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CPI do Cachoeira

Fuga é hipótese 'absurda', diz sobrinho de Cachoeira

21 nov 2012 - 15h07
(atualizado às 15h27)
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Mirelle Irene
Direto de Goiânia

No primeiro dia de liberdade após 9 meses preso, Carlinhos Cachoeira tem dividido o tempo entre ficar com a família e conversas com advogados. Quem descreve é o vereador de Anápolis Fernando Cunha (PSDB), 31 anos, sobrinho do bicheiro. "Ele não via os filhos há muitos meses, e está aproveitando o momento", disse. Filho de uma irmã de Cachoeira, Cunha só se mostra irritado quando fala sobre ilações de críticos de Cachoeira de que, agora livre, poderia fugir do País para evitar novas condenações. "Isso não existe, é um absurdo alguém cogitar isso."

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Sobre a sentença de condenação e as estratégias de Cachoeira para revertê-la, Fernando diz que este é um assunto para os advogados falarem, mas acredita que as provas contra o tio são fracas. "São gravações sem contexto. Para nós da família interessa apenas aproveitar este momento de mais tranquilidade, com ele de volta a nosso convívio", resume.

Fernando garante também que, apesar de felizes, os familiares do contraventor não pensam em dar festas para comemorar a liberdade dele. "Não tem clima para isso. Minha avó (dona Maria José, mãe de Cachoeira) morreu este ano, meu avô (Sebastião, o pai) está doente. Isso é conversa de quem não tem o que fazer", assegura.

O vereador Fernando Cunha disse que a família e o próprio Cachoeira não ignoram que muitos que se diziam amigos do bicheiro - políticos, inclusive - desapareceram quando o escândalo da Operação Monte Carlo estourou. "O lado bom é que agora a gente sabe quem é quem de verdade", resume.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.

Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.

Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.

 O contraventor recebeu o alvará de soltura e deixou a penitenciária da Papuda
O contraventor recebeu o alvará de soltura e deixou a penitenciária da Papuda
Foto: Paulinho Di Rousseff / Futura Press
Fonte: Especial para Terra
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