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CPI do Cachoeira

Depoimento mais esperado, Cachoeira pode ficar calado em CPI

22 mai 2012 - 06h02
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Uma escolta armada envolvendo policias federais e agentes penitenciários levará o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, nesta terça-feira ao Congresso Nacional. O homem que dá nome à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista será ouvido no Senado às 14h, na sala 2 da Ala Nilo Coelho. O depoimento mais esperado, contudo, pode não revelar nada.

Cachoeira será levado por uma viatura da Polícia Federal ao Congresso
Cachoeira será levado por uma viatura da Polícia Federal ao Congresso
Foto: Arte / Terra

CPIs: as investigações que fizeram história

Cachoeira, o bicheiro que abalou o Brasil

O depoimento estava inicialmente marcado para o dia 15, mas foi adiado por decisão liminar do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF). A defesa de Cachoeira foi à Suprema Corte para impedir que seu cliente depusesse, alegando que não conhecia o teor da investigação sigilosa. Após a decisão do ministro, a CPI liberou os dados para os advogados de Cachoeira. Márcio Thomaz Bastos, que defende o contraventor, já avisou que seu cliente ficaria em silêncio caso a defesa não tivesse acesso integral aos documentos em poder da CPI.

Na última sexta-feira, Bastos pediu que Celso de Mello mantivesse a liminar até que a defesa tenha total conhecimento das informações, mas a solicitação foi negada. A defesa afirmou que precisaria de três semanas para analisar as 15 mil páginas e cerca de 90 mil áudios da investigação e reclamou que há inconsistência de dados entre os 10 computadores que foram colocados na sala-cofre da comissão para consulta aos documentos.

Uma viatura da Polícia Federal fará o transporte do bicheiro do Complexo Penitenciário da Papuda até o Congresso, uma distância de pouco mais de 20 km. O trajeto, porém, não foi divulgado por questões de segurança, assim como o aparato policial que será usado na operação. Ela será executada pelo Departamento Penitenciário Nacional, órgão do Ministério da Justiça. Quando chegar às dependências do Senado, a Polícia Legislativa dará sequência à escolta.

Cachoeira está preso na Papuda desde o dia 18 de abril, quando foi transferido do presídio de segurança máxima de Mossoró, no Rio Grande do Norte.

Na quinta-feira, a comissão ouve seis pessoas, entre eles o sargento da Aeronáutica Idalberto Matias de Araújo, conhecido como Dadá, que seria espião do grupo de Cachoeira. Também depõem Lenine Araújo de Souza, apontado como gerente do jogo do bicho e responsável pela contabilidade; Jairo Martins de Souza, também apontado como espião; José Olímpio de Queiroga Neto, que seria gerente da organização no entorno do DF e um dos responsáveis pelo pagamento de propina; Gleyb Ferreira da Cruz, apontado como laranja dos negócios de Cachoeira; e Wladimir Henrique Garce, ex-vereador que facilitaria os contatos do grupo com agentes públicos.

Os depoimentos à CPI começaram dia 8, com o delegado da Polícia Federal Raul Alexandre Marques de Souza, que confirmou o envolvimento de parlamentares com a organização criminosa comandada por Cachoeira.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.

Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.

Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas.

Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.

Fonte: Terra
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