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CPI do Cachoeira

Gurgel diz que pedido de relator da CPI para investigá-lo é 'retaliação'

22 nov 2012 - 17h06
(atualizado às 21h20)
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O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, considerou nesta quinta-feira que o pedido de investigação contra ele feito pelo relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira, deputado federal Odair Cunha (PT-MG), é uma forma de retaliação por sua atuação no julgamento da Ação Penal 470, o processo do mensalão.

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Foto: Ed Ferreira / Agência Estado

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"Se isso (o pedido de investigação) vier a se materializar, eu acho que é, sim, uma retaliação", disse Gurgel. O relatório final da CPI do Cachoeira foi divulgado na madrugada de ontem. No documento, o petista Odair Cunha pede que o Conselho Nacional do Ministério Público investigue a atuação de Gurgel por não ter dado prosseguimento às investigações da Operação Vegas, da Polícia Federal.

Em 2009, o Ministério Público Federal (MPF) em Goiás encaminhou a Gurgel os autos da operação policial porque foi identificada a participação de pessoas com foro privilegiado, sendo uma delas o ex-senador Demóstenes Torres (sem partido). Como o procurador-geral não autorizou a continuidade das investigações, em 2010, a Polícia Federal deflagrou a Operação Monte Carlo, que resultou na prisão do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cacheira.

Gurgel reafirmou que a medida tomada à época foi estratégica e possibilitou a deflagração da Operação Monte Carlo. "Tenho ressaltado que tivemos uma opção estratégica de investigação que se comprovou bem-sucedida", frisou Gurgel. "Hoje, percebemos que, na operação subsequente (Monte Carlo), identificamos algo muito maior", acrescentou o procurador-geral.

Após receber hoje um relatório paralelo elaborado por membros da CPI insatisfeitos com o resultado das investigações, Gurgel disse que as retaliações são frequentes no cotidiano dos membros do Ministério Público.

"Tenho afirmado que é muito frequente na vida de quem é membro do Ministério Público as retaliações. Quando o Ministério Público atua, quando exerce a sua missão constitucional, com muito frequência, os inconformados com essa atuação promovem retaliações. É algo que todos nós do Ministério Público, procuradores, estamos habituados."

O procurador-geral disse ainda que só irá se manifestar oficialmente sobre o pedido de investigação contra ele quando o relatório da CPI for apresentado. A leitura do relatório final da comissão foi adiada para a próxima semana. "Ainda não tomei conhecimento, até porque a ultima notícia que tive foi que a leitura dele (do relatório), que formaliza a apresentação, ainda não tinha sido sequer iniciada. Continuo considerando que não há um documento oficial a comentar", ponderou.

Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.

Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.

Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.

Agência Brasil Agência Brasil
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