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CPI do Cachoeira

Pagot diz que Cachoeira patrocinou reportagem para o derrubar

28 ago 2012 - 12h21
(atualizado às 14h09)
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Gustavo Azevedo
Direto de Brasília

O ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antônio Pagot afirmou na manhã desta terça-feira, em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira, que não conhecia o contraventor e que foi surpreendido pelo fato de o bicheiro ter sido um dos possíveis autores de sua exoneração da autarquia. Disse ainda que Carlinhos Cachoeira patrocinou uma reportagem para lhe derrubar e que recebeu um pedido do ex-senador Demóstenes Torres para beneficiar a construtora Delta.

"Deixei a autarquia sem ter medo do passado", afirma Pagot:

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"Eu fiquei extremamente estarrecido, primeiro com o afastamento e depois com a exoneração. Foi um episódio amargo na minha vida. Me sentia um morto vivo, um fantasma. Quando começa a me reestabelecer, tive essa brutal notícia, que um contraventor e um agente de uma empresa, seriam os responsáveis pela reportagem que gerou o afastamento e posteriormente a exoneração", afirmou Pagot.

Perguntado pelo relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), o ex-diretor do Dnit afirmou que essa pressão teria sido gerada por sua postura contra a construtora Delta, beneficiada pela organização de Carlinhos Cachoeira. "Era pela atuação que vinha tendo ao Dnit, não dava vida boa a nenhuma empreiteira e prestador de serviço. Era muito exigente. Penso que por isso eles patrocinaram essa matéria jornalística para me tirar do Dnit", destacou.

Pagot saiu do governo em julho do ano passado, desgastado após a crise no Ministério dos Transportes, alvo de denúncias de irregularidades e que gerou a crise entre a presidente Dilma e o Partido da República (PR). A reportagem da revista Veja, do início de julho, foi o estopim e apontava que integrantes do PR haviam montado um esquema de superfaturamento de obras e recebimento de propina por meio de empreiteiras dentro do ministério.

O ex-diretor, que comandava o principal braço operacional dos Transportes, voltou à cena neste ano após vir à tona o escândalo das relações escusas de Carlinhos Cachoeira. Ele fez as mesmas denúncias relatadas à CPI para a imprensa. A situação chegou a ser flagrada por gravações da Polícia Federal em que Cachoeira diz ao então representante da Delta no Centro-Oeste, Claudio Abreu, que "plantou" as informações contra Pagot na imprensa. "Enfiei tudo no r... do Pagot", falou na ligação telefônica gravada.

No início do depoimento, Pagot relatou aos parlamentares o seu currículo como gestor no Paraná, secretário do governo Blairo Maggi (PR) em Mato Grosso e como diretor do Dnit, elogiando-se como "homem que faz", "o verdadeiro pau para toda obra" e "tocador de obras".

"Juntos, funcionários e diretores, fomos responsáveis pela melhor performance de autarquia no PAC, superamos 1,1 mil contratos de obras e serviços, chegando a pagar mais de um bilhão por mês. Chegamos aos melhores índices rodoviários", destacou Pagot, que hoje trabalha na Companhia Norte de Navegação e Portos, Ciaport, empresa que atua na construção de portos no Pará e no Amapá.

O pedido de Demóstenes

Pagot revelou que o senador cassado Demóstenes Torres lhe fez um pedido para beneficiar a Delta. Segundo ele, o ex-parlamentar pediu para ajudá-lo a conseguir obras para a empresa no Estado do Mato Grosso, durante um jantar em que estava o ex-presidente da Delta, Fernando Cavendish, e o representante da construtora no Centro-Oeste, Claudio Abreu. O ex-diretor do Dnit afirmou que Demóstenes, após o jantar, falou reservadamente com ele, e confidenciou que tinha dívidas de campanha com a empreiteira. "Preciso ter alguma obra com meu carimbo, ele disse. Eu falei que lamentava, não podia atendê-lo. Não tinha como o diretor do Dnit ir para o mercado e dizer: reservem uma obra para a Delta", declarou Pagot à CPI.

Demóstenes teria solicitado que as obras das BRs 242 e 080 no Mato Grosso, ainda em projeto, fossem concedidas à Delta.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.

Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.

Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.

Fonte: Terra
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