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CPI do Cachoeira

Sem acordo, leitura do relatório da CPI do Cachoeira fica para 5ª

21 nov 2012 - 14h01
(atualizado às 23h31)
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Luciana Cobucci
Direto de Brasília

Após embates entre parlamentares da oposição e da base aliada, a leitura do relatório final que condensa as conclusões da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigou as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com agentes públicos e privados ficou para esta quinta-feira. A previsão era de que o parecer, que tem mais de 5,3 mil páginas, fosse lido ontem, mas a apresentação do relatório só foi feita na manhã desta quarta.

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O relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), recomendou ao Ministério Público o indiciamento de 45 pessoas ligadas a Cachoeira, mais o próprio contraventor, além do aprofundamento da investigação para outros suspeitos de integrarem o esquema do bicheiro. Entre os acusados, estão o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e o irmão dele, a noiva de Cachoeira, Andressa Mendonça, a ex-mulher dele, Andréa Aprígio, parlamentares, assessores do bicheiro e jornalistas.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, também foi citado na investigação. Cunha recomendou que o Conselho Nacional do Ministério Público investigue a conduta de Gurgel quando, em 2009, o procurador teve conhecimento da operação Vegas, que já investigava as ramificações do esquema de Cachoeira.

"Estamos analisando a conduta não do MP, mas no caso específico da Operação Vegas houve omissão do procurador em não encaminhar nenhum despacho, nenhuma diligência em relação à ação da Operação Vegas. A ação controlada que ele diz que pode ter feito significou inação. Ele precisa despachar de maneira fundamentada, ele não pode não fazer nada. Se ele provar à CPI que fez alguma coisa, aí podemos mudar a orientação", disse o deputado.

O relatório final inocentou o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e sequer citou o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), ambos da base aliada ao governo. Perguntado se o parecer com os indiciamentos seria uma represália ao mensalão (já que Perillo teria avisado ao ex-presidente Lula sobre o esquema de compra de votos em seu governo), Cunha afastou a hipótese.

Independentes

Um grupo de parlamentares da oposição, apelidado de "independentes", vai entregar um relatório paralelo à Procuradoria-Geral da República (PGR) hoje à tarde. Segundo os dissidentes, haverá o pedido de quebra dos sigilos das 116 empresas laranjas identificadas pelos inquéritos das operações Vegas e Monte Carlo, além da Delta.

Segundo o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), os parlamentares também vão tentar prorrogar mais uma vez os trabalhos da CPI e ouvir novamente o bicheiro Carlinhos Cachoeira. "Sabemos que há um jogo de cartas marcadas, mas é nosso dever tentar", afirmou.

Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.

Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.

Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.

Fonte: Terra
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