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CPI do Cachoeira

Vice da CPI: Perillo terá que explicar 2 pagamentos por casa de luxo

5 jun 2012 - 18h37
(atualizado às 23h41)
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O depoimento do empresário Walter Paulo Santiago nesta terça-feira à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira pode ser um complicador para o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), na avaliação do presidente em exercício da comissão, deputado Paulo Teixeira (PT-SP). De acordo com o parlamentar, o empresário deixou a impressão de existir uma "relação muito próxima" entre o bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e o governador.

O empresário Walter Paulo Santiago prestou depoimento na manhã desta terça-feira na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Cachoeira
O empresário Walter Paulo Santiago prestou depoimento na manhã desta terça-feira na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Cachoeira
Foto: Agência Brasil

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"O que mostra é que todos esses entes (Santiago, Cachoeira e Perillo) estão muito ligados. O depoimento dele (Santiago) deixou uma situação muito complicada para o governador responder", disse o presidente após a reunião. Perilllo tem depoimento marcado na comissão na próxima terça-feira.

A investigação sobre a venda de uma casa do governador para Cachoeira é o fio da meada para que a comissão possa chegar a uma conclusão sobre o envolvimento de Perillo com o bicheiro, preso sob a acusação de liderar uma organização criminosa envolvendo políticos e empresários.

Apontado pela Polícia Federal como "laranja" de Cachoeira, o empresário Walter Paulo Santiago informou que pagou R$ 1,4 milhão pela casa do governador. Esse pagamento, de acordo com Santiago, foi feito em dinheiro. A informação contrasta com a anteriormente prestada por Perillo e por seu assessor Wladimir Garcez, que disseram que o pagamento foi feito em cheques. "Parece que temos dois pagamentos pela mesma casa. Isso o governador terá que explicar", afirmou Paulo Teixeira.

A atuação de Santiago no negócio ocorreu em nome da empresa Mestra, da qual ele se apresentou como administrador. O empresário disse aos membros da CPI que a Mestra existia apenas para fins de "fazer negócios". A empresa, constituída em 2006, é a proprietária legal da casa, na qual Carlinhos Cachoeira foi preso no dia 29 de fevereiro.

O capital declarado da Mestra, de acordo com Santiago, é de R$ 20 mil. A empresa, segundo ele, serviu apenas para dois negócios: a compra de um terreno, no valor de R$ 120 mil, e para a compra da casa do governador.

Mesmo sendo adquirida pela Mestra, o verdadeiro morador era Cachoeira, que teria arcado inclusive com o pagamento das dívidas de impostos da residência. Durante o depoimento, Santiago disse que não sabia que Cachoeira arcava com as despesas do imóvel, apesar de ser ele o morador.

Ao ser informado disso pelos senadores, Santiago disse: "Se ele pagou, eu não sei, mas se ele pagou, foi pouco, porque ele morou lá sete meses. Então, se ele pagou o IPTU, foi pouco. Eu deveria cobrar dele o aluguel. Ele deveria deixar pago também o condomínio".

Outro ponto obscuro do depoimento, na opinião de Paulo Teixeira, foi referente à compra de títulos do Jockey Club de Goiânia. Santiago não deu detalhes suficientes para que os deputados e senadores entendessem a negociação. O clube manteve um contrato de comodato com a Faculdade Padrão, empresa de Santiago, o que desagradou a alguns sócios.

A suspeita é que, diante do incômodo, Cachoeira teria comprado o título de muitos sócios para impedir o fim do contrato. Na opinião dos deputados, o esclarecimento dessa compra poderá contribuir para caracterizar a ligação de Cachoeira com a faculdade.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

Agência Brasil Agência Brasil
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