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CPI do Cachoeira

Agnelo diz que autoriza quebra de sigilos e é aplaudido em CPI

13 jun 2012 - 11h52
(atualizado às 15h03)
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Elaine Lina
Direto de Brasília

Ao finalizar a primeira parte de seu depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista que investiga as relações do contraventor Carlinhos Cachoeira com agentes do governo, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), garantiu que permitiria a quebra de seus sigilosos bancário, fiscal e telefônico durante as investigações. "Quem não deve, não teme", disse ele, que foi aplaudido por parte dos parlamentares que participavam da sessão.

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A reação ocorreu como contraponto ao visto na sessão de ontem, quando o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), também envolvido em suspeitas de manter relação com Carlinhos Cachoeira, foi questionado pelo o relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), se ele abriria seu sigilo bancário do ano 2011. O questionamento gerou um bate-boca quando o deputado Carlos Sampaio (PSDB) acusou Cunha de apresentar requerimento, necessário para a quebra, "disfarçado de pergunta".

Com a declaração de Agnelo, o deputado federal Candido Vaccarezza (PT) disse que o "governador mostrou que não tem nada a esconder". No entanto, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) ressaltou que para que a quebra de sigilos ocorra de fato um termo deve ser assinado. "Ele tem que assinar, não basta a vontade dele. Vamos providenciar um termo por escrito até o final da sessão."

A autorização verbal foi concedida após o governador ter mencionado que está sendo acusado de enriquecimento ilícito. Um dos principais questionamentos está relacionado à mansão que Agnelo e sua esposa adquiriram em 2007. "Meu patrimônio hoje é bem modesto para um médico com mais de 30 anos de trabalho", disse.

Rebatendo as investigações da Polícia Federal, o governador garantiu que as denúncias, de que teria facilitado contratos com a Delta, empreiteira que teria ligações com o bicheiro, Agnelo disse que tudo faz parte "de um jogo político" orquestrados para atingi-lo. Ele garantiu que a empreiteira mantinha um único contrato com o governo, firmado antes mesmo de ter assumido, para o serviço de recolhimento de lixo. Ao negar qualquer irregularidade ou favorecimento à empresa, Agnelo sugeriu a ocorrência de "uma avalanche de informações erradas".

"O grupo aqui investigado, a organização aqui investigada, tramou a minha derrubada", declarou. "Valeu-se de falsas acusações plantadas na imprensa, valeu-se de pessoas que passaram a divulgar mentiras e falsas verdades com o objetivo de me desestabilizar e me tirar do governo do Distrito Federal", completou Agnelo.

Sobre as denúncias de favorecimento à empresa Delta em contratos de recolhimento de lixo em Brasília e região, Agnelo disse que a empresa entrou no DF a partir de uma licitação de 2007, apresentando um preço 30% mais baixo do que as concorrentes. O governador desafiou qualquer pessoa a citar o nome de indicações políticas feitas por seu governo para favorecer a Delta.

Ele apresentou medidas tomadas pelo seu governo, no fim do ano passado, como a fiscalização da pesagem do lixo, antes mesmo da divulgação das operações deflagradas pela PF. Essas medidas teriam representado uma economia de mais de R$ 1 milhão aos cofres do DF. "Vinte e seis dias após tomar posse, determinei uma profunda auditoria em todos os contratos firmados por gestões anteriores", disse ele.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

Com informações da Agência Câmara.

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Fonte: Terra
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