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CPI do Cachoeira

GO: com afastamento de juiz, ação contra Cachoeira fica suspensa

19 jun 2012 - 17h31
(atualizado às 17h40)
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A ação penal que apura um suposto esquema criminoso comandado pelo bicheiro goiano Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, está sem juiz. O magistrado responsável pelo caso, Paulo Moreira Lima, pediu afastamento da 11ª Vara Federal em Goiás porque está, segundo ele, sofrendo ameaças de pessoas ligadas ao grupo de Cachoeira.

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Com a saída de Moreira Lima, o caso deveria ser encaminhado ao titular da vara, juiz Leão Aparecido Alvez. No entanto, ele é suspeito de ter ligação com um dos investigados. Nesta terça-feira, a Corregedoria Nacional de Justiça divulgou que a Polícia Federal identificou um telefonema do número do magistrado para uma pessoa que integra a suposta quadrilha.

Segundo a corregedora nacional de Justiça Eliana Calmon, o juiz Leão Aparecido confirmou que a ligação foi feita, mas disse que, na época, o aparelho estava sendo usado pela mulher dele. "Se a interceptação telefônica indicar qualquer envolvimento de alguém íntimo do juiz Leão Aparecido, como sua esposa, com algum envolvido com a quadrilha, o juiz não poderá estar à frente das investigações", disse Calmon, que prometeu apurar os fatos mais detalhadamente.

No dia 13 de junho, o juiz Moreira Lima enviou um ofício ao corregedor do Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF1), Carlos Olavo, responsável pela correição judiciária na região Centro-Oeste. O magistrado lembrou sua trajetória na vara criminal, iniciada em 2009, ao longo da qual condenou vários criminosos que não fazem questão de esconder o descontentamento com o trabalho do juiz.

Segundo Moreira Lima, desde que assumiu a Operação Monte Carlo, ele foi informado de que poderia ser alvo de atentados e que estaria obrigado a se submeter a um rígido esquema de segurança, pois sua vida correria perigo. Em um dos episódios citados pelo juiz, policiais procuraram parentes dele para falar sobre a Operação Monte Carlo, "em nítida ameaça velada, visto que mostraram que sabem quem são meus familiares e onde moram".

Ontem, o TRF1 divulgou que o juiz deixará a 11ª Vara para cobrir férias de outro magistrado. No entanto, a assessoria de Moreira Lima confirmou que ele deixou a vara por motivos pessoais e que não retornaria mais ao posto.

Para o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Ayres Britto, as ameaças ao juiz Moreira Lima são um caso de gravidade qualificada. "Diante da gravidade dos fatos, a corregedora nacional de Justiça, a conselheira Eliana Calmon, está à frente da apuração dos fatos". Qualquer que seja o resultado das apurações, o andamento do processo ficará prejudicado com a saída do magistrado.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

Agência Brasil Agência Brasil
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