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CPI do Cachoeira

MPF-GO pede nova prisão de Carlinhos Cachoeira, solto na terça

22 nov 2012 - 13h53
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Mirelle Irene
Direto de Goiânia

O Ministério Público Federal (MPF) de Goiás pediu nova prisão do bicheiro Carlinhos Cachoeira com base em uma segunda denúncia contra ele e outras 16 pessoas, todos suspeitos de participar de uma intensificação de ações criminosas em Brasília. Após ficar preso por 265 dias, Cachoeira deixou a penitenciária da Papuda, em Brasília, na última terça-feira, após conseguir um alvará de soltura. O procurador da República Daniel de Resende Salgado, que agora aguarda a decisão da Justiça sobre o pedido, avaliou que a soltura de Cachoeira configura "potencial violação da ordem pública".

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Além do pedido contra Cachoeira, o MPF quer a prisão de outros cinco suspeitos: Lenine Araújo, José Olímpio de Queiroga, Raimundo Washington Queiroga, Francisco Marcelo Queiroga e Arnaldo Rúbio. Os pedidos de prisão anunciados hoje fazem parte de uma denúncia do dia 14 de novembro, que constatou uma intensificação da atuação do grupo de Cachoeira em Brasília após a Operação Monte Carlo. A prisão do bicheiro não teria impactado em nada nas ações da quadrilha. "Não houve uma total desarticulação do grupo criminoso. Constatamos que o grupo tem um viés empresarial, funciona como uma empresa. Cada pessoa já sabia mais ou menos o que fazer", descreveu Resende. "Já havia autorização por parte daquele que a gente considera mentor da organização (Cachoeira) para a exploração da atividade criminosa em determinados pontos territoriais desde que passasse um percentual daquilo arrecadado para ele. Entendemos que ele tinha o domínio funcional da atividade", completou o procurador, que acredita que estes indícios justificam o novo pedido de prisão de Cachoeira apesar de não haver provas concretas de que ele esteve no comando.

Os suspeitos são acusados dos crimes de depósito e exploração de peças contrabandeadas para a construção de máquinas caça-níqueis. O procurador disse que acredita que os novos pedidos de prisão serão deferidos pela Justiça. "O juiz ainda não avaliou este nosso pedido, mas determinou como medida cautelar o recolhimento do passaporte, a proibição de se ausentar da comarca em que moram e efetivarem viagens ao exterior", detalhou o procurador. Cachoeira e os outros acusados devem entregar os documentos até o final da tarde de sexta-feira.

Ameaça

Daniel de Resende considera que a liberdade concedida a Carlinhos Cachoeira desde terça-feira preocupa o MPF. "Ele é o grande articulador do grupo criminoso organizado, uma pessoa com uma penetração muito forte e capacidade de articulação imensa. Para o MPF, há uma potencial violação da ordem pública no caso desta soltura do Carlos Augusto Ramos", avaliou.

Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.

Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.

Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.

O contraventor recebeu o alvará de soltura e deixou a penitenciária da Papuda
O contraventor recebeu o alvará de soltura e deixou a penitenciária da Papuda
Foto: Paulinho Di Rousseff / Futura Press
Fonte: Especial para Terra
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