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CPI do Cachoeira

Colaborador de Cachoeira: 'minha relação com políticos é imensa'

24 mai 2012 - 10h25
(atualizado às 15h12)
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Elaine Lina
Direto de Brasília

Preso sob acusação de ser um dos principais articuladores da organização criminosa de Carlinhos Cachoeira, o ex-vereador Wladimir Garcez presta depoimento nesta quinta-feira a parlamentares da CPI do Cachoeira. Ele quebrou o silêncio e enfatizou seus contatos com agentes públicos: "Se eu fosse relacionar aqui o nível de relação que tenho com políticos não terminaria nunca, porque são inúmeros. É imenso", declarou.

Contraventor Carlinhos Cachoeira chega, escoltado, ao Senado Federal para depoimento à CPI
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Foto: Beto Barata / Agência Estado

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Wladimir, que negou por diversas vezes ter cometido crimes, disse ser amigo de políticos. Citou o nome do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), mas ressaltou que à frente da Delta manteve contatos apenas institucionais e nunca entregou dinheiro ao tucano. O ex-vereador também desqualificou as escutas telefônicas e garantiu que parte delas foram adulteradas. "Partes das gravações são montadas, com alteração de fatos e datas, montagens", disse desqualificando as evidências.

O ex-vereador confirmou que era contratado pela empresa Delta Construção, suspeita de ligação com a organização investigada. Ele disse que trabalhava como assessor do então diretor regional da empresa no Centro-Oeste, Cláudio Abreu. Por esse trabalho, o ex-vereador recebia R$ 20 mil.

Wladimir também disse que recebia mensalmente de Carlinhos Cachoeira R$ 5 mil para assessorá-lo em sua empresa de medicamentos. O interesse tanto da Delta quanto do empresário Carlinhos Cachoeira no trabalho do ex-vereador, segundo seu depoimento, ocorreu pela proximidade que ele tinha ou aparentava ter com autoridades políticas em todas as esferas. Essas relações, segundo ele, foram construídas durante o tempo que foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Goiânia. "Para me 'cacifar' eu demonstrava ter mais poder, mais força", contou o vereador.

Outros dois acusados de operar as principais ações da quadrilha do bicheiro, Jairo Martins e Idalberto Matias de Araújo (Dadá) adotarão a mesma tática de defesa de Cachoeira diante da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as ligações do grupo. O advogado deles, Leonardo Gagno, disse nesta quinta-feira que a dupla não responderá pergunta alguma dos parlamentares.

"Nem Dadá nem Jairo vão falar em momento algum. Eles vão permanecer calados, mesmo depois de encerrados os depoimentos na Justiça. Vocês não vão encontrar prova alguma de pagamentos feitos por eles. Eles nunca fizeram isso", argumentou o advogado. Ainda de acordo com ele, seus clientes estão abatidos e sofridos. "O Dadá, há 90 dias presos, sofre muito", disse.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

Com informações da Agência Brasil

Fonte: Terra
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