando de seu relatório. Perillo consta da lista de pessoas para as quais o relator pede indiciamento ao Ministério Público.

A CPI do Cachoeira investigou as relações do contraventor Carlinhos Cachoeira, acusado de comandar uma quadrilha que explorava jogos ilegais em Goiás, com agentes públicos e privados. Entre os agentes públicos investigados estão governadores, o ex-senador Demóstenes Torres, deputados, policiais que eram corrompidos pela quadrilha, entre outros. Diversas empresas eram utilizadas pela quadrilha para lavar dinheiro, intermediar pagamentos de corrupção e fraudar licitações públicas.

A Delta, que tem diversos contratos com o governo federal e governos estaduais, é acusada de fazer parte do esquema e consta no relatório de Odair Cunha. O texto deveria ter sido lido na semana passada, mas foi adiada para esta semana. A expectativa é que o relator feche acordos até amanhã que possibilitem a leitura e votação do relatório.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.

Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.

Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.

Agência Brasil Agência Brasil
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