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CPI do Cachoeira

Após amizade com réu vir à tona, juiz recusa julgar caso Cachoeira

19 jun 2012 - 17h47
(atualizado às 17h56)
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A Justiça Federal de Goiás anunciou nesta terça-feira que o juiz Leão Aparecido Alves recusou julgar a ação penal da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que desarticulou o grupo de Carlinhos Cachoeira e prendeu o bicheiro, em fevereiro deste ano. O motivo alegado para a recusa é de "foro íntimo", de acordo com a Justiça.

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Foto: Pedro França / Agência Senado

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Segundo informações do jornal Folha de S. Paulo, o magistrado é amigo da família de José Olímpio Queiroga Neto, acusado de comandar a exploração de jogos ilegais no entorno do Distrito Federal. Queiroga Neto foi preso na operação Monte Carlo e foi libertado na semana passada.

De acordo com o jornal, o acusado foi padrinho de casamento de Leão, quando o juiz atuava como advogado em Brasília. "Eu acho que o doutor Leão não irá assumir o caso e irá se dar por impedido. Ele entra na lista dos impedimentos porque é amigo da família há 25 anos", disse o advogado de Queiroga Neto, Leonardo Gagno. Leão não atuou na Monte Carlo porque havia sido convocado para atuar no próprio Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF1).

A ação penal está, agora, sem juiz. O magistrado responsável pelo caso, Paulo Moreira Lima, pediu afastamento da 11ª Vara Federal em Goiás porque está, segundo ele, sofrendo ameaças de pessoas ligadas ao grupo de Cachoeira.

Segundo Moreira Lima, desde que assumiu a Operação Monte Carlo, ele foi informado de que poderia ser alvo de atentados e que estaria obrigado a se submeter a um rígido esquema de segurança, pois sua vida correria perigo. Em um dos episódios citados pelo juiz, policiais procuraram parentes dele para falar sobre a Operação Monte Carlo, "em nítida ameaça velada, visto que mostraram que sabem quem são meus familiares e onde moram".

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

Fonte: Terra
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